Desempenho de Damares Alves na disputa pelo Senado foi bem superior ao previsto pelas pesquisas.| Foto: Alan Santos/PR.
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A indecisão na eleição presidencial desse domingo frustrou os dois lados que agora vão para o segundo turno. O lado de Lula, porque acreditou nas pesquisas que traziam esperança de vitória no primeiro turno. O lado de Bolsonaro, que acreditou nas ruas e no mar verde-e-amarelo que apontava para uma decisão no primeiro turno. Assim como as ruas deixaram Bolsonaro com ilusão de vitória no dia 2, as pesquisas enganaram Lula deixando-o confiante numa campanha em que se absteve do cansaço das ruas.

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As pesquisas reincidiram em erros graves como os que foram registrados na eleição de 2018. Em nove empresas de pesquisas, nenhuma previa Bolsonaro com 43 pontos. Variavam entre 31% e 39%. Apontavam Lula como vencedor em primeiro turno. Um certo “agregador de pesquisas” do Estadão cravou 51% a 36% com a vitória de Lula. Em São Paulo, maior eleitorado, as pesquisas deram pouca importância a Tarcísio e ao astronauta. Marcos Pontes elegeu-se senador com mais de 50% dos votos e Tarcísio liderou o primeiro turno. Em Brasília, as pesquisas foram surpreendidas com Damares; acertaram no governador, mas erraram a classificação dos demais.

Deputados e senadores eleitos estão se mobilizando em busca de uma CPI das Pesquisas, para apurar se elas tentam manipular o eleitor, fazendo-o crer num resultado que possa influenciar na decisão do voto. Sempre achei complicado tirar conclusões com uma microamostra do eleitorado, que não é homogêneo. Com o sangue humano, o laboratório pode tirar conclusões com uma gota, mas com o cérebro emotivo do eleitor, é difícil até pegando uma amostra de 1%, que seriam 1,56 milhão de entrevistados – mas entrevistam de 2 mil a 7 mil eleitores. Amostragem de milésimos; ponha-se ciência nisso... um eleitor escolhido para representar 78 mil? Acompanho eleições por 62 anos e nunca vi tanta pesquisa como agora. Noticia-se mais sobre pesquisa do que sobre os candidatos e suas intenções. Impuseram ao eleitor uma enxurrada de pesquisas, como se fossem eleições diárias.

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Quem acreditou em pesquisa ficou com a impressão de que o presidente se fortaleceu, como mostraram as manchetes do day after; quem acreditou nas multidões das ruas ficou desconfiado dos resultados. Tudo porque apareceu essa abstração que ofereceu a visão de uma bola de cristal diária para antecipar o resultado da noite desse domingo. Com que objetivo? Nesta eleição presidencial, podem pensar que as pesquisas tenham querido entregar ao eleitor um fato consumado, mas a consequência nos candidatos foi relaxar os músculos de Lula e manter em atividade Bolsonaro, a ponto de já ter feito maioria amigável na Câmara e no Senado. O excesso de pesquisas e de empresas de pesquisa revelou uma atividade rentável, que encontra quem compre e encontra quem acredite, mas entrou na campanha eleitoral com efeitos de agência de propaganda.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]