Domingo é dia de eleição municipal. Teoricamente, é a eleição mais importante de uma república federativa, porque o município é a célula da nação, onde as pessoas trabalham, se divertem, comem, dormem – e votam nos seus representantes mais próximos, prefeito e vereadores. Eu escrevi teoricamente porque, na prática, somos uma república unitária, concentrando tudo na União quando, ao contrário, deveria estar tudo nos 5.569 municípios. Imagine um corpo que só tenha coração forte, mas sejam fracos seus membros e células. Pois bem, a pergunta é: estamos preparados para receber, sem dúvidas, os resultados do próximo domingo? Estamos nós seguros de que o que será anunciado pela contagem oficial refletirá a verdade, a realidade dos votos que foram digitados? Ou restarão dúvidas, como restaram nas eleições anteriores? O fato é que não se entende como é a apuração, que deveria ser transparente, como indica o artigo 37 da Constituição.
Há pouco tivemos uma demonstração clara de um sistema mais claro que o nosso, na Venezuela. Não foi possível Nicolás Maduro convencer pessoas e países de que ganhara a eleição, pois o sistema tem fácil consulta digital. Tudo indica que Maduro mandou interromper a contagem quando percebeu que perdia por larga margem, mas o fez tardiamente, já com a apuração em eloquentes 83,5%. Um episódio inesperado aconteceu na tevê de maior audiência, a Globovisión, quando o entrevistado deu um exemplo de transparência, pedindo o número do título de eleitor do apresentador. Consultou o celular, confirmou a seção eleitoral e disse que, onde seu entrevistador votara, Maduro teve 94 votos e Edmundo González, 394. Ali, na hora, ao vivo, sem chance de cortar.
Estamos preparados para receber, sem dúvidas, os resultados do próximo domingo?
Aqui, vamos para as urnas mesmo sem comprovante físico dos mistérios digitais. E vamos, aos trambolhões. A falta disso gerou o 8 de janeiro. Os paulistanos, que vão para uma eleição cuja campanha destoa da importância de São Paulo, têm na bandeira um dístico em latim que diz: Não sou conduzido, mas conduzo. Fico me perguntando o quanto permitimos que nos conduzam. Será por conforto, porque não queremos nos incomodar? Ou por medo de um arbítrio censor que contraria sem pejo a Constituição? Em 1932, os paulistas deram sangue para exigir que Vargas aceitasse uma Constituição. Ele aceitou, mas depois impôs o Estado Novo, repetindo o que fizera Salazar em Portugal. E fomos, aos trambolhões, até 1946.
Agora temos a ágora digital, que deu mais voz a cada um; mas também a usamos como um desabafo: postamos, nos aliviamos, e vamos em frente. Perigoso manter suspenso o X, porque pode acumular pressões. Há 14 anos, Lula, Dilma, Edison Lobão e a governadora Roseane Sarney estiveram em Bacabeira, Maranhão, anunciando com festa e ufanismo a refinaria Premium, da Petrobras. Tiraram quem estava sobre a área de 200 hectares e criaram a expectativa de 132 mil empregos e muita renda para o município. Não aconteceu nada. Na última eleição presidencial, Lula, da promessa não cumprida, recebeu 81% no segundo turno naquela cidade.
Quando a Lava Jato descobriu as propinas de empreiteiras para políticos e seus partidos, proibiram que pessoas jurídicas, isto é, empresas, doassem para partidos. Será que acreditavam que iria valer? Agora se noticia que o dono da Cosan, Rubens Ometo, que doou R$ 7,5 milhões na última campanha eleitoral, principalmente para Lula, agora dobrou a doação, com R$ 15,4 milhões para 160 candidatos e partidos; empreiteiras não podem, mas empreiteiros sim: Ricardo Gontijo, da Construtora Direcional, doou R$ 250 mil para o PSD; Antônio Setin, da incorporadora Setin, deu R$ 1 milhão para o partido de Kassab e Pacheco, noticiou o Metrópoles. Isso sem contar o dinheiro de nossos impostos que vai para o fundo eleitoral, ainda que não gostemos do partido agraciado. Tudo nos é empurrado goela abaixo. Todo poder emana do povo se o povo souber exercê-lo. Aprender a conduzir, para não ser conduzido.
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