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A notícia que me chegou agora me fez decidir o assunto desta semana. A empregada da vizinha, ao sair de casa para o trabalho, foi assaltada e assassinada, na periferia de Brasília. Com faca – vão ter de controlar também as facas. Deixa uma filha pequena, que a patroa já decidiu adotar. É a rotina, é a vizinhança do crime, da violência, da maldade, da falta de caráter, que nos cercam. Autores de uma nota da Associação de Juízes de Minas escreveram que a causa são as diferenças sociais. Como assim, se os pobres é que mais são assaltados e mortos? E se a pessoa vira criminoso porque é pobre, é extrema crueldade acusar pobre de criminoso porque é pobre, pois todos sabemos que é questão de caráter. Pobres são honestos e têm desvios; ricos são honestos e têm desvios. Há desvios entre juízes, advogados, jornalistas, empresários, médicos, policiais – e não é por ter mais ou menos posses; é por ter mais ou menos padrão de conduta. Para os que se desviam existe a punição da lei, para segregá-los dos demais e não apresentarem mais riscos às pessoas. Assaltante preso não assalta mais; assaltante solto continua roubando e matando.
O Equador passa pelo Brasil, geográfica e similarmente. Corta o Brasil no norte, e corta na semelhança de assaltos, corrupção, assassinatos, lavagens de dinheiro; nos fuzis do crime, nos desvios das estatais, nas vendas de sentenças, na advocacia administrativa, nas omissões, no fracasso das leis penais e dos seus agentes. Estamos com mais de 30 mil homicídios num ano; o Equador tem 9 mil. Em números absolutos, estamos numa triste liderança no mundo – entre os três países com mais homicídios. E o problema não é apenas de assassinatos, mas assaltos e corrupção. E uma legislação leniente que traz a mensagem de que o crime compensa. E combatemos o crime com declarações grandiloquentes de políticos, enquanto os criminosos inflam seus domínios.
No Equador, o crime se misturou com a política, a ponto de a chefe do Ministério Público afirmar que há uma narcopolítica. Por aqui também há disso, com a influência do crime nas eleições de prefeitos, vereadores, e congressistas. O litoral do Equador tem o domínio das facções; aqui há muitos “portos” clandestinos no litoral do Lago de Itaipu e na costa atlântica, sem contar com as estradas do contrabando na nossa fronteira seca oeste. No Rio há territórios liberados, santuários das milícias e das facções de drogas. Na Amazônia se expandiu nos últimos anos o tráfico e suas facções, com origens no exterior e no sul do país. E nós ficamos olhando. Como os cariocas, que foram se adaptando, se adequando, se aculturando, nessas últimas cinco décadas, quando o crime trocou o revólver pelo fuzil e pela .50. Hoje há mapas da Cidade Maravilhosa mostrando onde se pode e onde não se pode passear ou comprar.
No próximo dia 1.º um ex-ministro do Supremo, sem nenhuma experiência em segurança pública, vai assumir o ministério que não é só da Justiça, mas da Segurança Pública. O que poderá ele fazer, além da declaração de que vai combater o crime? Como a Colômbia passou nos anos 80 e o México nos anos 90, e o Equador agora, o Estado brasileiro apenas assiste ao crime tomando conta do país. Já tem territórios, tem presídios, tem políticos e até tem jornalistas – que detestam a polícia e adoram essas vítimas da sociedade, que são os bandidos.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos