Área de garimpo em terra indígena em Roraima.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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As grandes cidades brasileiras, em geral, não sabem o que se passa no grande Brasil, no Brasil maior do interior, daquele Brasil que surgiu depois de Brasília, que antes era um ermo e depois foi sendo conquistado pelos brasileiros. Eu queria falar de Jacareacanga (PA), porque as pessoas de lá me contam o que anda acontecendo. Quem estuda a história contemporânea brasileira sabe que, em 1956, houve uma rebelião da Força Aérea em Jacareacanga para impedir a posse de Juscelino Kubitschek. Não conseguiram, houve bombardeio e Juscelino anistiou a todos, trouxe a paz política.

Hoje, lá em Jacareacanga, ainda existem incursões aéreas das autoridades federais, que usam helicópteros para procurar garimpo em um território indígena, a terra Munduruku. Mas, de cada 100 garimpos, 40 são de indígenas. A Reuters esteve lá e relatou: as autoridades atacaram o garimpo, e os indígenas, brasileiros de etnia Munduruku, ouviram o barulho e fugiram. O helicóptero pousou, ainda havia panela quente sobre o fogão a gás; destruíram as bombas, os geradores, os motores, os filtros. Estavam tirando ouro de lá e vendendo, ganhando dinheiro com o ouro. Tem um Munduruku que descobriu, no ano passado, 50 gramas de ouro numa pepita. Aí eu me pergunto: vão fazer o quê? A matéria fala em “brancos”, mas são garimpeiros de todas as cores. Vão dizer que são garimpeiros “integrados” e o Munduruku não é integrado, mas por que ele não é integrado à sociedade brasileira?

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E tem pobreza lá... “Ah, tem caminhonete”, vão dizer; mas caminhonete é para uns 5%, a picape, a caminhonete passa, chama atenção, mas a pobreza está lá também. São pessoas que precisam de energia elétrica, das coisas da civilização, da modernidade, do progresso. Eles querem ter celular, parabólica, Starlink, querem poder comprar picape e querem saber: como é? E o ouro que está aqui?

A Constituição brasileira diz que o subsolo é do Brasil. E isso nos leva à mina de Pitinga, no Amazonas, e pessoas de lá também me contam o que há essa mina. São muitas terras raras, minerais preciosíssimos. Nióbio, urânio, estanho e tântalo. Meu interlocutor me disse que o que a China quer mesmo é o tântalo, que no mundo digital, eletrônico, é muito valioso. Dizem que, em termos de variedade de minerais, a mina de Pitinga, que os chineses compraram, é uma das melhores do mundo.

Na mina de Pitinga há urânio, e aí eu vejo uma exposição da indústria básica de defesa do Brasil, a necessidade de explorarmos energia nuclear não apenas para submarinos nucleares, mas também para fins científicos, médicos. Temos de criar cérebros e mantê-los aqui para que não aconteça como quando os norte-americanos levaram mais de mil cientistas alemães, junto com Wernher von Braun, para trabalhar para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Nenhum deles virou prisioneiro de guerra; Von Braun chegou de braço quebrado lá. O Brasil perde cérebros assim: aqueles que despontam aqui não encontram mercado, não encontram caminhos, não encontram apoio, não encontram um bom laboratório de pesquisa, e vão para os Estados Unidos. Vi que existe isso aqui, no Brasil, nessa base industrial de defesa, mas não temos uma cultura para estimular os cérebros. Pensamos muito pequeno. Subdesenvolvimento é algo muito pesado, e pega na cabeça.