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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Patrimonialismo

Dinheiro tem dono

Ministro Lula orçamento secreto Maranhão
Juscelino Filho, ministro das Comunicações: depois de uso de dinheiro do orçamento secreto para asfaltar acesso a fazenda, agora apareceu o uso de jatinho da FAB para ir a leilão de cavalos. (Foto: Edvaldo Rikelme/Câmara dos Deputados)

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Um ministro do governo Lula foi denunciado por asfaltar estrada no Maranhão, que dava acesso às suas propriedades, com dinheiro do orçamento da União. Nada aconteceu, porque fora em tempos de deputado federal, e não durante sua atuação como ministro das Comunicações. Nossa hipocrisia vigente estabelece barreira de calendário para o caráter das pessoas. Pois agora o Estadão mostrou que o ministro Juscelino Filho pegou um jatinho da FAB, por nossa conta, recebendo diárias, por nossa conta, e foi a São Paulo. Deu uma passadinha pela Claro, pela Telebras e pela Anatel, e foi a Boituva, para aplacar sua paixão pelos cavalos Quarto de Milha. Foi assistir ao “Oscar” da espécie e, de quebra, à inauguração de uma praça com o nome de um cavalo de seu sócio. Tudo por conta dos impostos que você paga todos os meses. Caráter confirmado.

Só para lembrar: uma nação se organiza como Estado, para que o Estado preste serviços públicos. O Estado cobra impostos para prestar esses serviços. Não se paga impostos para sustentar o Estado, mas para que o Estado preste bons serviços de justiça, segurança, saúde, educação, infraestrutura. O que o ministro e tantos outros fazem se chama “patrimonialismo”. Julgam esses servidores do público que são donos do Estado. Não são. São empregados do Estado, vale dizer, são servidores do povo, origem do poder. São escolhidos pelo povo, através do voto, e sustentados pelo povo, através dos impostos. Não é o povo que é seu servo. São eles os servidores. Quando o povo não sabe disso, é enganado e o poder se inverte. Eles ficam poderosos e o povo na servidão, para trabalhar, pagar impostos e continuar pedinte. Nada a ver com democracia.

Nesta quarta-feira, a gasolina e o álcool ficam mais caros. O governo alega que não pode deixar de cobrar quase R$ 29 bilhões a mais de quem abastece seus veículos. Uns serviçais da mídia insistem em dizer que isso é só para quem tem poder aquisitivo para ter um carro. Qualquer criancinha sabe, no entanto, que o preço do combustível afeta toda a cadeia econômica. Dispensa demonstração uma tal verdade evidente. Paguemos todos um pouco mais. Apenas R$ 29 bilhões de reais. Se for para prestar bons serviços públicos, dá para aceitar. Mas, se for para pagar diversões equestres de ministro, é injusto.

Os impostos são injustos quando mal empregados e mal usados. Mas são injustos também quando não há tratamento desigual para os desiguais. Um ganha R$ 20 mil e compra R$ 500 no supermercado; outro ganha R$ 2 mil e compra os mesmos produtos –  ambos pagam cerca de R$ 160 de impostos. Para quem ganha R$ 20 mil, isso é apenas 0,8% do salário; para quem ganha R$ 2 mil, é 8% de sua renda mensal. Se isso é impossível mudar, que parem de desfrutar de um Estado inchado, em que há uma cidadania de primeira classe, sustentada pela massa que é conduzida por uma mídia que leu o 1984, de George Orwell, e torce pelo Grande Irmão.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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