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Inundação no centro histórico de Porto Alegre.
Inundação no centro histórico de Porto Alegre.| Foto: EFE/André Borges

A tragédia no Rio Grande do Sul fez emergir no tempo um livro lançado em 2009: A Enchente de 41, da editora Libretos, com pesquisa e texto de Rafael Guimaraens. Ganhou importância e atualidade porque, sem as emoções de hoje, o documentário deixa o leitor cônscio dos motivos da catástrofe de agora. Afinal, é para isso que serve a história: que aprendamos com o passado a evitar a repetição de tragédias. Tudo muito parecido, com a diferença de que em 15 dias de maio de 1941 choveu 619,4 mm em Porto Alegre; hoje, em 27 dias de maio, choveu 513,6 mm.

Por que, então, as águas do Guaíba estiveram mais altas agora? Em 1941, 4,75 metros acima do nível; agora, 5,25 m – meio metro acima. A resposta está em todo lugar onde as águas já recuaram: muito mais de meio metro de lama, areia, detritos, sujeira e lixo, foram depositados nos rios desde 1941. O calado do Guaíba era de seis metros até recentemente, mas hoje é de quatro. Aqui em Brasília, antes da estação das chuvas, sempre limpo as calhas de minha casa, para tirar as folhas. Se não limpar, elas vão transbordar. Assim é com as calhas dos rios que não foram limpas. Ambientalistas conseguiram impedir as dragagens; as águas, em vez de saírem pelo leito dos rios, extravasaram por toda parte. 

Semelhança também nos incêndios: em 1941, foi consumida pelo fogo a fábrica Secco & Cia, na Júlio de Castilhos; domingo passado foi o prédio da Autoglass, no bairro Humaitá. O número de mortos por leptospirose foi cinco, numa Porto Alegre que tinha 272 mil habitantes; hoje, até agora, quatro foram levados pela doença. O governo federal ficou meio distante, embora a mídia procurasse mostrar que não. Getúlio Vargas enviou um telegrama ao interventor Cordeiro de Farias dizendo “o governo federal está pronto a colaborar”, mas concluía sem decisões: “Desejo que o prezado amigo continue a informar-me minuciosamente sobre as ocorrências. Cordiais saudações, Getúlio Vargas”. O Diário de Notícias traduziu isso com uma manchete: “Auxílio total ao Rio Grande”. 

No capítulo final, o livro relata as medidas de proteção a Porto Alegre. Diques de 68 quilômetros e um espesso muro de concreto com 2.647 metros de extensão, 3 metros de altura e 3 metros no solo, tudo construído entre 1971 e 1974, no governo Médici. O livro, que é de 2009, mostra que a esquerda quis derrubar o muro, porque era do tempo dos militares; os ambientalistas alegavam que “separava” Porto Alegre do Guaíba. A Câmara de Vereadores aprovou, em 1997, uma lei para derrubar o muro, “ante o clamor do movimento ecológico”. Em agosto de 1983, foi testado pela primeira vez. As águas subiam e tratou-se de fechar os oito portões/comportas de aço de acesso ao cais. Tudo emperrado. Fecharam com tratores e guindastes puxando os portões. Hoje os fatos mostram que ninguém aprendeu nada desde 1941, por 83 anos.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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