Em seu discurso de posse, Lula afirmou que não carrega ânimo de revanche. Logo em seguida se desmentiu. Não fez um único agradecimento pela herança bendita que recebeu nas contas públicas, pela inflação menor que Estados Unidos e Alemanha, pelo crescimento excepcional em anos difíceis, pelas reservas externas. Pelo enxugamento da máquina estatal obviamente não haveria agradecimento, porque o que acontece é um inchaço do Estado com 37 ministérios e o cancelamento de oito planos de privatizações. Desmente a ausência de ânimo de revanche a revogação de decretos do governo anterior e até a ameaça no discurso, que alguns poderiam interpretar como ameaça a si próprio: “Quem errou responderá por seus erros”. E um partido da aliança com Lula, o PSol, já entrou no Supremo pedindo a quebra de sigilo e prisão do ex-presidente.
O Lulinha paz e amor que lhe deu o primeiro mandato já morreu. Envelhecido, voltou zangado. Botou um ministro da Justiça que promete enquadrar todos os que não se comportarem. O cidadão, é claro, espera de um ministro que é também de Segurança Pública que nos dê segurança e tire as armas de guerra dos bandidos; que liberte territórios legalmente brasileiros, mas que estão emancipados da lei brasileira; que se manifeste prioritariamente contra males como drogas e corrupção. O senador eleito Sergio Moro, comentando o discurso de Lula perante o Congresso, estranhou que não tivesse sido mencionada a palavra “corrupção”; que o presidente pelo menos tivesse expressado que seu governo não toleraria corrupção. Mas não se fala em corda em casa de enforcado.
Lula continua a usar seu chavão de três refeições por dia. Graças ao mundo digital, a gente sabe que esse foi seu discurso na primeira posse. Agora acrescentou a picanha com cerveja. Talvez esse venha a ser um dos problemas que ele próprio cria ao gerar a esperança. Graças à propaganda disfarçada de notícia, o povo não se deu conta de que, após 14 anos de governo petista, continua pairando o chavão de três refeições por dia. A mesma notícia-propaganda mostra a biografia da catadora que pôs a faixa presidencial em Lula, e que tem 33 anos de idade. ou seja, quando começou o primeiro governo do PT, tinha 13 anos. Até os 27, viveu em governo petista. E não teve alternativa a não ser catar lixo. É verdade que não se livrou dos lixões nos governos Temer e Bolsonaro. O último presidente também criou esperanças, como as recentes, duramente frustradas e está pagando por isso. A diferença é que não se promoveram na demagogia.
Gratidão é um sinal de caráter. Faltou agradecer ao governo anterior pela herança bendita que recebeu. Ao contrário, Lula diz, no discurso, que recebe “terríveis ruínas”. Agora resta gastar para não frustrar esperanças. Por isso já se dispôs a acabar com “a estupidez do teto de gastos”. Sua ministra da Gestão acaba de confirmar isso. Teto de gastos só atrapalha quem quer gastar. Mas a consequência é que vai atrapalhar também o custo da inflação, dos juros e da dívida pública. É preciso que a origem do poder, o povo, saiba que Estado gasta, mas não produz os recursos. A fonte de pagamento é só uma: o povo – rico ou pobre.
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