O presidente Lula em entrevista a uma rádio de Belo Horizonte, em 28 de junho.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Desde que foi convencido a dar entrevistas todos os dias para ocupar lugar na mídia, o presidente Lula só se desgasta, com declarações no mínimo estranhas, como esta última, de que o MST não tira terra de ninguém; quem tira terra do agricultor são os bancos. Para quem teve apoio de banqueiros, a declaração só o faz perder apoio e dinheiro de campanha. Erros simples de avaliação, cometidos por quem sempre teve a fama de intuitivo, revelam um certo cansaço, neste ano e meio de terceiro mandato. Nesses últimos dias negou, chamou de “cretinos” os que registraram o fato de que, à medida que fala sobre contas públicas, juros e Banco Central, Lula faz o dólar disparar. Chegou até a imitar Bolsonaro na crítica ao Supremo: “A suprema corte não tem de se meter em tudo”.

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Aliás, o falar demais atribuído a Bolsonaro parece estar sendo superado por Lula, reclamando de mães que têm filhos demais, anunciando que não vai financiar os arrozeiros que saíram de secas para enchente recordista, e acusando o presidente do Banco Central de trabalhar para os banqueiros; mas sempre elogiando o MST, que, por sua vez, critica Lula por frustrar as expectativas dos sem-terra. Na polêmica da droga, lavou as mãos como Pilatos. Empurrou para a “ciência”, esquecendo que as famílias esperam a ação social e sanitária do Estado para evitar, tratar, reprimir e pegar o traficante – e diminuir a desgraça.

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Até hoje o país lembra do presidente Itamar Franco, que afastou o ministro Henrique Hargreaves até que ele demonstrasse inocência de uma suspeita, pois um ministro precisa estar acima de qualquer suspeita. Lula não considerou o bom exemplo e mantém o ministro Juscelino Filho, mesmo indiciado por corrupção pela Polícia Federal. O que esperar de quem encara um indiciamento por corrupção como algo com que pode conviver? Quando perde no Congresso e derrubam seus vetos, culpa as lideranças, os ministros e, agora, os jornalistas e, provavelmente, seus marqueteiros. Como no Rio Grande do Sul cheio d’água o discurso ficou esvaziado pela falta de ações efetivas, um gigantesco encontro do agro gaúcho está marcado para esta quinta-feira, para tentar despertar o governo federal.

Em política externa não é diferente. Está perto de Nicolás Maduro, de Cuba, de Daniel Ortega, do Irã, do Hamas, e longe de Israel, com quem temos contratos, e da Argentina, com quem temos vizinhança. Nos Estados Unidos, está cada vez mais palpável a volta de Donald Trump, e o Brasil poderá ficar só com os amigos de Lula, já meio distanciado de Gabriel Boric, do Chile, e sem afinidade com os presidentes do Paraguai e Uruguai. Javier Milei vai estar no fim de semana em Balneário Camboriú, com Jair Bolsonaro, e não vai estar com Lula na segunda-feira, na reunião do Mercosul em Assunção. Enfim, o presidente do Brasil fala mais que Joe Biden, mas o resultado é parecido.