O presidente Lula em meio a funcionários da Petrobras em evento da estatal.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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O marqueteiro Sidônio Palmeira pôs Lula no palanque; Lula converte o palanque em berlinda. Essa exposição dos últimos dias tem gerado mais críticas e ironias do que aplausos, que se limitam às plateias que têm composto os eventos da caravana. Começou na Bahia, quando imaginou que ensinava o povo a não comprar o que está mais caro, tal como faria o Conselheiro Acácio. Depois, em Brasília, onde reuniu quase 4 mil prefeitos, pediu voto, esquecendo a legislação eleitoral: “Quando terminar meu terceiro mandato, vocês vão pedir ‘Lulinha, fica’” – isso a 16 meses do início da campanha eleitoral. O evento prejudicou o trânsito de Brasília em dia útil, e pode ter tirado votos de quem pedia apoio aos melhores cabos eleitorais do país, que são os prefeitos.

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No Amapá, Lula – e não a oposição – pediu ao povo que apague nas redes sociais os políticos que mentem e dizem besteiras. Depois, estimulou os homens a irem para a cozinha, porque as mulheres estão trabalhando. E interrompeu o tema do petróleo na Margem Equatorial para contar que come ovo de ema e pata e vai comer de jabuti. Quem não consegue comer ovo de galinha deve ter ficado com água na boca. Só morando em palácio para desfrutar de ovos produzidos por semoventes do patrimônio público. Na Petrobras, criou a narrativa de que a Lava Jato enfraqueceu a estatal para que ela fosse privatizada. No mesmo dia, seu governo, através da Controladoria-Geral da União, abria mão de R$ 5,7 bilhões, descontados de acordos de leniência com seis empreiteiras. Corrupção confessa e devoluções milionárias de propinas por parte de dirigentes da Petrobras não foram consideradas por Lula.

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Será que Sidônio já não estaria arrependido? Será ideia dele a volta do chapéu adotado para esconder marcas da cirurgia no crânio? Fica estranho em ambiente fechado em que, por respeito, se descobre a cabeça. O panamá com o macacão vermelho da Petrobras forma uma mescla excêntrica – que pode combinar com as declarações da mesma natureza. A ideia de expor Lula não vai resolver a carestia, a falta de planejamento, a mediocridade no ministério. Aliás, a promessa de reforma ministerial antes do carnaval está afundando pelo afastamento de lideranças políticas que comandam partidos que apoiaram Lula em 2022, como Paulinho da Força, Gilberto Kassab e o pessoal da social-democracia. A pesquisa Datafolha – que mostra um despencar de aprovação no Nordeste, de 49% para 33%, e aprovação nacional de apenas 24%, com 41% de desaprovação – soa como um salve-se quem puder entre os partidos que garantem votos no Congresso e fora dele.

Até gente do PT está se queixando. Não conseguem acesso a Lula, porque Janja o protege dos problemas. Alguns perguntam o que mudou em Lula. Talvez nada tenha mudado. Talvez por isso. O mundo mudou, o Brasil mudou, o mundo digital é outro, torna as pessoas mais informadas numa diversidade de notícias – já não as escolhidas por um cartel – e dá voz a todos. Lula não percebeu, e continua contando as histórias em que o povo acreditava. Está convicto de que não há memória do mensalão e da Lava Jato, quando expõe narrativas como a da Petrobras. Está certo de que o povo não tem memória. E tem bons motivos para isso; afinal, em 2022, mais de 60 milhões de brasileiros votaram nele, segundo o TSE.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]