Lula e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante encontro entre eles na Cúpula da Celac, em março deste ano, em São Vicente e Granadinas.| Foto: Bienvenido Velasco/EFE
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Para manter-se fiel aos objetivos do Foro de São Paulo, de apoio às forças esquerdistas da América Latina, Lula constrange o Itamaraty e o Brasil ao não acompanhar a reação de 11 governos democratas do continente “rechaçando categoricamente” a certificação, pelo Supremo venezuelano, da vitória de Nicolás Maduro, com proibição de mostrar as atas do Conselho Nacional Eleitoral, “de forma inapelável”. Em outras palavras, num jogo em que Maduro perdeu, o juiz pegou a bola e decretou a vitória de Maduro, sem direito de mostrar o VAR dos gols. A ONU, a União Europeia, a OEA e 11 países do continente americano protestaram contra a fraude explícita, mas o Brasil não. Ficamos em companhia de Bolívia, Cuba, Nicarágua, Irã e China, que fizeram o mesmo que a direção nacional do PT, reconhecendo imediatamente a vitória de Maduro, antecipando-se até à certificação do Supremo que está a serviço de Maduro.

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A Colômbia – onde estão 3 milhões de refugiados venezuelanos – e o Brasil supostamente ainda esperam convencer Maduro... a quê? Lula já disse que a eleição foi normal, que a oposição insatisfeita pode recorrer à Justiça; que se faça outra eleição (até que Maduro ganhe?). Tentando não ficar tão mal, admitiu mais tarde que o regime de Maduro é “muito desagradável”, e que é preciso mostrar as atas. Insistiu, com o presidente colombiano Gustavo Petro, que é preciso mostrar as atas, o que foi proibido pelo Supremo. O vencedor, Edmundo González, teria de se apresentar nesta terça-feira ao Ministério Público para explicar a página da oposição que mostra os resultados em 82% das urnas. O MP considera isso uma usurpação de competência, alegando que só o Conselho Nacional Eleitoral pode mostrar o resultado. Só que não mostra. Porque, se mostrar, vão ver que Maduro perdeu.

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Lula e Fidel Castro fundaram o Foro de São Paulo em 1990, no âmbito do PT. Ainda faltavam dois anos para o tenente-coronel paraquedista Hugo Chávez tentar o poder por um golpe de Estado, em fevereiro de 1992. Foi condenado e preso. Em fevereiro de 1999 foi eleito presidente. Em 2003, perguntei ao então ministro José Dirceu como lidar com Chávez, que já era conhecido por suas bravatas. Ele respondeu-me – não recordo as palavras exatas – perguntando como se lida com um desequilibrado. Em 2008, Chávez criou, com Lula, em Brasília, a União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Bolsonaro tirou o Brasil da Unasul e Lula o pôs de volta o ano passado, anunciando que precisa reconstruir a entidade. No início de seu governo, em Brasília, Lula tentou “vender” Maduro para os colegas sul-americanos na reunião da Unasul, o que irritou alguns, como o esquerdista chileno Gabriel Boric – um dos que estão escandalizados com a fraude eleitoral na Venezuela.

A situação parece impossível de ser solucionada. Mas já serve de lição para nós, brasileiros. Lembram de quando Maduro ironizou nosso sistema eleitoral, dizendo que “no Brasil nem um único boletim de urna é auditado”? Pois agora ele está pagando por isso. Não pode mostrar as atas, porque elas revelam que ele perdeu. A auditoria em tempo real, por leitura do QR Code, permitiu que a oposição e o Centro Carter, convidado pelo acordo de Barbados, acessassem o resultado. Agora o Supremo proibiu mostrar, mas já é tarde. Aqui no Brasil buscamos mais segurança depois do caso Proconsult, que quase derrotou Brizola. Por três vezes o Congresso aprovou comprovante do voto digital. Projetos de Roberto Requião e Brizola Neto; de Flávio Dino e Brizola Neto; e de Jair Bolsonaro. Sancionados por FHC e Lula, e vetado por Dilma, com veto derrubado por 71% do Congresso. Mas por três vezes o Supremo Tribunal Federal não deixou. E nós, em breve, teremos eleição.