Domingo é dia de manifestações políticas nos dois principais países da América do Sul. No Brasil, em várias capitais; na Argentina, em Buenos Aires, com a posse do novo presidente, Javier Milei. Estarão lá o ex-presidente Jair Bolsonaro e governadores como Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás) e Jorginho Mello (Santa Catarina). Lamentavelmente, quem não vai estar presente é o presidente do Brasil, do principal país do Mercosul, que tem a Argentina como seu principal parceiro comercial na área – em todo o mundo, a Argentina é o terceiro parceiro comercial do Brasil, com muitos interesses em comum.
Seria um voo rápido de Brasília, não é como ir a Dubai. Em três horas e meia, no máximo, já se chega a Buenos Aires. Lula poderia marcar presença e voltar no mesmo dia. Mas não vai mandar nem mesmo o vice-presidente Geraldo Alckmin; no lugar está indo o ministro de Relações Exteriores, é uma representação, digamos, menor. Dizem que é o temor de vaias, enquanto Bolsonaro seria ovacionado pela multidão de partidários de Milei, que é muito parecido com Bolsonaro e muito diferente de Lula. De qualquer forma, seria uma oportunidade de demonstrar grandeza.
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Se Lula não dissuadir Maduro, os americanos farão o trabalho
Outra oportunidade que está sendo oferecida a Lula – e cavalo encilhado não passa duas vezes – é a questão da Venezuela com a Guiana. Lula é quem tem mais possibilidades de demover Nicolás Maduro. Vou recordar uma história de dezembro de 2002: Lula, presidente eleito, foi à Casa Branca conversar com George W. Bush. O norte-americano confidenciou que invadiria o Iraque e pediu que Lula não se metesse, porque os Estados Unidos também não se meteriam na Venezuela, e Lula que cuidasse de Hugo Chávez. Quer dizer, o próprio presidente dos Estados Unidos pôs nas mãos de Lula essa responsabilidade, que agora é muito maior, porque Lula é um defensor de Maduro e Maduro deve muito a ele; então, ele tem poder de demover Maduro – poder e dever, porque é responsabilidade do Brasil evitar uma guerra.
Não há como imaginar o tamanho de uma guerra que vai literalmente envolver um estado brasileiro, Roraima. Não falo dessa “teoria da passagem”, em que eu não acredito, porque Venezuela e Guiana têm 500 quilômetros de fronteira terrestre, seca, ninguém precisaria passar por território brasileiro. Seria a grande oportunidade de Lula aparecer como pacificador, mas pelo jeito a pacificação virá dos Estados Unidos, que estão fazendo manobras na Guiana, avisando, dissuadindo Maduro, que por sua vez está imitando outro ditador, Marcos Pérez Jiménez. Em 1958, ele anunciou – exatamente como Maduro – que invadiria a Guiana para recuperar Essequibo, mas foi deposto por causa disso. Os militares venezuelanos não quiseram guerra e o depuseram. Outro ditador, o argentino Galtieri, inventou uma guerra com a Inglaterra, invadindo as Malvinas ou Falklands, foi derrotado e deposto, acabando com o ciclo militar na Argentina. Este é um argumento que Lula poderia usar com Maduro. Aliás, em 2006 Hugo Chávez botou uma estrela a mais na bandeira da Venezuela, representando Essequibo, e agora Maduro colocou a região no mapa da Venezuela. Na burocracia está tudo pronto, já está no mapa.
A lógica estranha de quem defende criminoso nas ruas
Uma prova de que o Brasil está maluco: a agência noticiosa oficial brasileira entrevistou um pesquisador e ele disse que quanto mais preso houve, mais crime tem. Não dá para entender. O sujeito que assassinou a argentina em Búzios estava com 15 anos de condenação por estupro e roubo, já tinha seis passagens na polícia, e estava solto! Ele tinha sido preso em regime fechado e depois foi para o semiaberto. Esse é o Brasil. E há quem se queixe quando as pessoas se armam para se proteger... é todo dia invasão de terra, invasão de prédio, quebra-quebra; alguém quer se vingar, vai lá e joga pedra, quebra o bar, quebra a loja. O país está ficando sem lei e o Estado não está cumprindo seu papel – o Estado não, que Estado é uma abstração: são os agentes do Estado.
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