Manifestação contra Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro| Foto: Reprodução Gleisi Hoffmann (PT)
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A diretoria do Banco do Nordeste foi agora responsabilizada por um contrato de R$ 600 milhões com uma ONG. Eu fico me perguntando o que quer o Banco do Nordeste com uma ONG. O presidente Jair Bolsonaro ficou sabendo e cobrou. Resultado: todo mundo na rua.

Eu acho que o pessoal não se deu conta de que de mil dias para cá mudou radicalmente. Tem gente que costumava receber dinheiro dos cofres públicos, como eu já mencionei aqui, através da Lei Rouanet, em órgãos da mídia, até jornalistas individualmente. Como o 360 mostrou: uma lista de polpudos contracheques ou contratos que tinha a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, e empreiteira superfaturando. Hoje não tem mais nada disso. E, se houver, e se descobrir, vai acontecer como aconteceu com o Banco do Nordeste.

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Pena que a CPI não investigou o dinheiro federal que foi para governadores e prefeitos. Como aquela compra de 300 respiradores pelo Consórcio Nordeste e que não foi entregue até hoje. Foram pagos R$ 48 milhões para uma empresa chamada Hemp, que é maconha. Não tem como a gente não lembrar de respirador sendo vendido por uma loja de vinho, como lá em Manaus, por exemplo.

A alegoria do circo traduz a CPI 

E a CPI foi conduzida na semana passada pelo brilhante Luciano Hang.  O alter ego, ou o inconsciente, do relator Renan Calheiros o fez fazer um pronunciamento com alegoria de circo. Nada mais descritivo do que a gente vê na CPI: os malabaristas, os mágicos tirando coelho da cartola, os palhaços de circo mambembe, os trapezistas, a bandinha. Tem tudo isso lá.

Mas eles não investigam a origem de tudo isso. O que foi que causou a morte das pessoas? Sim, foi o vírus. Mas de onde é que ele veio? Como entrou aqui? Quando? Ah, foi no carnaval... Nem se fala nisso. Está cheio de gente foi salva, mas não chamaram. Não perguntaram para milhares de pessoas, talvez centenas de milhares, que saíram rapidamente da crise. Isso vai ser uma nova CPI mais tarde, quando os ânimos baixarem, quando deixar de haver verdades absolutas, dogmas. Aí vai estudar racionalmente, seriamente, e vai se apurar as responsabilidades.

Alasca vive crise de oxigênio pior que a de Manaus 

Por falar nisso, você lembra da crise de Manaus? Um dos objetivos da CPI era apurar as responsabilidades na crise de Manaus. Mas você sabe o que está acontecendo no Alasca, que é um estado norte-americano? É um estado do país mais poderoso do mundo e está pior que Manaus, racionando oxigênio, porque não tem, cancelando cirurgias de emergência, decidindo quem morre e quem sobrevive. E o auxílio mais próximo vem lá de outro território dos Estados Unidos: vem do estado de Washington, lá de Seattle. Para transferir para outros estados são 1,5 mil milhas, que dá uns 3 mil quilômetros.

É um estado dos Estados Unidos e está acontecendo isso. E a a gente achou que essas coisas só poderiam acontecer no Brasil.

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Manifestações estão desacreditando as pesquisas de opinião 

Para concluir, eu fico imaginando as pesquisas de opinião pedindo pelo amor de Deus para não inventarem mais manifestações. Porque elas estão desmoralizando as pesquisas. Inventaram as manifestações do dia 12 para responder ao 7 de setembro e foi o que todos vimos. Inventaram a manifestação do último sábado, dia 2 de outubro, e foi pior ainda.

Aí o pessoal vai e olha o dia 7 de setembro, olha o dia 12 de setembro, olha o dia 2 de outubro e olha as pesquisas de opinião. Aí a pesquisa fica desacreditada. Tem que pedir para parar com as manifestações senão quem vai contratar as pesquisas de opinião?

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]