Nesta quarta-feira (6), a expectativa de R$ 106 bilhões no megaleilão do pré-sal se frustrou. Ficou em R$ 70 bilhões. E só com a participação de uma empresa brasileira, a Petrobras. Sai do bolso da Petrobras e entra no bolso do governo. São dois bolsos da mesma calça.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, lamentou que governadores e prefeitos receberão praticamente metade do que esperavam. No entanto, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, recém-chegada de Cuba, festejou isso.
Ciro Gomes, que já foi Ministro da Fazenda, portanto, conhece os problemas, festejou também. Parece que eles são do time do masoquismo, do quanto pior melhor. Eles fingem que não estão no mesmo barco. Se afundar, afundamos todos. Mas não vai afundar, não. Isso porque as medidas anunciadas na véspera são (todas!) para tirar o peso do governo e a burocracia do cangote das pessoas e das empresas.
O governo tem que ficar mais magro para funcionar, prestar bons serviços públicos e liberar as empresas para funcionar. Como tem dito o secretário de desestatização, Salim Mattar, que é dono de uma grande empresa de locação de automóveis: “Eu pensava que as outras locadoras eram as minhas concorrentes, mas não, o meu principal concorrente é o governo brasileiro”. E é verdade.
O governo pega cinco meses de trabalho de todo mundo, atrapalha a vida de todo mundo e é isso que estão tentando limpar. Com a limpeza de área, a empresa privada poderá fazer gols. Essa é a atitude.
Fato que vira factoide
Eu ouvi no rádio um repórter dizer que Eduardo Bolsonaro pregou a volta do AI-5 no Brasil. Meu Deus, já virou verdade isso...
Mas se forem ouvir a entrevista para a Neda Nagli, o deputado disse assim: “Se houver bagunça aqui como houve no Chile, talvez seja o caso de convocar um plebiscito, como fez a Itália, e perguntar para o povo se quer dar poderes excepcionais para combater – como aconteceu com o AI-5”.
Esse é o contexto verdadeiro. Mas parece que ele disse que nós precisamos da volta do AI-5. Eu já vi até manifestação contra o AI-5 de 1969. Vira gozação essa lambança. Já estão discutindo o assunto em comissões, e o assunto vai de lá para cá. Parece que a gente tem tempo para perder energia sobre isso.
Energia perdida
Outra energia perdida aconteceu na comissão de Relações Exteriores da Câmara. Votaram uma moção contra o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. Eu vi a foto depois, e a foto é realmente invasora, uma invasão de assuntos internos do Brasil: um monte de gente fazendo o L do Lula Livre.
Bolsonaro também provocou. Disse que estava torcendo para o Macri, e que foi um desastre a vitória de Alberto Fernández. Mas, enfim, a atitude de Fernandéz continua sendo uma intromissão.
Agora, está cheio de gente na Argentina e no Brasil com preconceito contra o outro. O grupo que eu vi são de argentinos que querem que o Brasil se dê mal. Só que se o Brasil se der mal, ou a Argentina se der mal, fica ruim para os dois. Os exportadores brasileiros de São Paulo e, principalmente, da região Sul estão torcendo para que a economia argentina não afunde mais, porque são bons clientes.
A gente compra deles e exporta para eles também. Sem contar a China e os Estados Unidos, nosso maior parceiro comercial é a Argentina. Não é racional e inteligente ficar com esse disque-disque. O eleitor argentino escolheu esse presidente, e vamos em frente.
Para encerrar...
Na tarde desta quinta-feira (7), o Supremo Tribunal Federal (STF) decide sobre a prisão em segunda instância. Eu já falei desse assunto, mas queria falar de um assunto da quarta-feira (6): o ministro Marco Aurélio chamou a atenção de uma advogada. Ela se referiu aos ministros do STF como “vocês”.
Meu ouvido não gosta quando eu ouço um colega repórter chamar um ministro de “você” - menos ainda um presidente da República. Mas “você” é uma forma abreviada de Vossa Mercê: é uma expressão educada, mas que não se usa.
Também não precisamos chamar de “vossa excelência”. Mas vamos chamar de ministro? Ainda que haja alguma intimidade, a gente tem que mostrar que há uma distância. Isso é bom, são ritos.