Num 12 de abril como hoje, há 110 anos, o Titanic seguia sua rota, rumo a Nova York, orgulhoso e confiante, certo de sua supremacia sobre o mar. Estava a três dias do choque com um iceberg à deriva, mostrando apenas um décimo de seu volume acima da linha d’água. Seu poder submerso rasgou o casco de aço do presunçoso navio e o mandou para o fundo do mar.
Boston está a uns 700 quilômetros a oeste do local daquele naufrágio, e a 8 mil quilômetros de São Paulo, o maior contingente eleitoral do Brasil. Num encontro em Boston, políticos brasileiros manifestaram-se tão confiantes em seus objetivos quanto o Titanic, quando zarpou da Inglaterra. Com a supremacia da verdade, embaçados por suas certezas, assumem o risco de não perceber os riscos abaixo da linha d`água.
Sergio Moro, por exemplo, insistia em permanecer candidato à presidência da República, negando expressamente que vá aceitar uma vaga para concorrer a deputado federal. A senadora Simone Tebet, em Boston, deixou claro que o seu partido, MDB, mais o PSDB e o União Brasil vão indicar um candidato único, dia 18 de maio, a ser escolhido entre ela, Doria e Luciano Bivar - excluindo expressamente Moro.
Será que o ex-juiz vai ficar com a chance de disputar uma vaga na Assembleia de São Paulo? Porque no seu Paraná, ao abandonar o Podemos de Alvaro Dias e Oriovisto Guimarães, as escotilhas se fecharam. Ciro Gomes estava nos Estados Unidos também, vendo afundar seu concorrente de terceiro posto, pois não quer ficar a ver navios.
Eduardo Leite estava no tombadilho em Boston. Por quê? Só para suscitar mexericos na primeira classe? Que ficaria como imediato no caso de o comandante abandonar o navio e isso seria o sinal para se unirem todos ante o perigo do gigantesco iceberg?
O comandante, por sua vez, está fazendo manobras estranhas. Indispôs-se com a classe média, queixando-se que gasta demais; com os religiosos, pregando aborto para quem não quiser ter filho; com os militares, dizendo que vai tirar todos de seus postos no governo; com os deputados federais, ensinando a assediar suas famílias; com 600 mil proprietários legais de armas, ameaçando desarmá-los, ao tempo em que daria poder ao MST e ao MTST; prometeu desfazer privatizações, teto de gastos e modernização das leis trabalhistas. A própria tripulação não entendeu as manobras e está preocupada que seja leme perigoso, com intenção de afundar.
Juízes supremos, que vão arbitrar eleições e julgar questões envolvendo o governo estavam lá, como estão por toda a parte, como se estivessem em campanha política, deixando aqueles que acreditavam na distância olímpica da isenção, de cabelo em pé. E, ironicamente, eles discorrem sobre os riscos da democracia, elogiam o comandante sem rumo, não seguem o mapa de 1988, sem noção dos perigos num oceano de orgulhos, vaidades e voluntarismos.
E a banda vai tocando. A orquestra de bordo sabe que vai afundar, mas tocar é preciso, navegar não é preciso. A banda vai elevando o volume para impedir que os passageiros percebam os perigos da rota; os sons saem desesperados, porque conhecem a verdade, mas não querem ser liberados. Têm que tocar até o fim. E a nave segue seu rumo.
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