Lula em reunião com Tarcísio de Freitas, um dos principais aliados de Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto
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Lula parece não ter se dado conta do desafio que tem pela frente. A avaliação foi feita pelo ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, numa entrevista ao Correio Brasiliense, nessa segunda-feira. Maílson diz que Lula frustrou as expectativas de economistas e do mercado, que esperavam que o novo mandato fosse uma repetição do primeiro, mas está semelhante ao período de Dilma, "com intervencionismo muito forte, percepção equivocada do papel das estatais, como se o Brasil voltasse aos anos 70, 80 ou no período de derrama do Tesouro e do BNDES, do período Dilma". Um alerta baseado na primeira quinzena de governo, em que o calor do discurso de posse inflamou os discursos dos ministros.

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Quem está no poder tem mais responsabilidade com a paz, porque detém os meios do Estado. E os dois desafios, econômico e político, estão juntos; um alimenta o outro.

O pacote de Haddad foi frustrante; foi uma tentativa de marketing que não mostrou saídas para o excesso de gastos. Ao mesmo tempo em que estoura o escândalo das Americanas, com pedaladas de 20 bilhões, e o Grupo Guararapes anuncia o fechamento de sua fábrica no Ceará, com perda de 2 mil empregos. A insegurança jurídica, agora alardeada pelo jornalista americano Glenn Greenwald, não anima produtores, empregadores e investidores nacionais e estrangeiros, tampouco o novo tamanho do Poder Executivo federal.

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Maílson deve ter olhado o aspecto econômico do desafio, mas o presidente também parece não estar percebendo o tamanho do desafio político, exposto pelo retrato do país no dia 30 de outubro: Lula tem metade do eleitorado – isso sem a gente saber as preferências de 37 milhões que não votaram. Os acontecimentos de 8 de janeiro, com depredações nas sedes dos Três Poderes, não podem ser considerados apenas atos criminosos; foram também atos políticos. Os responsáveis pelos crimes devem responder na Justiça, mas os atos políticos devem ser respondidos com atos políticos que não inflamem ainda mais as cabeças que comandam braços, mãos e pernas.

E o presidente, ao que parece, está lidando com pombas e falcões nas suas avaliações. Já fez declarações de pacificação, mas também já lançou palavras de guerra. No café com jornalistas fez provocações desnecessárias aos militares; seu ministro da Justiça e Segurança parece se comprazer em anunciar prisões e punições. É preciso reconhecer que as invasões se constituíram um pretexto conveniente para mostrar força, mas estão esquecendo da proporcionalidade dessa força, no país dividido ao meio. Quem está no poder tem mais responsabilidade com a paz, porque detém os meios do Estado. E os dois desafios, econômico e político, estão juntos; um alimenta o outro.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]