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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Agronegócio

Produtores rurais estão nas ruas da Alemanha

Protesto de agricultores em Berlim, em 15 de janeiro. (Foto: Clemens Bilan/EFE/EPA)

O agronegócio brasileiro certamente deve estar observando o que está acontecendo na Europa, mais exatamente na Holanda e na Alemanha, já que está em uma situação semelhante. Nosso agro é importante, sustenta o país – muito mais que a Alemanha e a Holanda –, alimenta boa parte do mundo, 1,6 bilhão de habitantes da Terra, sustentando-os com comida, que é a energia mais nobre que existe, porque é o que mantém funcionando o corpo humano. Isso é muito mais que o petróleo, o carvão ou a energia nuclear. Apesar disso, o agro também está sofrendo por aqui com perseguições e preconceito.

Esta segunda-feira foi o sétimo dia de uma manifestação gigantesca que parou Berlim, ali na região do Portão de Brandemburgo. Por ali há um bosque e a avenida Unter den Linden, é o coração de Berlim. Milhares de tratores, de veículos, de pessoas com alto-falantes. Um frio danado, pertinho de zero grau, e todo mundo na rua porque o governo alemão decidiu tirar subsídios do diesel e voltar a cobrar impostos sobre a compra de maquinária agrícola e tratores. É o mesmo que aconteceu na Holanda, onde o governo começou a confiscar terras. Isso na Holanda, que é pequenininha, aquele país que conquistou a terra do oceano, foi aterrando, fazendo canais, fazendo saneamento.

Isso é muito importante porque coincide com o início do Fórum Econômico Mundial em Davos, um encontro a que todos prestam atenção, com o pessoal daquela agenda da ONU, de governo mundial, todos de olho na Amazônia – mas Lula não foi. Estão de olho nas riquezas dos outros depois de terem acabado com as suas; eles não estão muito interessados na Floresta Amazônica, não; querem o que está embaixo da terra. Vejam o escândalo de Portugal, que derrubou o chefe de governo em novembro: foi por causa de uma mineração de lítio no norte do país e de uma central de hidrogênio. Na segunda-feira houve a convocação de eleições porque o parlamento foi dissolvido. A nova eleição ocorre em 10 de março e oferece uma grande oportunidade para o Chega, que está crescendo, é a terceira força política, mas ainda muito distante dos outros dois – a primeira força de Portugal é o Partido Socialista.

A esquerda reconhece que a direita fala melhor com o povo

Tenho uma admiração muito grande pela inteligência e pela percepção de José Dirceu. Ele é o cérebro do PT e um grande estrategista. Vejam o que ele disse na Bahia: “Hoje o Brasil está muito politizado e em disputa político-cultural, e a direita está ganhando”. Ele está dando uma sacudida no PT, porque este ano temos eleições municipais, que são importantíssimas, e Dirceu está reconhecendo que a direita está na frente. Mais do que isso, ele está ensinando os jornalistas brasileiros a palavra “direita”. O jornalista brasileiro não consegue pronunciar “direita”, só diz “extrema direita” – os mais intelectualizados dizem “ultradireita”.

O próprio Lula já chamou a atenção para essa história de comunicação com o povo. Disse algo como “temos de pensar no que fazer porque a pessoa começa a ganhar mais, passou de R$ 5 mil por mês, e já não quer mais saber do PT”. Eu sei que a recíproca para isso é “vamos manter todo mundo de salário baixo, não vamos deixar ninguém ganhar acima de R$ 5 mil, do contrário eles deixam de votar no PT”.

Aquela sindicalista da educação pública de Florianópolis, Elenira Vilela, também reconhece isso. Disse numa live que é preciso acabar com Michelle Bolsonaro, “destruí-la” juridicamente ou de qualquer outra maneira, porque ela é brilhante, ela se comunica com o povo, ela tem uma tremenda capacidade, ela é poderosa. Este é um reconhecimento da força da direita. É a direita que não consegue fazer isso prevalecer; a direita, quando perde, é porque se desuniu, se perdeu em brigas internas. Agora mesmo estamos vendo as fofocas dentro do PL de Valdemar Costa Neto.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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