Está no Supremo um caso que é da Prefeitura do Rio de Janeiro: o local das comemorações da Data Nacional, neste ano festejando os 200 anos da Independência. Será na Avenida Presidente Vargas, no Centro, como tem sido, ou, desta vez, por sugestão de Bolsonaro, na Avenida Atlântica, em Copacabana, como tem sido o réveillon? Mais uma vez o partido Rede, que tem um senador e dois deputados, se reforça usando o Supremo. Isso contraria o desejo expresso do presidente da corte, Luiz Fux: “Essa prática tem exposto o Supremo a um protagonismo deletério (...) quando decide questões que deveriam ter sido decididas no parlamento. Tanto quanto possível os poderes Legislativo e Executivo devem resolver interna corporis seus próprios conflitos. (...) conclamo (...) os atores do sistema de Justiça aqui presentes para darmos um basta na judicialização vulgar e epidêmica de temas e conflitos em que a decisão política deva reinar”. A conclamação vai completar dois anos no mês que vem.
Vai ser trazido de Portugal, para dar ainda mais significado à comemoração, o coração do príncipe Pedro, que proclamou a Independência. Ficará no Brasil por pouco tempo. Lembro-me de quando o corpo de dom Pedro I foi transferido ao Brasil, nas comemorações do Sesquicentenário da Independência – que cobri, pelo Jornal do Brasil. Passou por todas as capitais antes de ser depositado no Monumento à Independência, no local onde ele gritou “Independência ou Morte!” Era o ano de 1972, e estávamos desfrutando do milagre econômico – o Brasil crescia mais que a China. Em 1970, tricampeonato no México: PIB de 10,4%; em 1971, 11,34%; em 1972, 11,94%; e, 1973, 13,97%! Eu era repórter econômico do JB e dou meu testemunho: não foi o presidente Médici nem o ministro Delfim que causaram esse milagre, mas o otimismo e o entusiasmo do brasileiro.
No pior ano da tentativa de quebrar o país, 2020, pelo fique em casa e pela suspensão de direitos e garantias fundamentais, o FMI previu que o PIB brasileiro despencaria 9%. Caiu metade disso. Porque o brasileiro levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Agora o Ipea mostra que a pobreza extrema, que atingia 5,1% das famílias brasileiras, vai cair para 4% até o fim do ano – queda de 22%. Enquanto isso, no mundo, a pobreza extrema sobre 15%. A propagação do pânico que paralisa exigiu uma maior presença social do governo, e o Bolsa Família de R$ 30 bilhões/ano virou Auxílio Brasil de R$ 115 bilhões. A interrupção da corrupção institucionalizada fez sobrar recursos para isso, mesmo com redução de impostos. Depois do caos econômico do governo Dilma, já foram recriados 4,5 milhões de empregos com carteira assinada e, mais do que isso, assim que a pandemia aliviou, criaram-se 3,4 milhões de empresas. Gente que experimentou a perda de emprego e se tornou dona do próprio negócio.
É o brasileiro, de novo, otimista, entusiasta, empreendedor. No Nordeste, o milagre não é apenas das águas; é do nordestino. O empreendedorismo se repete: prefere, por exemplo, uma renda própria de R$ 5 mil a ter R$ 2 mil com carteira assinada. Indústrias de laticínios vendendo tudo; de confecções, produzindo em dois turnos e terceirizando; o consumo subiu e se buscam empregados. Nesta terça-feira começa o pagamento do auxílio de R$ 600 – dá mais um ânimo para quem precisa. O acolhimento popular do presidente no Nordeste tem sido sinal da situação. Enquanto isso, Paulo Guedes e Campos Neto vão desfrutando dos resultados: inflação em queda aqui, enquanto sobe nos Estados Unidos e Europa; PIB em alta aqui, enquanto cai nas grandes economias. Mais razões para festejar o bicentenário do Brasil Independente.
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