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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Corrupção

O Rio de Janeiro e a triste sina de fabricar maus políticos

Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, foi preso acusado de liderar um esquema criminoso na prefeitura.
Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, foi preso acusado de liderar um esquema criminoso na prefeitura. (Foto: Mauro Pimentel/AFP)

Parece sina o que acontece com a política no Rio de Janeiro. Foram muitos casos de governadores e ex-governadores presos. Entre eles, Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Wilson Witzel.

Dessa vez o alvo foi o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Ele é acusado de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva por causa de um esquema conhecido, segundo o Ministério Público, como QG da propina.

O ex-ministro Roberto Campos dizia que subdesenvolvimento não é uma questão de dias e sim de séculos. Parafraseando ele, digo que corrupção não surge de um dia para o outro, mas é algo que vem de décadas e até séculos. É preciso ter respeito às regras civilizatórias de organização.

A corrupção é cultural, todos tentam ser espertos. Se as pessoas não obedecem a lei, ela passa a não proteger a população e a vida fica mais difícil, vira um inferno. Em países desenvolvidos, as pessoas respeitam as leis e, por isso, é mais fácil viver nesses locais. É a certeza de que todo mundo vai cumprir o que está escrito.

Há 60 anos, quando Juscelino Kubistchek veio para Brasília, ele disse que havia se livrado da “gaiola de ouro”, como chamava a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Hoje, vemos vários deputados estaduais fluminenses envolvidos em esquemas de corrupção. O mesmo acontece no Tribunal de Contas do Rio. É lamentável!

Acidente sob custódia do Estado

O jornalista Oswaldo Eustáquio, que foi preso pela terceira vez por ordem de um ministro do Supremo Tribunal Federal, está internado num hospital depois de se acidentar no presídio da Papuda. O advogado dele contou que Eustáquio caiu ao se apoiar na pia para tentar consertar um chuveiro que estava com vazamento.

Na queda, fraturou a quinta vértebra. Levado ao hospital, Eustáquio não conseguia movimentar uma das pernas, o que causou o temor de que não pudesse mais voltar a andar. Mas o médico que o está tratando garantiu que a medula não foi afetada. Porém, disse que é preciso fazer urgentemente uma cirurgia para que não haja sequelas.

O jornalista foi preso pela primeira vez acusado de incitar atos antidemocráticos. A terceira prisão, que aconteceu no dia 18 de dezembro, foi por violar as restrições da prisão domiciliar.

Ele queria ir ao Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos para pedir ao órgão que o ajudasse em seu caso. O ministério perguntou a Eustáquio se ele tinha autorização do Judiciário para sair de casa — funcionários da pasta se ofereceram para ir à residência dele.

No entanto, Eustáquio negou a oferta e, no dia seguinte, foi até o ministério. Ao fazer isso, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, entendeu que o jornalista violou as regras da prisão domiciliar e o mandou de volta ao presídio.

Ele sofreu um acidente sob a custódia do Estado brasileiro. Ou seja, para mim, a responsabilidade é do Estado e do juiz que o mandou para o presídio novamente.

A OAB se pronunciou em julho sobre a prisão do blogueiro afirmando que ela é inconstitucional. Mesmo assim, o processo segue em sigilo. Nem o Ministério Público participou da abertura do inquérito. Isso é desprezar o artigo 127 da Constituição que afirma que o MP é “essencial à função jurisdicional do Estado".

Toffoli afirma que a ameaça foi proferida ao STF. Portanto, os ministros aplicaram o regime interno da Corte, mas o blogueiro fez um post na rede social para o mundo. E o artigo 5º, linha IX, garante “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Além disso, Eustáquio também pode tentar se proteger usando o artigo 220 que permite “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição''.

Eu não conheço esse jornalista pessoalmente, não o sigo nas redes sociais e não tenho relações com ele, mas acho que está em jogo aqui o princípio das liberdades do artigo 5º e da liberdade de imprensa.

Tem jornalista que deve pensar que todos precisam ter a mesma opinião e só defende quem pensa de maneira igual. Mas estão em jogo os princípios que regem a democracia e liberdade. Eustáquio tem a carteirinha da Fenaj, ele publicou foto dela nas redes sociais, e ela é válida até maio de 2021. E eu não vi nenhum pronunciamento até agora da Federação dos Jornalistas a favor dele.

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