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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Rio Grande do Sul

Foram décadas sem prevenir enchentes, mas ainda há como evitar novos desastres

Operação de salvamento de pessoas presas nos telhados de suas residências na cidade de Canoas (RS). (Foto: EFE/Isaac Fontana)

Eu estou há algum tempo longe do Rio Grande, mas o Rio Grande sempre está no coração. Por isso me surpreendeu o fato de que quadrilhas – agora o nome da moda é “facção”, parece até sinal de respeito – de bandidos estão dominando lugares inundados, saqueando casas, depósitos, lojas, fábricas e distribuidoras. Estão até ameaçando pessoas, inclusive em abrigos. As quadrilhas se apropriam dos abrigos como se fossem os mandantes lá dentro. Não sabia que a situação estava assim no Rio Grande do Sul. Eu até aconselharia o governador a conversar com seus colegas de Goiás, Ronaldo Caiado, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para saber o que eles estão fazendo lá. Em Goiás, Caiado deu uma segurada, e bandido hoje está na pior por lá. E também vemos um combate muito grande, com medidas preventivas e punitivas, em São Paulo.

Faltam lideranças nesta crise do Rio Grande do Sul

Tenho falado aqui que, baixando as águas, vamos espremer para tirar a água suja, aquele caldo barrento, e vai ficar a essência. Um colega jornalista, Rogério Mendelski, me contou que conversava com o desembargador Thompson Flores sobre liderança. Eles lembraram que, durante grandes crises, os países sempre tiveram um líder: Churchill, na Inglaterra; Adenauer, na Alemanha; De Gaulle, na França. Mas e aqui, onde estão as lideranças? Que líderes temos escolhido? O que estamos fazendo com nosso voto, nossa decisão, nossa responsabilidade?

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Sem prevenção, as enchentes continuarão acontecendo

O Tribunal de Contas da União está cobrando desde 2014 aquilo que eu contei para vocês: já existe, desde 2012, uma lei federal que manda fazer um sistema de prevenção contra desastres. E que prevenção é essa? É limpar a calha dos rios com dragagem, como limpamos as calhas de nossa casa para tirar as folhas quando começa a estação das chuvas. É verificar onde pode haver queda de barreiras e reforçar a segurança. É fiscalizar de verdade a construção de pontes, estradas, aterros e viadutos, para que resistam às águas, pois a engenharia hoje é capaz de obras que resistam.

Prevenção também é fazer planos diretores, evitando que se construam até hospitais em áreas que acabam inundando, como aconteceu em Canoas, onde um hospital foi atingido pelas águas. O pessoal da minha geração viu as enchentes de todos esses anos, a começar em 1941 – eu não tinha nem 1 ano de idade ainda, mas falava e via as marcas da enchente de 41 –, e viu as prefeituras permitirem e licenciarem construções em áreas que pegam não apenas cheias, mas corredeiras, lugares onde o rio escorre com velocidade, o que é fatal. O TCU está cobrando há muito tempo, mas não se fez nada.

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O governador Jorginho Mello, de Santa Catarina, contou o que está acontecendo. Ele tinha R$ 95,4 milhões para obras de prevenção, mas desse montante estão bloqueados R$ 85,8 milhões, ou seja, quase tudo, cerca de 90%. Aí não adianta nada. Mas mesmo assim ele está começando a dragagem do Itajaí-Açu. Perfeito, governador! É preciso limpar a calha do rio, porque assim a água escorre e não sai pela borda. Isso é essencial nos rios do Rio Grande do Sul, por exemplo. Se fizessem no Taquari e no Jacuí, já estaria de bom tamanho.

Também soube da sugestão de um gauchão de chapelão, que apareceu na rede social – as redes estão sendo um esteio nisso tudo –, de abrir um canal direto da Lagoa dos Patos para o mar, bem ao norte da cidade de Rio Grande, mais ou menos no meio do sentido longitudinal da lagoa. Não precisaria de muita coisa: são 15, 20 quilômetros, em um terreno onde é fácil abrir o canal. E haveria comportas para regular a água que passasse por ali. Assim a água sairia mais facilmente de Porto Alegre.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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