Mais da metade do Senado já assinou um ofício encabeçado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) para visitar o coronel Jorge Eduardo Naime, comandante de Operações da PM, que estava de folga no dia 8 de janeiro, ouviu as notícias, vestiu o uniforme e foi para a Praça dos Três Poderes evitar as invasões. Foi atingido na perna, por um rojão, e no entanto está preso há seis meses, sem condenação, sem nada.
Eu fico me perguntando: só uma visita? O Senado não está fazendo nada para saber se essa e as outras prisões estão dentro da legalidade? Até hoje as pessoas não entendem exatamente por que tantos foram presos e ainda são considerados perigosos. Aliás, ainda vejo a mídia tradicional chamá-los diretamente de “terroristas”. Quando alguém mata outra pessoa, chamam de “suposto assassino”. Mas esses não são sequer “supostos terroristas”, mesmo sendo ainda réus, sem nenhuma condenação.
Barroso será o próximo presidente do Supremo
Na quarta-feira o ministro Luís Roberto Barroso foi escolhido para ser o próximo presidente do Supremo, a despeito de ainda estar fresco na memória dos brasileiros (e certamente na dos outros ministros) o dia em que ele foi ao congresso da UNE e pronunciou a frase “nós derrotamos o bolsonarismo”. Barroso toma posse em 28 de setembro, para um mandato de dois anos. O vice será o ministro Edson Fachin. São coisas que já não nos surpreendem no Brasil, mas nem por isso podemos considerar que isso seja natural.
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MPF reduz multa dos irmãos Batista
Assim como não nos surpreende, embora também não seja natural, essa história dos irmãos Batista, Joesley e Wesley, que contrataram o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski na J&F. Fizeram um acordo de leniência e pagariam uma multa de R$ 10,3 bilhões, dinheiro que iria para a União, para a Caixa Econômica, para o FGTS, para a Petrobras, para a Funsep, para o BNDES, para projetos sociais. Isso foi decidido lá numa câmara do Ministério Público. Agora o coordenador da câmara, o procurador Ronaldo Albo, por conta própria, aceitou recurso da J&F e reduziu a multa para R$ 3,5 bilhões – um desconto de quase R$ 7 bilhões –, que vão só para o Tesouro Nacional, só para a União. Ficou muito estranho, e um dos seus colegas, Carlos Henrique Lima, contestou a redução e vai ao Conselho do Ministério Público, já que ainda não há uma homologação dessa repactuação na Justiça.
Lira e o Centrão acabaram com a CPI do MST
Os presidentes da Câmara e do Senado têm superpoderes. Eles escolhem o que os demais deputados e senadores vão ou não vão votar. Ou seja, os demais não são seus pares; eles são mais pares que seus pares. Digo isso porque o presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiu anular o requerimento da CPI do MST que levaria para depor o ex-governador da Bahia Rui Costa, que é ministro da Casa Civil de Lula. Lira atendeu um pedido do deputado Nilto Tatto (PT-SP), alegando que não houve “fato determinante”. Mas este seria o grande depoimento, porque dias atrás ex-integrantes do MST do sul da Bahia mostraram a ação do PT nas invasões, inclusive ações violentas – e a polícia da Bahia estava sob o comando do então governador Rui Costa –, a ponto de o governo federal ter de mandar a Força Nacional para dar garantias de segurança aos proprietários na região.
Além disso, a CPI mostrou que o MST está forte. Partidos do Centrão que estão de olho em ministérios, como o Republicanos, o PP e o União Brasil, trocaram seus integrantes na comissão, colocando deputados simpáticos ao governo, que passou a ter maioria. Fisiologismo puro. E, como a CPI agora está com maioria governista, as investigações sobre a ação do MST ficarão prejudicadas. Esse é o novo Brasil.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos