Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Judiciário

Supremo não gostou nada da PEC que limita decisões individuais

Gilmar Mendes na sessão de 23 de novembro do STF, em que fez duras críticas à aprovação da PEC 8/2021 no Senado. (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)

O governo está recalculando o seu déficit e agora diz que não será mais de R$ 140 bilhões, mas de R$ 177 bilhões. Se pensarmos que no ano passado houve superávit de quase R$ 60 bilhões, a diferença é de R$ 236 bilhões. O que está acontecendo? Vai ter déficit também nas estatais: R$ 6 bilhões na Dataprev, na Eletronuclear, na Emgepron, nos Correios. O prejuízo dos Correios deve ser de R$ 600 milhões! No ano passado, deu lucro de R$ 1,5 bilhão; no ano retrasado, lucro de R$ 3,7 bilhões. O que está acontecendo? Aliás, nesta quinta, no Rio de Janeiro, um grupo grande de funcionários dos Correios, aposentados e por aposentar, estava protestando contra o que fizeram com o fundo de pensão Postalis. São dez ações na Justiça, com R$ 8 bilhões em jogo. Os funcionários dos Correios tiveram desconto no contracheque para salvar o Postalis, mas o que foi feito do dinheiro?

Gilmar Mendes ataca o Congresso e ministros do STF dizem que líder do governo cometeu “traição”

Está pipocando no Congresso Nacional a reação do decano do STF, como porta-voz da corte, à votação no Senado que aprovou, por 52 a 18, uma PEC que agora vai à Câmara. O texto limita poderes do Supremo; um ministro não poderá mais, por exemplo, conceder uma liminar que contrarie a decisão da maioria do Congresso. O Legislativo aparece em primeiro lugar no artigo 2.º da Constituição; depois vem o Executivo e, por último, o Judiciário. O papel do Judiciário não é fazer leis, é interpretá-las. Pode dizer se uma lei é constitucional ou inconstitucional, mas apenas se for consultado a respeito – não tem a iniciativa de fazer isso por conta própria, a iniciativa é do Ministério Público, ou de partidos políticos. Só com a maioria do Supremo será possível derrubar alguma decisão da maioria do Congresso.

Mas o ministro Gilmar Mendes não gostou. Como porta-voz do Supremo, ele disse que “esta corte não haverá de submeter-se ao tacão autoritário, venha de onde vier, ainda que escamoteado pela pseudorrepresentação de maiorias eventuais” – ele está se referindo aos 52 senadores que aprovaram a PEC e que têm o poder de julgar ministros do Supremo. E continuou: “estou certo de que os autores dessa empreitada começaram travestidos de estadistas presuntivos e a encerraram melancolicamente como inequívocos pigmeus morais”. Uau! “Pigmeus morais”, 52 senadores. Ele, antes disso, ainda disse que “este Supremo está preparado para enfrentar as investidas desmedidas e inconstitucionais, agora provenientes do Poder Legislativo. Esse tribunal não admite intimidações”.

VEJA TAMBÉM:

E não foi só isso. A jornalista Eliane Cantanhêde, do Estadão, que não é nenhuma iniciante – temos mais de 50 anos de carreira, ela e eu –, é confiável, com alta credibilidade, escreveu que ministros do Supremo protestaram nos bastidores contra o voto do líder do governo, Jaques Wagner, que foi favorável à PEC. O líder do PT, Humberto Costa, orientou o voto “não” e todo o partido votou contra, menos Wagner. Diz a jornalista que os magistrados da corte, sob a condição de anonimato, consideraram o voto de Wagner uma “traição rasteira” – são palavras que ela ouviu de ministros do Supremo.

O que é “traição”? Traição só vem de aliado, não de adversário. Então, o senador petista era um aliado na resistência feita pelo Supremo ao que definiam como “golpe bolsonarista”. O Supremo imaginava que haveria golpe bolsonarista, mas Bolsonaro não moveu uma palha contra o Supremo, só falou, principalmente contra Alexandre de Moraes. Mas essa expressão revela que havia um entendimento entre Jaques Wagner, PT, governo, STF, e aí vem a ameaça. A própria jornalista escreve que a postura do senador levou a um ultimato do Supremo: ou Jaques Wagner sai, ou não tem mais papo do STF com o Planalto e o governo. Ou seja, havia papo, havia entendimento entre dois poderes. Agora, com a manifestação de Gilmar Mendes, o que a Câmara vai fazer? Se não fizer nada, estará de joelhos. A Câmara vai ter de responder votando e aprovando a PEC.

O artigo 2.º da Constituição diz que os três poderes são independentes e harmônicos entre si. Mas não há mais harmonia. O que estamos vendo e ouvindo é uma cacofonia. E aí vem a pergunta: havendo desarmonia, quem é o poder moderador? Dom Pedro II não está mais aqui. Ao papa não se recorre mais. Quem é, então?

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

+ Na Gazeta

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.