Nesses tensos tempos pergunta-se às bolas de cristal como e quando vamos nos recuperar desse caos, a não ser que se repita, em território brasileiro, o milagre da ressurreição em Jerusalém, quase dois mil anos depois. Paulo Guedes certamente gostaria de acertar a previsão de que virá do investimento privado.
Investidores teriam que ter sobras, depois da pandemia, para apostar na compra de estatais, ou em concessões. Acreditando no futuro, estão os investidores em renda variável, os operadores de bolsa. Alguma coisa já cheiraram no ar, porque depois de despencar de 120 mil pontos para 60 mil, o índice da B3, ex-Ibovespa, já está chegando de novo aos 100 mil pontos. Penso que sentiram cheiro de terra e a recuperação está em enterrar dinheiro - literalmente.
É da terra que vai sair a recuperação do Brasil
Na recessão da Dilma, o agro segurou o PIB e as contas externas; agora não apenas vai segurar, na beira do abismo, como também vai indicar o novo rumo, a vocação do país que tem solo, tem clima e tem tecnologia para ser um grande produtor mundial de alimentos. E não é apenas o que vai para a nossa mesa; com a nossa terra, já podemos alimentar uma boa parte da população do planeta. Além disso, agropecuária brasileira gera uma cadeia econômica que vai muito além de suas porteiras.
Imaginemos a indústria de veículos de carga, máquinas agrícolas, implementos, adubos, fertilizantes, combustíveis; a construção de silos e armazéns, além do processamento de alimentos, algodão, celulose, fibras - uma gama sem fim de produtos de origem vegetal e animal.
Sem falar na demanda de mais capacidade de infraestrutura de transporte e escoamento: rodovias, pontes, ferrovias, portos, navios, trens, mais aviões na exportação de frutas. Estimula-se a indústria e também os serviços, setores que tanto têm sofrido com a quarentena: comércio exterior, atacado e varejo. E os benefícios ao consumidor, com preço mais barato do alimento, com reflexo na economia doméstica e nos restaurantes.
A pesquisa, a tecnologia, a biotecnologia, a ciência - mais vagas para técnicos e cientistas voltados à produtividade, às variedades, à genética vegetal e animal. A valorização das profissões no campo cada vez mais informatizado, os agrônomos, veterinários, operadores de máquinas… um mundo novo brota no solo do Brasil. Basta que o governo não atrapalhe, proteja o direito de propriedade e que o agro e seus representantes políticos, no Congresso, nas assembleias e câmaras, estejam à altura do poder e da oportunidade que estão recebendo nesta pandemia.
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