Depois da derrota da esquerda na última eleição, com a inflação indo além da meta, a carne subindo e deixando a picanha inalcançável; da dívida pública inchando rapidamente, com os cortes cada vez mais necessários sendo cada vez mais adiados; do déficit crescente; das estatais no prejuízo após um período de lucros; e das propostas de emendas constitucionais sobre os poderes do Supremo e anistia para os manifestantes do 8 de janeiro, o chaveiro suicida arremessando fogos de artifício contra o STF foi oportuno para desviar atenções e tentar conter a marcha de propostas na Câmara. Mas eis que a primeira-dama dá um corte nos acontecimentos e vira notícia com grosseria vulgar contra Elon Musk, que será governo nos Estados Unidos a partir de 20 de janeiro, e agrava com falta de compaixão e desrespeito com o morto, chamando-o de “bestão” que se matou com fogos de artifício. Ainda exibiu parceria com um ministro do Supremo.
Não poderia ter escolhido oportunidade mais inconveniente. Na véspera do G20, e em evento preliminar da cúpula, patrocinado por milhões de reais de estatais. O Rio de Janeiro já fervilhava de jornalistas estrangeiros, que tiveram a primeira aula de Brasil pela ex-docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa. As graves travessuras rodaram o mundo: BBC, Independent, Bloomberg, South China Morning Post, Times da Índia, Mint, Reuters, The Daily Beast, Wion, Hindustan Times, News 24, Indian Express, Firstposto, Inquirer, MSN, Inkl, Republic, Marca, Japan Today, The Straits Times, WCBM, Strategic News Global, Times Now, NewsX, News Bytes, Geo News, MSN, Yahoo Voices, NDTV, Devdiscurse, Indiatimes, USA Today, Benzinga, DH, The Economic Times, Bundle, There News, Channels Television. Todos se referindo ao insulto vulgar contra Elon Musk, com foto da primeira-dama e do presidente do Brasil. Que opinião esse público mundial estará formando do Brasil?
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O termo que usamos, “primeira-dama”,é uma tradição da invenção americana First Lady. Implica imaginar que a primeira-dama tem de ser uma lady. Não tem cargo público, mas cumpre um papel de Estado – e assim foram todas as que a antecederam, pelo menos na minha lembrança, que começa com dona Santinha, esposa do presidente Eurico Dutra. Discretas, seguindo a iniciativa de dona Darcy Vargas, que criou a Legião Brasileira de Assistência, e sem atrapalhar o marido, sem externar deslumbramento, com consciência da representação que é preciso exercer.
Imagino a reação, nos cinco continentes, das pessoas que leram as notícias do xingamento vulgar contra Elon Musk. Não creio que vão achar graça; imagino que ficarão espantadas, pensando que tipo de país gera uma cena dessas. O presidente ainda tentou atenuar, advertindo, em público, que “não temos de xingar ninguém”; mas soou hipócrita, porque ele mesmo, dias antes da eleição americana, afirmara, em entrevista, que eleger Trump é “a volta do nazismo e fascismo com outra cara”. Mas, enfim, a primeira-dama manteve presença nas fotos do G20. Não parece ter sido afetada pelo episódio. Afinal, ainda vai ganhar um avião novo, com chuveiro.
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