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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Atentado

Trump e Bolsonaro

Depois de ser atingido por um dos tiros disparados, Trump se voltou para o público antes de deixar o local. (Foto: David Maxwell/EFE/EPA)

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No momento em que chegou a notícia do atentado contra Trump, meu primeiro pensamento foi: “Adélio americano”. Isso resumia tudo. Candidato forte com adversário fraco, para tirá-lo do rumo à presidência, só matando. Thomas Crooks e Adélio Bispo; fuzil e faca; Biden e Haddad; Trump e Bolsonaro. Não matou, mas feriu, e o sangue lubrifica o caminho para a vitória. Gerou a foto icônica, como a de Iwo Jima, com a bandeira americana. No momento em que vi a foto, também minutos depois do atentado, percebi: é essa a peça eleitoral. No 6 de setembro de 2018 a percepção do resultado que viria após a facada é igual à percepção depois dos tiros na Pensilvânia. Bolsonaro resumiu a história: “Nos vemos na posse”.

Os agressores entraram para a história e turbinaram os mitos. John Wilkes Booth com Lincoln; Leon Czolgosz, com McKinley; Lee Harvey Oswald com Kennedy; John Hinkley com Reagan; Adélio Bispo com Bolsonaro; e agora esse Thomas Crooks com Trump. Assim como Adélio ajudou Bolsonaro, o jovem Crooks antecipa o resultado eleitoral de novembro nos Estados Unidos. Entre os americanos atacados, apenas Kennedy era do partido democrata; os demais, republicanos.

A violência – e a justificativa de atos de violência jurídica, inconstitucionais e ilegais – tem uma origem, registrada no editorial do day after, no Wall Street Journal, endossando palavras do ex-procurador-geral dos Estados Unidos William Barr: “Os democratas têm de parar com essa conversa grosseiramente irresponsável sobre Trump ser uma ameaça existencial à democracia – ele não é.” Lá como cá, inventa-se essa ameaça para justificar atos que, esses sim, ameaçam as liberdades, o devido processo legal e o Estado Democrático de Direito.

O estímulo ao ódio é semeado primeiro nas mentes, nas escolas, nas artes, na propaganda disfarçada de noticiário. Depois as mentes armam as mãos, com faca ou fuzil – ou mesmo com paus e pedras, que também matam. A camuflagem é o amor, que atualiza a profecia de George Orwell no seu 1984. No livro, o Ministério da Verdade estabelece que Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força. Estão acrescentando Ódio é Amor. Você recebe todos os dias essa mensagem.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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