Mais uma eleição se aproxima e chega a hora decisiva de escolher o número a ser digitado. Não pode ser por sorteio. Decidir futuro é vital. Ou fatal. Um em cada cinco eleitores prefere não fazer escolha alguma, assustado com os candidatos arranjados pelos partidos. Avaliam-se as escolhas pelos resultados. E aí vemos que não houve boas escolhas. Peguemos a escolha do presidente da República como referência. No início do século, foi eleito o candidato do PT, prometendo acabar com a fome. Convenceu o Brasil e o mundo. Virou celebridade no mundo por acabar com a fome no Brasil. O candidato e seu partido ficaram no poder pela maior parte desses 21 anos, e eles próprios se queixam de que o Brasil tem 33 milhões de famintos. Passam atestado, eles mesmos, de que foi só discurso para continuarem no poder.
Por essa atitude ingênua de eleitores é que os poderosos da política julgam que somos todos tuteláveis. Massa de manobra que não pensa, não reflete e é fácil de ser conduzida. Enquanto forem carentes, serão atendidos com Bolsa Família e auxílios afins. O governo é o pai bonzinho. Nem sequer lhes passa pela cabeça perguntar de onde vem o dinheiro. Os tutores, para reforçar o vínculo (“vínculo” vem de corrente, em latim), usam a instrução, o ensino escolar, para catequizar as crianças em sua religião ateísta e materialista. Já tomaram os votos de hoje; querem tomar também as mentes de amanhã.
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Aquilo que o poder político faz desde Cabral, o Poder Judiciário percebeu que também pode fazer, “empoderando-se”. Testou na pandemia, cancelando direitos e garantias fundamentais, e todo mundo obedeceu. Passou a investigar seus ofensores, bloquear seus canais e contas, cassar-lhes os passaportes e prendê-los. O direito de manifestação ficou sob censura; deputados e senadores passaram a ser violáveis por suas palavras. E todo mundo ficou quieto. A tutela já vem dos três poderes. E o poder original, o povo, foi achando que é natural, se tiver Bolsa Família e afins. Alimente-os e domine-os. E vão nos domesticando.
Não é chocante, tudo isso? Estamos nesse processo de domínio. Parece 1984, de Orwell, e temos de evitar que o futuro seja o de A Máquina do Tempo, a ficção de H.G.Wells em que os Morlocks acabam por dominar os Elois, os ingênuos bonzinhos que não perceberam enquanto cediam suas liberdades. No dia 7 de setembro, uma parte desses Elois saiu para as ruas, mobilizados pela voz digital libertadora. Vivemos dias de resistência. A verdade que liberta carece de vozes que saibam argumentar, além de gritar. O poder inflado e ilegal não cede e reforça seu espírito-de-corpo. A rede digital que deu voz a todos também estimulou o conforto de muito dizer e pouco fazer. E assim vamos, coerentes à nossa história, cheia de enganos e engodos, enquanto se usa a falta de conhecimento para exercer a tutela.
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