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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Venezuela

Vitrine ou espelho?

O ditador Nicolás Maduro exibe a ata do CNE proclamando sua “reeleição”. (Foto: EFE/Ronald Peña R.)

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Quando olho para a Venezuela vejo expostos, como numa vitrine, o que evitar no Brasil; mas esse olhar também me dá a desagradável sensação de um cenário heurístico para o Brasil – como me disse um reitor, que me fez consultar o dicionário. Ele quis dizer que a Venezuela nos oferece um cenário pedagógico, quando a gente procura soluções para o Brasil. Maduro não consegue convencer ninguém de que fez 52% dos votos (já foi 51,21%), porque há a comprovação das tais actas. Não consegue convencer ninguém que um governante ficar 17 anos no poder é democrático; não consegue esconder a violência da repressão policial e de suas milícias. Ninguém à exceção do governo brasileiro e governos interessados fisiologicamente. A ideologia vem em segundo plano.

Os venezuelanos sabem dos interesses envolvidos. Maduro não é o indivíduo, mas o que ele representa, digamos até como testa-de-ferro. Para China e Rússia, são interesses econômicos no potencial gigantesco da Venezuela, no subsolo e na localização geográfica. Depois que a União Soviética acabou, a garantia de Cuba é a Venezuela. Empresas americanas têm grandes interesses no petróleo e nas riquezas minerais venezuelanas. A China investe na vizinha Guiana; quem já andou por Georgetown testemunhou isso. E o pior são as organizações criminosas, principalmente do narcotráfico, o que mostra o interesse dos governos do México e Colômbia em se associarem ao Brasil para buscar uma solução favorável a Maduro, evitando a ação do órgão regional óbvio, que é a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Isso já transbordou para o Brasil, e não falo no Palácio do Planalto e do Itamaraty, que isso todo mundo sabe. Transbordou literalmente para Roraima, onde a facção venezuelana já se defronta com o Primeiro Comando da Capital, que é presente em Manaus e sente a “invasão” venezuelana. Não dá para fingir que não existe, e tentar deixar desinformado o cidadão brasileiro, que paga impostos também para ter segurança. Mais do que isso: mesmo com a benemérita Operação Acolhida, já temos a indústria de cidadãos brasileiros. Mães venezuelanas que vêm dar à luz em hospitais públicos brasileiros e pais venezuelanos que registram seus filhos em cartórios brasileiros e logo recorrem ao Bolsa Família, que os brasileiros pagam.

A Venezuela nos faz lembrar o óbvio: o Estado só existe para servir à nação. A nação somos nós, eleitores, pagadores de impostos, cidadãos. Os integrantes do Estado são nossos servidores. Todos eles. Não são donos do Estado, nem seus partidos, porque os donos do Estado somos nós. Quando um presidente quer ampliar empresas estatais, é porque quer ser proprietário do Estado, para poder empregar seus seguidores e levantar dinheiro para eleições que legalizem esse patrimonialismo. Em troca, oferece um dinheirinho-esmola à clientela desinformada, que tudo aceita. É por isso que alguém como Maduro, ou semelhantes, engana tanta gente. Que nos miremos nessa vitrine, que também reflete a nossa cara.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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