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Nesses quase 45 anos de Brasília, cobrindo 23 eleições de presidentes da Câmara e do Senado, não lembro ter visto uma que trouxesse tanta perspectiva de mudança, incluindo influência na próxima eleição presidencial. Os dois antecessores contribuem para que se tenha a sensação de mudança da água para o vinho, nesses primeiros dias de nova administração na Câmara e no Senado. Com a pandemia e o país à espera de soluções legislativas urgentes, nesses meses de campanha para permanecerem na presidência, Maia e Alcolumbre só viam os próprios interesses. Pacheco e Lira mostram o oposto disso.
Como num toque de varinha mágica, matérias importantes recebem um levanta-te e anda! O radicalismo de Maia é substituído pela diplomacia de Pacheco e o diálogo de Lira. Juntos, assumem compromisso com o país e exorcizam a disputa por vaidades. Sobretudo, põem em prática a harmonia entre poderes, conversam sem restrições com ministros e com o chefe do Executivo.
Levanta-se a autonomia do Banco Central que dormitava na Câmara e já recebe urgência; as reformas administrativa e tributária são religadas; no quadragésimo dia do ano, vai se instalar a Comissão Mista do Orçamento de 2021 - incrível descaso movido pela sede de poder. Acerta-se com o Executivo um rol de prioridades; garantem-se mudanças legais que sejam necessárias para atender a mais gastos sociais com a pandemia.
A maioria se reencontrou, na eleição em que os vencedores fizeram mais que o dobro de votos do segundo colocado. Na Câmara, o placar sepulta a esperança dos derrotados em 2018 de buscarem o tapetão do impeachment. E já se projetam os resultados de 1º de fevereiro de 2021 para 2 de outubro de 2022. Percebendo o rumo dos acontecimentos, Doria convida Maia para o PSDB, mas FHC reconhece que resultado na Câmara é um adeus à ideia de evitar reeleição; Lula indica Haddad de novo; a esquerda se divide, também tem Ciro e Boulos. Se a harmonia produtiva entre Legislativo e Executivo durar 20 meses, não haverá surpresa em 2022.