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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

"Dama do crime"

Caso das visitas ao Ministério da Justiça mostra os tentáculos do crime organizado

Luciane Farias, mulher do líder do Comando Vermelho no Amazonas. (Foto: Reprodução/ Instagram )

O chamado crime organizado, as grandes quadrilhas do Brasil, já tomou conta de parte do território brasileiro há muito tempo, basta ver no Rio de Janeiro. Há décadas existem territórios – eu chamaria de “território liberado”, um conceito internacional – que são santuários do crime. Ali ninguém entra, a não ser autorizado por quem manda lá dentro. E quem controla a área faz distribuição clandestina de gás, de internet, essas coisas. Na política também, sabemos que há representantes de facções criminosas nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas e no Congresso Nacional. É porque nós permitimos, nós deixamos.

Agora, vemos também, de alguma forma, a apropriação do Ministério da Justiça. As pessoas vão lá para reivindicar, e isso incluiu gente do Comando Vermelho da Amazônia. Foi um escândalo, o ministro disse que não sabia de nada. Aconteceu em março, e de lá até aqui parece que ninguém comunicou o ministro sobre essa comitiva pedindo melhores condições nos presídios do Amazonas. Se é o ministro quem decide, não sei por que isso não chegou a ele, se passou por três secretarias que têm ligação direta com o ministro.

E vimos também que as “contas-correntes do crime” usam bancos oficiais. O Estadão revelou documentos apreendidos pela Polícia Civil do Amazonas, dois recibos da Caixa Econômica Federal e dois comprovantes do Banco do Brasil, de pagamento à advogada que conseguiu as tais audiências no Ministério da Justiça, e que somam mais de R$ 23 mil.

Mas não entendi por que que o procurador Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público junto ao TCU, está pedindo investigação sobre essas audiências. Tribunal de Contas não é o órgão do Judiciário; é do Legislativo, e trata de contas públicas. Haverá justificativa se a ONG Instituto Liberdade do Amazonas, que se preocupa com a situação dos presos, tiver recebido dinheiro público. O procurador está preocupado com outra coisa: com a moralidade pública, que precisa ser respeitada; a sociedade não aceita condutas imorais e suspeitas – e se é imoral, já passou de suspeita, não? Mesmo assim, não entendi bem por que o Ministério Público do Tribunal de Contas da União tem de se preocupar com isso.

Temer descreve a chave para equilíbrio entre Supremo e Congresso

Foi brilhante o que o constitucionalista, advogado e ex-presidente da República Michel Temer – que indicou Alexandre de Moraes para o Supremo – disse em um seminário promovido pelo Estadão, na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Temer disse que o Supremo pode declarar omissões do Legislativo, mas não pode supri-las. Não há possibilidade de decisão acima do texto constitucional. O Supremo pode até decidir, mas, se depois vier uma emenda constitucional aprovada pelo Congresso, deixa de vigorar a decisão do Supremo a partir da promulgação dessa emenda. E ele completa: “É assim que você compatibiliza a atuação dos dois poderes”, ou seja, a relação entre Legislativo e Supremo. Uma verdadeira aula.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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