Adriano Gabiru não quer falar sobre Athletico e Inter; ou a vida entre o mito e o meme
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Adriano Gabiru não quer falar sobre Athletico e Internacional. Pelo menos até a publicação deste texto. Falará em algum momento sobre a grande decisão da Copa do Brasil da temporada 2019? Não se sabe, pode ser que fale.
A Gazeta do Povo entrou em contato na sexta-feira (6) e o ex-jogador não se mostrou receptivo, pediu para ligar outro dia, mandar qual seria a ideia por WhatsApp. Direito dele, claro. Mas todo mundo quer saber a opinião do Adriano sobre o duelo fundamental.
Por motivos óbvios. O filho de Maceió é talvez, ou possivelmente, o jogador mais importante da história das duas equipes envolvidas na disputa em 180 minutos por R$ 50 milhões e a glória. Parece exagero? É fácil justificar, acompanhe.
No Athletico, Carlos Adriano de Souza Vieira chegou em 1997 e logo pegou o apelido que o acompanha até hoje, conferido pelo goleiro Flávio. Gabiru, no Nordeste, é o sujeito mirrado, franzino. Gabiru, no dicionário, é o cara gaiato, esperto. Adriano era os dois.
No CT do Caju, cresceu e foi campeão paranaense pelo Furacão, em três Atletibas eletrizantes já em 1998. Desenvolveu uma técnica que o fazia ganhar de zagueiros imensos no cabeceio, projetando antes o seu 1,72m para ocupar o espaço aéreo onde a bola chegaria.
E como um meia enjoado, daqueles que todo zagueiro adora rachar, Adriano fez história. Foi o dínamo da meia-cancha atleticana. Como dizem os técnicos hoje em dia, sabia "pisar na área" e marcar gols. Levantou ao menos seis títulos: da Seletiva, quatro do Paranaense e o maior de todos, o Brasileiro de 2001.
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Partiu para a França para realizar o sonho de jogar na Europa. Foi ser jogador internacional no Marseille, mas a glória internacional viria mais tarde, no Internacional. Virou mito, como o herói mais improvável do atual maior rival do Furacão.
E se não há a menor dúvida de que Paulo Roberto Falcão é o principal ídolo do Colorado, é certeza que Adriano, sim, o Gabiru, é o autor do gol mais importante da história do clube, em 2006, na final do Mundial contra o Barcelona, o único do clube. Para tanto, bastaram só cinco minutos.
Gabiru saiu do banco aos 31 minutos da etapa final, no Japão. Aos 36, fez 1 a 0 para o Inter com um só toque na saída de Valdés, derrubou o império barcelonista de Ronaldinho Gaúcho, Deco e Iniesta. Virou lenda e nunca soube exatamente o que fazer com isso.
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A partir daí, alçado ao posto de figura histórica, imortal, mas ainda vivo, acabou também personagem principal de uma novela recheada de mágoas e desencontros. Foi emprestado ao Figueirense logo no ano seguinte.
Desde então, as relações entre Adriano e Inter nunca foram como deveriam ser. O jogador chegou a processar o clube na Justiça, cobrando dívidas em uma ação trabalhista e direitos sobre a exposição de sua imagem. No ano passado, houve um acordo.
A pendência financeira foi encerrada mas a sentimental não. E hoje, como se sabe, Gabiru não quer falar sobre Athletico e Internacional. Nunca esteve confortável sob os holofotes, diante dos microfones e agora, veterano, não precisa deles.
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Exposição? Só na condição de meme, a mais nova persona de Adriano. Ao lado do inseparável companheiro Perdigão, também ex-atleta, os dois são sensação no WhatsApp, em áudio, vídeo, stickers etc. Viralizam adoidado.
Gabiru segue a vida como sempre quis. Apavorando nas peladas de master, seja com a camisa do Furacão ou a do Inter, em turnês por cidades do interior. Jogar bola é a dele e, aos 42 anos, dizem os companheiros de pelada, continua chato de marcar e, um pouco, para dar entrevistas.