Opinião

Estou em pânico: São Januário e Monumental de Nuñez ameaçados pela “arenização”

Por
André Pugliesi
01/09/2020 17:06 - Atualizado: 29/09/2023 23:13
Estou em pânico: São Januário e Monumental de Nuñez ameaçados pela “arenização”
| Foto: Arquivo pessoal

Estou em pânico. Os estádios de São Januário, do Vasco, e o Monumental de Nuñez, do River Plate, entraram na rota da "arenização". Ambos estão sob ameaça de projetos que os transformariam, como é praxe, em praças esportivas iguais a todas as outras.

Como ocorreu com o Maracanã e outras canchas pelo Brasil. Sob o pretexto da Copa do Mundo, e os "encargos da Fifa" para confortar os bumbuns de veludo da cartolagem, nossos palcos são hoje espaços default de jogos de videogame.

No Rio, há anos o Vasco estuda possibilidades de ampliação e modernização da Colina Histórica, erguida ainda nos anos 20 no bairro de São Cristóvão. Alguns parecem inspirados em lojas de varejo e modelos hitec de impressoras.

Um dos projetos para São Januário. Reprodução/Internet
Um dos projetos para São Januário. Reprodução/Internet

Na mesma situação está o Antonio Vespúcio Alberti, da década de 30, apelidado de Monumental de Nuñez, embora esteja em Belgrano. Está em curso a remoção da pista de atletismo e há projeções para cobertura etc.

A nova cara da casa dos Millonarios. Reprodução/River Plate
A nova cara da casa dos Millonarios. Reprodução/River Plate

É tremendamente preocupante. Conheço bem Nuñez e São Janu, duas das canchas mais clássicas do planeta, com identidade própria, seus trunfos e problemas, concreto recheado de história, dramas e júbilos.

A revolta dos bumbuns de veludo com a falta de cappuccineria nos estádios

E sempre que alguém se opõe a projetos de, em tese, modernização, alguns, com sua infinita razoabilidade, respondem: "Ah, então você gosta é de falta de segurança e desconforto, levar saco de mijo na cabeça".

Não exatamente. Primeiro que, segurança, convenhamos, é apenas o básico e obrigatório. E, depois, noção de conforto é algo bastante variável, depende de pessoa para pessoa e, até, de momento para momento.

Há quem goste de ir ao estádio como mero espectador: beliscar pipoquinha trufada, sorver um cappuccino bem tirado e curtir um banheiro com assento sanitário almofadado. Tenho até amigos que são assim. Nada contra.

Outros, precisam só de um metro quadrado de chão, em pé mesmo. Vão ao jogo para participar, encontrar os camaradas e, se tiver uma janelinha vendendo cerveja, é o suficiente. Também tenho amigos que são.

Cada um na sua. Mas, por que os novos estádios reservam espaço para só um tipo? Na Europa, alguns estádios reservam espaço para todos os gostos e já um movimento crescente para a retomada das arquibancadas com todos em pé.

Projetos de "arenização" tentam empurrar "conforto". Mas pra quem?

Tais projetos invariavelmente tentam empurrar goela abaixo a noção de "conforto" dos dirigentes dos clubes ou, até, para atender interesses de empresas envolvidas com as obras. Quando os estádios são propriedades, apenas, dos donos da casa.

Assim, não deve, ou não deveria, haver nenhuma conversa que não garantisse dois pontos principais. A preservação da identidade dos estádios, seja qual for a remodelação. E o desejo dos torcedores dos clubes.

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Trabalhou na Gazeta do Povo entre 2005 e 2023. Cobriu, in loco, o Pan-Americano do Rio de Janeiro, em 2007, a Copa América da Argentina, em 2010, a Olimpíada de Londres, em 2012, a Copa do Mundo do Brasil, em 2014, e a Copa do Mun...

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