Em 2021, a energia elétrica brasileira ficou em média quase 1/3 mais cara. Além da inflação mundial elevada em virtude dos problemas econômicos causados pelas medidas de lockdown, a energia destoou negativamente do restante dos bens por força da maior crise hídrica enfrentada pelo país em quase um século somada à alta dependência pela matriz energética nacional da energia gerada por hidroelétricas.
O tema foi objeto constante de abordagem midiática. Há, contudo, um dado muito relevante nessa equação que, a meu ver, recebe insuficiente atenção: a oferta reduzida de energia elétrica não é só um problema de custo da conta de luz ou do risco de ficar uma noite no escuro. A oferta abundante de energia barata é um fator fundamental para o crescimento econômico e para a redução da pobreza.
Com efeito, há um farto registro de dados demonstrando que existe uma correlação clara entre a disponibilidade de energia e o padrão de vida. Veja no gráfico abaixo, por exemplo, o qual coteja níveis de uso de energia por pessoa e riqueza per capita no país, com números do ano de 2019. A curva ascendente deixa patente que à medida que o consumo de energia sobe (coluna da esquerda) a renda tende a subir também (linha inferior).
O gráfico também demonstra que a população nos países de renda elevada consumiu em geral mais de 30 mil kWh. A América do Norte ficou em quase 90 mil, ao passo que a maioria das mais importantes nações europeias giravam acima dos 40 mil kWh.
Enquanto isso, países africanos famosos pela extrema pobreza tiveram consumo de menos de mil kWh, e a média mundial registrou consumo de pouco mais de 20 mil kWh. O Brasil, por sua vez, ficou na casa dos 16 mil kWh.
Logo, é evidente que para o Brasil crescer e gerar melhores padrões de vida para sua população ele precisa ampliar significativamente sua oferta de energia a preços razoáveis. Isso exige que ele aumente de modo considerável sua produção de modo acelerado e sustentável. Dentre as fontes possíveis, a energia hidrelétrica já apresenta saturação de suas fronteiras em vista da dimensão das obras, o que implica em fortes impactos ambientais, além de que crises hídricas têm fortes efeitos sobre sua capacidade produtiva. A energia eólica e a solar, cada vez mais importantes, apresentam o problema da intermitência, fator de perda de eficiência e de menor segurança de fornecimento de energia para o sistema. As termelétricas, por sua vez, como veremos em detalhe à frente, são altamente poluentes, inseguras e, no Brasil, bastante caras.
Resta, portanto, a opção da energia nuclear. Seu uso destaca-se na Europa, Estados Unidos, Canadá e Rússia. Na França, por exemplo, quase 70% da energia elétrica é produzida por fontes nucleares, enquanto na Suécia e na Finlândia, por volta de 1/3. Após forte expansão na segunda metade do século passado, os níveis mundiais de energia nuclear produzida estagnaram nos anos 2000, sendo que no Brasil menos de 2% provém dela.
Aqui apontamos 3 razões pelas quais acreditamos que o Brasil deve investir pesada e urgentemente em energia nuclear.
1) ENERGIA NUCLEAR É ALTAMENTE SEGURA
Todas as fontes energéticas possuem efeitos negativos, dentre os quais destacam-se: 1) poluição do ar; 2) acidentes ocorridos durante a construção das plantas, transporte ou manejo do processo produtivo; e, 3) emissão de gases de efeito estufa.
Examinando todas essas variáveis, a energia nuclear – assim como as demais renováveis – são muito mais seguras do que as energias geradas por combustíveis fósseis ou biomassa.
Veja os dados no seguintes gráfico:
A partir dele, podemos concluir que a energia nuclear resulta em 99,75% menos mortes do que o carvão (brown coal e coal); 99,6% menos que o petróleo (oil); e 97,5% menos que o gás.
Para tornar os números mais concretos: para cada cidade que consuma 1 terawatt-hora de energia elétrica por ano (na média, isso é consumido por uma cidade europeia de quase 200 mil habitantes), anualmente teríamos o seguinte número médio de mortes para cada tipo de energia:
i) 25 pessoas morreriam por ano a partir da produção de energia por carvão;
ii) 18 por petróleo;
iii) 3 por gás;
iv) enquanto, na média, ninguém morreria pela produção de energia nuclear. De fato, com uma taxa de mortes de 0,07 por ano, demoraria na média 14 anos para que a primeira pessoa fosse vitimada.
Ou seja, morrem mais de 350 vezes mais pessoas em decorrência da produção de energia utilizando carvão do que energia nuclear.
É curioso, porque esses fatos tendem a chocar-se contra o senso comum. O que ocorre com a energia nuclear é semelhante ao que acontece com os meios de transporte. Em geral, as pessoas têm muito mais receio de viajar de avião do que de carro ou ônibus, embora a chance de morrer num acidente de carro seja muito superior. Contudo, acidentes de avião tendem a ser mais chocantes, em virtude do número de pessoas que morrem em cada um deles e da forma como são noticiados. Do mesmo modo, ao ouvir falar de energia nuclear, o público tende a pensar em Chernobyl ou Fukushima, mas eventos como aqueles são extremamente raros e acidentes com contaminação não são a única causa de morte relevante.
Vale a pena chamar a atenção para o fato de que o raciocínio que você deve fazer não é: morrem pessoas por causa da energia nuclear, logo é melhor não utilizá-la. Na verdade, a energia será produzida, por uma fonte ou outra. Então a questão é: com qual fonte pouparei mais vidas? Logo, tendo em vista que no Brasil os gargalos energéticos são cobertos com energia fóssil das termelétricas, cada usina nuclear que dispense aquelas fontes estará salvando vidas.
2) ENERGIA NUCLEAR É UMA DAS FONTES DE ENERGIA MAIS LIMPAS
Para além dos impactos de curto prazo, temos de levar também em conta os impactos de longo prazo de cada fonte de energia. Ou seja, examinar seus impactos não só para as presentes, mas também para as futuras gerações. Aqui, temos uma boa notícia: os interesses são coincidentes, visto que as energias mais seguras são também as menos poluentes.
É sabido que as energias renováveis tendem a ser mais limpas. O que é interessante perceber é que mesmo dentre as energias renováveis, a nuclear é a responsável pelas menores emissões de gases de efeito estufa.
Todos esses dados constam do seguinte gráfico, sendo que as barras da direita apontam os níveis de emissão:
Como se percebe, para cada tonelada de gases de efeito estufa emitida pela produção de energia nuclear cerca de 11 toneladas são lançadas na atmosfera pelas energias hídricas, as mais utilizadas no Brasil. Em relação aos combustíveis fósseis, a disparidade torna-se ainda maior: seguindo essa métrica, o carvão polui 273 vezes mais; o petróleo 180 vezes; enquanto o gás natural, 163 vezes.
3) ENERGIA NUCLEAR TEM CUSTO COMPETITIVO EM RELAÇÃO A OUTRAS FONTES
Embora o custo de produção de energia eólica e solar tenha despencado velozmente ao longo dos últimos anos, os custos de produção de energia nuclear são competitivos em relação a outras fontes, tendo a vantagem de ser limpa, segura e constante (não intermitente).
Conforme matéria veiculada neste jornal,
“Depois de construídos, reatores nucleares demandam pouca manutenção e, por isso, geram eletricidade a um custo mais baixo do que usinas movidas a vento ou luz do Sol — cuja oferta, no mundo inteiro, ainda é altamente subsidiada. Elas também ocupam muito menos espaço do que, por exemplo, uma usina hidrelétrica. Como podem ser construídos em qualquer lugar, os reatores nucleares reduzem os custos com linhas e estações de transmissão e distribuição.”
No Brasil, com exceção de Angra 3 (por razões particulares e excepcionais), a energia nuclear – gerada por Angra 1 e 2 – é comparativamente barata. Segundo dados fornecidos pela Eletronuclear relativos a setembro de 2021, a energia nuclear apresentou naquele período um custo entre R$ 20,12 e R$ 31,17 por mWh, enquanto a termelétrica mais barata não ficou abaixo de R$ 80,11, com a grande maioria pairando acima de R$ 200,00 e algumas delas ultrapassando R$ 700,00 e chegando a mais de R$ 900,00.
Por conseguinte, visto que a produção abundante de energia é essencial para o aumento do padrão de vida e a redução da pobreza, e levando em conta que a energia nuclear é limpa, segura e pode ser produzida com custos competitivos, cremos que o Brasil deve investir pesado e o mais rápido possível nessa espécie de fonte energética.
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