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Em seu discurso para a Assembleia Geral do ONU, o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro fez um “apelo a toda a comunidade internacional, pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”.
De fato, inúmeros dados indicam que a cristofobia, enquanto manifestação e promoção de ódio e desrespeito contra cristãos, seus símbolos e suas crenças, é um fenômeno endêmico e crescente no mundo.
Segundo matéria da Associação Católica de Imprensa, em abril deste ano, “o Papa Francisco dedicou algumas palavras de recordação aos cristãos que hoje em diferentes partes do mundo sofrem perseguição e até martírio.” Lembrando os primeiros séculos do cristianismo, sabidamente marcados por uma dura e sangrenta perseguição aos cristãos, o Papa afirmou que o número atual de mártires é superior ao daquele período.
Segundo reportagem baseada nos dados da Open Doors, entidade que elabora relatórios anuais sobre a perseguição aos cristãos em dezenas de países, só em 2019, cerca de 260 milhões de cristãos foram severamente perseguidos. Quase 3 mil foram assassinados. No ano anterior, o número de homicídios de cristãos ultrapassou a marca dos 4 mil.
Ao contrário do que alguns poderiam imaginar, não se trata de um fenômeno exclusivo da África, Ásia e Oriente Médio. Ele também ocorre no Ocidente.
O número de atentados anticatólicos na Europa, por exemplo, tem crescido rapidamente, segundo informações do “Observatório de Cristofobia”, com sede em Paris na França. Mês a mês, usando um mapa interativo, a entidade classifica os atos anticatólicos em seis tipos: incêndio criminoso, assassinato, vandalismo, roubo, bombardeio e sequestro. Conforme matéria da Associação Católica de Imprensa:
"A diretora do Observatório sobre a Intolerância e a Discriminação contra os Cristãos na Europa (OIDACE) em Viena, Ellen Fantini, destacou que, embora os incidentes anticristãos registrados oficialmente tenham permanecido estáveis nos últimos dois anos (1.063 em 2018 e 1.052 em 2019), aumentaram 285% entre 2008 e 2019."
"Em entrevista à CNA, Fantini destacou que, entre os países que informam os ataques, os números estão aumentando e destacou que 'de acordo com dados fornecidos à OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) pelo Reino Unido, os crimes anticristãos dobraram de 2017 para 2018”.
Só o Ministério do Interior da França registrou quase mil atentados anticristãos no país só no ano de 2019. São quase três atentados por dia.
Perceba: caso a imprensa estivesse disposta a dar o destaque devido ao fato, só na França poderia mostrar um atentado diferente todos os dias em cada turno jornalístico.
Existe, no entanto, uma nítida tentativa de mascarar a gravidade do fenômeno, o que nada mais é do que mais um sintoma da perseguição.
E não é diferente nas Américas.
No México, a Igreja Católica tem sido perseguida pelos cartéis criminosos. No Canadá, atentados anticristãos também ocorrem com frequência.
Há ainda uma outra forma de perseguição no país. Mais velada; porém, não menos opressiva. Trata-se de agressões simbólicas e intimidações por órgãos de Estado.
Com efeito, têm sido constantes peças satíricas e provocativas. Um exemplo recente, foi uma peça produzida pelo grupo Porta dos Fundos. O caso gerou um processo na Espanha e um representante legal da Netflix naquele país reconheceu o caráter agressivo do material. Conforme noticiou a Gazeta do Povo: “Uma representante legal da Netflix na Espanha admitiu que o filme 'A Primeira Tentação de Cristo', do grupo Porta dos Fundos, é ofensivo para os cristãos, segundo a Asociación Española de Abogados Cristianos (Associação Espanhola de Advogados Cristãos), que denunciou a Netflix em um tribunal de Madri". Segue a matéria, informando que: "A denúncia foi acatada pelo tribunal em fevereiro. Na quarta-feira (9), a associação fez uma publicação no Twitter afirmando que o representante legal da Netflix na Espanha reconheceu, em declaração judicial, que o filme é ofensivo".
Outro caso: no ano passado, o Ministério Público do Estado de Pernambuco perseguiu um sacerdote católico por promover um abaixo-assinado para limitar o alcance da decisão do STF que criou um delito de homofobia por analogia ao crime de racismo.
Para mostrar que o fenômeno não é necessariamente recente, em 2013, um grupo de jovens católicos distribuía alguns panfletos sobre a doutrina religiosa acerca do matrimônio, quando foram física e verbalmente hostilizados por grupos contrários ao seu posicionamento. O fato foi registrado à época pelo colunista Carlos Ramalhete, com as seguintes palavras: “A agressão, desavergonhadamente gravada por um dos que a perpetraram, pode ser vista na internet. É assustador: blasfêmias e berros obscenos a centímetros do rosto, empurrões e ofensas, respondidos apenas com orações e silêncio. Uma pedrada, registrada no 1.º DP, atingiu um dos rapazes do IPCO, que precisou ir ao hospital e receber três pontos de sutura na cabeça.” Na matéria, há um vídeo que mostra os fatos.
Recentemente, em postagem no Twitter que depois foi apagada, o escritor Paulo Coelho falou de um suposto talibã cristão, numa nítida tentativa de vincular evangélicos e católicos ao grupo extremista talibã, responsável por atos de terrorismo e violência. É claramente um discurso de ódio, que pretende associar no imaginário popular os cristãos brasileiros e grupos de fundamentalismo violento.
Há também relatos de perseguição nas universidades. Uma fonte que não quis se identificar afirma que em sua seleção para o doutorado de jornalismo em uma instituição pública, seu orientador confessou que enquanto ela estava fora da sala, os demais membros da banca examinadora afirmaram expressamente que pretendiam reprová-la pelo fato de ser católica. O orientador – que é ateu – afirmou que conseguiu dissuadi-los. Neste caso concreto, a conduta caracteriza nítido crime de racismo. Questionei-a por que não buscou responsabilizá-los, ao que ouvi que isso representaria sua colocação numa lista negra e que todas as portas se fechariam. Isso mostra que se trata de um cenário de opressão estrutural, o que torna extremamente difícil qualquer reação por parte das vítimas.
Ainda, em 2013, durante a visita do Papa Francisco ao Brasil, integrantes da chamada “Marcha das Vadias” “quebraram imagens sacras, símbolos da fé católica”, “estamparam ícones de Cristo nas partes íntimas”, outras colocaram imagens na vagina e no ânus. As cenas circularam pela internet na época.
Neste ano, “um grupo de evangélicos publicou (...) o 'Manifesto Acerca das Difamações e Demonstrações Públicas de Desprezo Contra os Cristãos', no site 'Coalizão pelo Evangelho' (...). O ato é uma defesa da atuação de cristãos no governo e uma reação a ataques feitos contra personalidades que professam publicamente a sua crença."
O manifesto foi lançado pouco após um fato inaceitável: um grupo produziu e divulgou uma marcha zombando do abuso sexual sofrido pela Ministra Damares Alves, a qual sofre ferrenha perseguição especialmente por ser evangélica de perfil conservador.
Enfim, os fatos são inúmeros. De inúmeras formas grupos cristofóbicos promovem o ódio, o escárnio e o preconceito. Apesar da imensa quantidade e gravidade dos fatos, percebe-se que recai sobre eles uma espécie de pacto de silêncio, tornando-os socialmente invisíveis.
É necessário lançar luzes sobre esse fenômeno de ódio e perseguição, bem como pensar em mecanismos jurídicos e políticas públicas que possam fazer frente a tais fatos. Ademais, é preciso continuar sensibilizando a comunidade internacional para que tome medidas adequadas para proteção da dignidade e dos direitos humanos das vítimas de cristofobia.