Instituição global comprometida em promover a criatividade na música, a Red Bull Music Academy se instala em uma cidade-sede diferente a cada ano desde 1998, reunindo um grupo de produtores, vocalistas, beatmakers, instrumentistas e DJs de todo o mundo.
Durante um mês, os artistas selecionados participam de sessões e aulas com pioneiros no mundo da música, e colaboram musicalmente com esses convidados e com os outros participantes. À noite, a Academia apresenta um festival com shows e festas realizadas em locais especiais da cidade, cada um deles apresentando um elemento diferente da identidade musical e cultural única da metrópole anfitriã do evento.
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O Blog conversou com um dos participantes da edição de 2014, Daniel Limaverde. Compositor e produtor musical de 24 anos, filho do cantor e compositor cearense Ednardo, Daniel cresceu em um ambiente musical rodeado de instrumentos, aprendendo-os de forma autodidata desde criança.
Através de suas faixas demos, foi selecionado em 2014 para participar do Red Bull Music Academy em Tóquio, no Japão. Em 2015 foi convidado para realizar uma tour pela Califórnia, Oregon e Washington para um programa de residência artística do governo dos EUA chamado OneBeat, onde compôs uma peça orquestral estreada em Seattle com performance executada por músicos de diversas partes do mundo. É ainda compositor de trilhas sonoras de longa metragens, como a do filme “A Morte de JP Cuenca”, trilhas de programas da Globo, performances audiovisuais e outros trabalhos. Seu primeiro lançamento como artista solo será no primeiro semestre de 2016, através de um selo americano.
Confira a entrevista com o jovem produtor.
Entrevista com Daniel Limaverde
Antes de entrarmos no tema de sua participação no Red Bull Music Academy, gostaria que falasse um pouco sobre a sua história com a música. Como filho de compositor, imagino que sua influência musical deve ser bastante intensa. Como isso auxilia atualmente em suas produções e também no seu trabalho como DJ?
Acredito que as influências mais significativas foram de quilate social, influências que emolduraram meu pensamento ao invés de uma influência que teve impacto direto no meu som. A possibilidade de poder escolher seguir uma carreira artística sem haver tantos impedimentos familiares, como é comum para tantas pessoas, foi um fator importante.
Eu entrei na faculdade de Psicologia da UFRJ mas decidi sair ainda no primeiro mês pois já sabia que o que realmente queria era fazer música. Cresci com música alta tocando em nosso apartamento o dia inteiro, cheio de instrumentos ao redor da casa, indo a vários shows de meu pai, etc. Realmente não sei se eu acabaria por ser músico se tivesse nascido em outra condição, pois o ambiente do meu bairro/escola foi absolutamente desestimulante para alguém que queria ser músico (ironicamente cresci em Ipanema, berço da bossa nova).
Acabar trabalhando como DJ foi algo recente, mas tem sido muito recompensador. Acredito que o que eu tenho feito, tem funcionado porque percebi logo cedo que um bom DJ set é como compor a estrutura de uma música: você precisa saber o que as pessoas esperam e o que elas não esperam, e então criar clímaxes e anticlimaxes modulando a energia, expectativa e tensão como uma espécie de terapeuta, ou de gigolô (risos). A maior parte das pessoas que vi tocarem na minha cidade, o Rio, e não tem experiência como músico, acham que é só manter a energia no alto o tempo inteiro, mas isso pra mim soa como uma transa mecânica.
Como foi vivenciar a Red Bull Music Academy? Quando decidiu se inscrever, já imaginava que poderia ter a experiência de se apresentar ao lado de grandes nomes do mundo todo e além disso, viajar por vários países em eventos da marca?
Decidi me inscrever no RBMA simplesmente porque estava interessado na experiência. Não foi uma “estratégia de carreira” com a intenção de ter acesso à marca ou algo do gênero. Especialmente no meu caso, que nunca havia lançado nada e fazia música sozinho no meu quarto. A viagem para Tóquio para participar do RBMA foi a primeira vez que pisei fora do país, e foi a primeira vez que estive em um ambiente tão estimulante em tantos sentidos, as pessoas, as palestras, música, estúdios, cultura, a cidade, tudo. Foi muito importante para mim em um nível pessoal, pois sempre havia feito música sozinho no meu quarto e nunca mostrava a ninguém. Quase todas as coisas que realmente me pilhavam, conhecia pela internet, e não dos meus arredores. Em Tóquio, senti pela primeira vez estar em uma situação de estimulação real, não apenas virtual e decidi querer me encontrar assim mais vezes em minha vida.
Soube que participou do programa de residência artística, oferecido pelo governo dos Estados Unidos, e que, além das apresentações em diversas cidade dos EUA, você também compôs uma peça orquestral? Como foi isso? É algo inusitado para nós do meio da música eletrônica, imagino que tenha sido de incrível crescimento pessoal.
Durante esse intercâmbio no EUA o qual fui convidado, havia um show marcado durante nossa turnê em uma catedral em Seattle, e eu achei uma boa oportunidade para pôr em prática uma ideia que eu estava maturando fazia tempo.
Há alguns anos que vinha estudando esse compositor estoniano, Arvo Pärt, que possui uma técnica de composição que é teoricamente muito simples, mas o efeito da música dele é muito fora do comum. Eu nunca fui apegado e fluente em partituras e não havia o porquê de começar a ser aquele momento, então eu tinha que fazer o que me era capaz. Criei duas linhas melódicas muito simples no meu laptop em 2 minutos, e pedi para um quarteto de cordas tocar uma das linhas melódicas, e um trio de instrumentos tradicionais (kora, dulcimer e lin qin) tocar a outra.
Criei um metrônomo visual que piscava no tempo em que eles deveriam tocar essas melodias, ficando incrementalmente mais lento durante cerca de 6 minutos. O BPM ia de 120 até 20. Como os instrumentistas eram humanos, eles não tocavam perfeitamente sempre, e quanto mais lento eles tinham que tocar, mais aumentava a ressonância na catedral, que era enorme. Era como se o tempo estivesse se dilatando. Eu acho que a música eletrônica de pista cria efeito semelhante em determinados casos.
As trilhas sonoras também apareceram depois desta experiência nos EUA? Como surgiu a oportunidade em produzir trilhas para filmes e programas de TV?
Já havia trabalhado na áreas de trilhas anteriormente, pois esse meio é muitas vezes mais uma questão de estar inserido profissionalmente do que um caso de alguém ver uma notícia sobre mim e me convidar para um trabalho. Até porque esses trabalhos raramente são autorais.
Penso que isso tenha um valor positivo, pois te força a trabalhar num grande leque de gêneros, mas sem necessariamente a exposição que um trabalho autoral demanda. É como vestir uma fantasia e ir brincar o carnaval, em certo sentido. Isso permitiu desenvolver habilidades e experimentar gêneros sem queimar a largada na minha carreira.
De qualquer forma, agora sinto que já estou em um momento onde tenho necessidade de mostrar algo. Tenho me guardado virgem por muito tempo para mostrar algo 100% finalizado, mas ultimamente tenho percebido que não há mais porquê esperar. Eu já tenho algo a dizer.
Saiba mais sobre a Red Bull Music Academy e acesse centenas de palestras em vídeo e músicas exclusivas, visite o site daily.redbullmusicacademy.com ou siga @RBMA.
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