Para quem não canta, Little Voice é uma alternativa para espantar os males destes tempos sombrios e de incerteza. A série que está no ar no Apple TV+ é daquelas de bom coração e sem ironias, sobre uma jovem aspirante a cantora, Bess (Brittany O'Grady), tentando fazer carreira e crescer como pessoa. É também uma carta de amor a uma Nova York onde a música brota literalmente a cada esquina, na forma de um pianista ou músicos de rua.
A série tem um quê do filme Apenas uma Vez, dirigido por John Carney, e muito de Felicity, que foi a inspiração da cantora e compositora Sara Bareilles, autora das músicas originais e criadora de Little Voice em parceria com Jessie Nelson. As duas estão por trás do musical da Broadway Waitress - coincidentemente, baseado num filme estrelado pela mesma Keri Russell de Felicity, que também foi produzida pelo mesmo J.J. Abrams de Little Voice.
Em vez de chegar a Nova York para cursar a universidade, como Felicity, Bess busca uma carreira num mercado ultracompetitivo. Para ganhar dinheiro, ela se divide, fazendo pequenas apresentações numa casa de repouso, trabalhando num bar e passeando com cachorros. Hoje em dia, um emprego só não é mais suficiente para um jovem se manter. Sua mãe sumiu, o pai é um músico que conheceu dias melhores, e ela ficou responsável por Louie (Kevin Valdez), seu irmão, apaixonado pela Broadway, e no espectro autista. Ele é o responsável pelos momentos mais ternos e por vezes cômicos. Como Felicity, Bess também é disputada por dois homens. Ethan (Sean Teale), que aluga o depósito vizinho ao espaço onde Bess faz sua música, é charmoso e problemático - e ainda tem sotaque inglês. Samuel (Colton Ryan) é adorável e está sempre disposto a ajudá-la.
Também não faltam os amigos. Prisha (Shalini Bathina), com quem Bess divide um apartamento, toca numa banda de mariachis e tenta enrolar os pais indianos, que querem lhe arrumar um casamento, como é tradição. Mas ela é apaixonada por uma garota. Benny (Phillip Johnson Richardson) trabalha no mesmo bar que Bess e vive arrumando oportunidades para a cantora. "Ele representa a razão e o encorajamento", disse Richardson em entrevista ao Estadão. "Vivemos em tempos muito cínicos, e muitas vezes nossos amigos podem ser cínicos com a gente. Meu personagem tem uma visão doce da vida, sempre acha que tudo vai ficar bem. É uma energia boa de ter por perto."
O elenco é diverso como se espera de uma série passada na Nova York do século 21. "Tenho esperança de que esteja começando a mudar", disse Bathina. "Todos nós ficamos muito empolgados porque temos origens e experiências diferentes, então ver isso na tela é demais. A indústria está começando a mudar, mas tem de ser de cima para baixo. Precisamos que contratem mais gente para escrever essas histórias com nuances e relacionamentos e identidades interseccionais. Está começando, mas ainda temos um longo caminho a percorrer."
Quando os dois filmaram Little Voice, não podiam imaginar que a série seria lançada quando o mundo lida com a pandemia da covid-19. "Parece o momento perfeito, porque oferece esperança e uma luz no fim do túnel", afirmou Richardson. Para Bathina, é um escape. "Todo mundo sente falta do lado de fora, e a série também não tem medo de emoções", lembrou ela. "Um amigo me disse que viu cada episódio três vezes só para absorver todos aqueles sentimentos. Porque todo o mundo está enlouquecendo agora."
Little Voice não está aqui para mudar a vida de ninguém nem entrar para a história da televisão, mas brindar o espectador com leveza em tempos tão pesados - e ainda com a inclusão de uma pequena viagem a Nova York, tão maltratada pela pandemia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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