O ano ainda não acabou, mas 2014 tem sido anormal para a aviação comercial, pelo menos do ponto de vista da segurança. Ao mesmo tempo em que registrou, no período de sete meses, números expressivos de vítimas em acidentes aéreos, está no caminho para ser um dos mais seguros da história. Estranho, mas é isso mesmo. Depende de como os eventos são analisados.
A proximidade com que ocorreram três desastres levanta, naturalmente, uma desconfiança. Entre 17 e 24 de julho, 464 pessoas morreram em voos comerciais. Na Ucrânia, 298 vítimas de um míssil que derrubou o MH17 da Malaysia Airlines. Seis dias depois, o GE222 da TransAsia Airways vitimou 48 em Taiwan. Fechando a lista, 118 mortos na queda do AH5017 da Air Algérie no Mali.
Acidentes que colocaram julho de 2014 como um dos meses mais nebulosos da aviação comercial. É o quinto pior período da história. Mais trágico só agosto de 1985 (719 mortes), março de 1977 (623), dezembro de 1995 (590) e novembro de 1996 (496). Isso, levando-se em conta voos comerciais em aeronaves com capacidade para mais de 14 passageiros. Os dados são da Flight Safety Foundation.
Quando somados outros dois acidentes no ano, o da Malaysia Arlines que ainda não foi encontrado e o da Nepal Airlines em fevereiro, o período de janeiro a julho é o 12º pior desde 1970.
Apesar dessa enxurrada, há outros aspectos escondidos. Por exemplo, este ano pode fechar como um dos mais seguros, com o menor número de desastres fatais na aviação comercial. Claro que ainda restam cinco meses para que 2014 acabe, mas vale o registro.
Os cinco eventos citados acima estão abaixo dos 11 de 2012, até aqui o menos negativo em termos de segurança. No ano passado, foram 15 ao todo. Uma taxa que sofre variações, mas que no geral vem caindo ao longo das duas últimas décadas (veja gráfico abaixo).
Um fato que colaborou para este cenário foi que 2014 já cravou um recorde em segurança. O mês de janeiro ficou entre um dos mais seguros na história da aviação, sem nenhum acidente com vítimas fatais.
Definitivamente um ano de extremos, mas que no fim das contas, mesmo com a percepção de que os acidentes aumentaram, voar é cada vez mais seguro. Ainda mais quando coloca-se na mesa que o tráfego aéreo mundial só aumenta. Segundo a ICAO (Organização de Aviação Civil Internacional), o número de decolagens de companhias aéreas regulares atingiu 33 milhões em 2013, o maior na história, com tendência para aumentar ano a ano.