Houve um tempo, nem tão distante, quando embarcar em um avião significava desconectar-se do mundo. O limite era um passeio pelo corredor e nada mais que isso. Mas a tecnologia e os hábitos do século 21 mudaram radicalmente essa lógica.
Os livros, os jornais, a conversa ao pé do ouvido, tudo isso perdeu espaço. Agora o trivial é assistir a filmes no Netflix, ouvir músicas via streaming, trocar mensagens pelo WhatsApp e levantar um escritório temporário. Isso a milhares de metros do chão.
Essa nova ordem é realidade, apesar de ainda não estar ao alcance dos brasileiros a bordo das companhias aéreas nacionais. Por pouco tempo, diga-se. O que já é rotineiro em muitas empresas dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia, deve se tornar produto básico por aqui em breve.
A primeira aérea do Brasil a oferecer acesso à internet por wi-fi a bordo das aeronaves deve ser a Gol. A previsão é que o serviço esteja disponível ainda em 2016 em alguns aviões e atinja toda a frota em dois anos. A Avianca Brasil também está próxima, como anunciou neste mês ao assinar contrato com a americana Global Eagle Entertainment (GEE) para o fornecimento de um sistema de conexão via satélite.
“Não há dúvida que a conexão [à internet a bordo] passa a ser quase obrigatória. O mundo está conectado. As pessoas estão conectadas online. E num voo mais longo, mesmo dentro do Brasil, precisam de alguma maneira estar conectadas através de rede, falando, trabalhando de maneira online”, resume o vice-presidente da Avianca Brasil, Tarcísio Gargioni.
“A implementação desta nova tecnologia segue uma tendência mundial e permite unir mobilidade com uma solução que permita mais conectividade”, complementa a Gol, via assessoria de imprensa.
Hoje, as companhias nacionais dão aos clientes um cardápio de entretenimento a bordo que não engloba internet. Os aviões da Avianca Brasil têm telas individuais e programação sob demanda. Na Azul, as telas transmitem canais ao vivo. Na Latam Brasil, o acesso a filmes e séries é pelo wi-fi dos dispositivos móveis. A Gol chegou a oferecer um sistema similar ao da Latam, mas optou por descontinuá-lo.
Tecnologia
A demanda dos passageiros pelo serviço é antiga, mas o serviço esbarra nas limitações técnicas, interferindo na qualidade da conexão e jogando os custos para o alto.
A Latam Brasil – então TAM – chegou a lançar em 2010 o sistema OnAir, que permitia o acesso à internet a bordo, mas descontinuou quatro anos mais tarde. O serviço não se popularizou devido ao preço pesado (usava taxas das operadoras de telefonia móvel) e à instabilidade de sinal.
Quanto vai custar?
A Gol ainda não informou quanto vai custar o acesso à internet a bordo de seus aviões. Se a empresa seguir as atuais parceiras da Gogo – que fornecerá o sistema à brasileira -, o valor pela hora de internet é 5 dólares. O uso por 24 horas custa 16 dólares. Há também a possibilidade de assinar pacotes mensal e anual, que custam 49,95 dólares e 538,95 dólares, respectivamente.
“Como é de se imaginar, a conexão à internet em algo que se move além de mil quilômetros por hora a 10 mil metros acima da superfície da Terra é um desafio tecnológico”, reconhece o vice-presidente de comunicação da Gogo, Steve Nolan. A empresa americana é a responsável pela solução adotada pela Gol.
O sistema da Gogo consiste na instalação de duas antenas acima da fuselagem da aeronave. Elas se comunicam com satélites. A bordo, uma espécie de roteador wi-fi permite a conexão aos dispositivos móveis, fornecendo internet e também programação ao vivo de televisão.
Como se trata de novidade no Brasil, a Gol ainda aguarda a certificação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que precisa validar as modificações realizadas nas aeronaves – por enquanto apenas uma teve o sistema instalado. Depois disso, informou a Anac, a empresa ainda precisará homologar junto ao órgão as alterações nos procedimentos operacionais.
Comportamento
A possibilidade de permanecer conectado à internet dentro do avião altera a experiência dos passageiros. O isolamento, o silêncio, o relaxamento, a leitura, dão espaço a atividades virtuais. Não sem contabilizar implicações coletivas.
Azul e Latam
A Azul e Latam Brasil garantem ter planos de oferecer o serviço, mesmo que ainda sem previsão.
“A Azul não só tem interesse como vem estudando a viabilidade do wi-fi a bordo há algum tempo. Mas, por enquanto, não há definição sobre quando vamos disponibilizar o serviço e em quais aeronaves”, disse em nota a empresa que hoje oferece televisão ao vivo nos aviões Embraer E190 e E195.
Já a Latam Brasil aguarda detalhes técnicos. “O sistema de internet a bordo é um projeto em estudo. Será disponibilizado tão logo a empresa avalie que a cobertura de satélite para a região da América Latina seja satisfatória, oferecendo sempre a qualidade esperada do grupo”, informou via assessoria de imprensa.
“O avião ainda era imune [à internet], mas não temos como frear isso. O problema da conexão permanente, principalmente no telefone celular, causa desconforto a quem está ao lado. O incômodo ao outro é um problema para resolver. Será preciso um pacto de boa educação”, opina o doutor em Sociologia e pesquisador na área de cibercultura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), André Lemos.
Uma preocupação que é repassada às companhias aéreas. O pacto entre os passageiros pode não ser suficiente, jogando aos tripulantes parte da responsabilidade pela política de boa vizinhança. Entendimento da tecnologia, do comportamento e o consequente treinamento são aspectos importantes nessa nova realidade.
“Esse item é relevante e está na nossa lista de prioridades”, aponta Gargioni. “Não podemos perder a consciência de que estamos em um ambiente coletivo, apesar da facilidade de conexão. As pessoas precisam ter consciência e respeito com quem está ao lado”, complementa o vice-presidente da Avianca Brasil.
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