Qual o impacto que 40 quilos têm sobre um voo comercial? A um primeiro olhar, praticamente nenhum. Mas quando colocado em um contexto de uma companhia aérea com uma frota de dezenas de aviões, que queimam milhões de litros de combustível por ano e emitem outras tantas toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, a história é outra.
A TAM vai ser a primeira aérea brasileira a sentir os benefícios desse regime. E com uma medida aparentemente simples: a substituição de todos os manuais de voos e cartas aeronáuticas em papel por tablets nas cabines de comando de todas as aeronaves da empresa.
“Para a companhia, a introdução dos tablets representa o início de uma nova fase, a qual chamamos de paperless, ou seja, sem papel. Os processos de atualização de publicações técnicas passam a ser mais rápidos e eficientes e a busca pelas informações torna-se mais fácil, com as ferramentas de busca e hiperlinks”, informou a TAM, que ainda usará nos dispositivos softwares de performance para cálculos de pesos e velocidades de operação.
A adoção do sistema batizado de Electronic Flight Bag (EFB) vai representar um ganho considerável do ponto de vista ecológico. A expectativa da companhia é que no período de um ano haja uma redução de 2,8 mil toneladas de emissão de CO2 na atmosfera.
Um impacto que será sentido na cadeia de produção de papel, de um ponto de vista positivo. As atualizações de manuais e cartas aeronáuticas, por exemplo, não precisarão ser impressas novamente e distribuídas entre todas as tripulações. Como resultado, algumas centenas de árvores serão poupadas sem a necessidade da produção de milhões de folhas de papel para atender aos fins aeronáuticos.
Há também uma redução significativa no consumo de combustível e, consequentemente, um recuo nos gastos. Hoje, a TAM opera 168 aviões na frota, que passarão a voar com 40 quilos a menos a bordo, em cada voo. E levando-se em conta a média de aéreas estrangeiras que já trilham por esse caminho, como American Airlines, United e Delta Air Lines, a empresa brasileira deve poupar pouco mais de um milhão de litros de querosene de aviação anualmente.
Isso resultará em uma economia financeira com o insumo que, segundo a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), representou 38% dos gastos totais das operadoras brasileiras em 2014. O combustível, aliás, é o maior vilão das contas das aéreas do país, devido principalmente à alta incidência de ICMS sobre o querosene de aviação, que chega a 25% em alguns aeroportos nacionais.
Mudança de cultura
Por mais que hoje haja uma intimidade entre pilotos e tecnologia, o uso desses dispositivos dentro de uma cabine de comando não é de adoção instantânea. Ela altera a forma com que as tripulações interagem com as informações aeronáuticas, enraizada desde a formação nas escolas de aviação e aeroclubes. Desde as primeiras aulas, o papel era exclusividade.
Sair das folhas de papel para os tablets exige adaptação e capacitação das tripulações técnicas. “O treinamento está sendo realizado de forma presencial, com aulas de oito horas de duração, nas quais os pilotos recebem instrução teórica e prática. A partir da aprovação operacional, os tablets também passarão a equipar os simuladores de voo”, informou a TAM.
Para chegar a esse ponto, a companhia precisou trabalhar em conjunto com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Não há nenhuma regulamentação específica no Brasil que trate do uso dos tablets nas cabines de comando dos aviões comerciais, apenas em relação à aviação geral – que compreende as aeronaves particulares. Por isso, tanto a agência como a TAM precisaram desbravar esse campo por aqui.
“A utilização de equipamentos eletrônicos a bordo por pilotos da aviação comercial, substituindo manuais e cartas impressas, se trata de uma inovação que está alinhada a melhores práticas do setor e segue a legislação americana da FAA (Administração Federação da Aviação) que trata do assunto”, comunicou a Anac.
A partir da experiência da TAM, outras empresas brasileiras poderão agilizar a transição se desejarem abandonar o papel. Por enquanto, porém, não demonstraram esse interesse à Anac.
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