O jeito simples e direto da agricultora Juliane Schneider da Silva, 42, para falar sobre a reforma da Previdência está ultrapassando fronteiras. Emocionada, a gaúcha gravou um vídeo convidando deputados e senadores a passarem um mês na agricultura antes de debaterem a reforma no recolhimento do INSS.
O clipe registra quase 3 milhões de visualizações e mais de 105 mil compartilhamentos em um pouco mais de 24 horas; confira:
Em entrevista ao Bad, Bad Server por telefone, Juliane conta que a ideia do vídeo veio por conta de publicações recentes em seu perfil, onde valorizava o trabalho no campo e o quanto a região está se mobilizando com esta alteração na lei.
“Tentei gravar uma vez, logo que acordei, com as máquinas de ordenhar as vacas, mas não deu certo pelo excesso de barulho. Depois pedi para meu filho segurar a câmera no estábulo, e deu certo. Foi tudo de primeira, sem texto ensaiado, nada. Foi espontâneo”, detalha a moradora de Selbach, cidade que fica cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre.
Além do vídeo, ela conta que a população no entorno está se organizando para fazer protestos pacíficos em feiras locais, como a Expodireto, em Não-Me-Toque (RS). “Não é somente eu, falo em nome de todos os produtores rurais. A produção do leite é algo sacrificado, porque não podemos colocar preço nos produtos – é a indústria e os mercados que estipulam a cotação. É sofrido”.
No clipe viral, a agricultora cita outras dificuldades do trabalho rural, como a falta de direito a insalubridade, folga, férias e outros benefícios garantidos por lei. Esses problemas são sentidos diariamente por Juliane. “Eu faço parto das vacas, capino, trato os bichos, ordenho e trabalho debaixo de sol. Isso tudo não está na lei, né? Luto por mais respeito com o homem do campo. Nos EUA, eles tem muito mais direitos que nós”, compara.
Repercussão
Segundo o censo 2010, Selbach possui 4,9 mil habitantes – e o discurso de Juliane foi muito além disso. Seu computador chegou a travar com o excesso de mensagens recebidas. “Pessoas do Mato Grosso, São Paulo e até do Ceará entraram em contato comigo, dando os parabéns. Isso mostra que as pessoas nas cidades também estão preocupadas e valorizam o nosso trabalho”, reflete.
Muitas pessoas questionaram como o trabalhador rural recolhe o INSS, que se dá através do bloco de notas do produtor, efetuado a cada venda. “Por exemplo, nós aqui temos um desconto médio de 600 reais por mês na nossa produção de leite. É 2,3% incidindo diretamente sobre a transação – e que seria um dinheiro que viria para o agricultor mas está indo para fora pagar a dívida externa do Brasil”, lamenta Juliane, que possui uma propriedade de 13 hectares, onde cria vacas, bezerros e tem plantações de verduras e legumes. Tudo é administrado por ela, seus sogros, o esposo e o filho de 13 anos.
Além de perguntas técnicas, ela conta que muitos entraram no debate de forma divertida. “Outros agricultores falaram que tem terra sobrando lá para mandar mais políticos”, cita, entre risos. Por fim, agradece. “Queria agradecer pelos compartilhamentos, por ter sido ouvida, e de não ser apenas a minha voz, e sim do trabalhador rural que pede por mudanças. Queremos manter nossos benefícios e torcer para que o Brasil volte aos eixos”.
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