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Na última sexta (6), o colunista Ricardo Neves apresentou um texto polêmico no site da revista Época. E nesta quinta, muito do que ele disse, faz qualquer jovem brasileiro engolir ainda mais temeroso. Intitulado “Se você é jovem, é hora de dizer ‘Adeus, Brasil’” (leia aqui), o texto de Neves diz basicamente que a pessoa que está entre 20 e 30 anos precisa sair do país, tentar construir uma vida fora, pois as coisas não serão fáceis com o chamado ajuste fiscal, as pesadas investigações da Lava Jato e o quanto esta idade ainda é propícia para se tentar o novo e o inesperado.

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Após a aprovação do afastamento da presidente Dilma, os argumentos de Neves parecem estar cada vez mais certeiros. Não é que com a nossa primeira presidente mulher da história do país a vida estivesse nos eixos, mas há uma série de apontamentos e peças nessa fase Temer que deixa qualquer jovem receoso – ainda mais do que antes.

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A primeira delas, sem dúvidas, é a nomeação de Alexandre de Moraes na pasta da Justiça. Explico: Moraes era secretário de Segurança de São Paulo e foi o grande centralizador dos ataques opressores às escolas ocupadas por estudantes. Conforme apurado pela Agência Brasil, em 2 de dezembro do ano passado, Moraes tomou o lado da PM, dizendo não ter visto “excessos” na ação.

“Quem assistiu hoje viu que a polícia agiu na legalidade. É essa a indicação. A polícia fica mais de uma hora negociando com os manifestantes para que eles desobstruam a via e se eles se negam não é possível que poucas pessoas atrapalhem milhões de pessoas que estão indo trabalhar, estudar, que chutem e batam cadeiras nos carros. Isso é baderna e crime”, disse, na época. Isso sem falar em repressão a manifestações de grupos sociais contra o impeachment e outros movimentos igualitários na grande São Paulo.

O segundo motivo para deixar qualquer jovem receoso é a formação do novo governo Temer. Mesmo dizendo que irá manter programas como o Fies e o Pronatec, conforme discursou nesta quinta, o presidente interino deve fazer mais uma série de cortes na pasta da Educação. Dilma já tinha sido obrigada a cortar o Ciência Sem Fronteiras e bolsas de pesquisas do CNPq, mas o novo cenário – ainda mais turbulento – mostra que os cortes devem vir com mais afinco. De “Pátria Educadora” a um vento oco, sem investimentos e sem incentivo. O único respiro de esperança é que a pasta foi assumida por Mendonça Filho, ex-governador de Pernambuco, que foi responsável pela criação de 23 escolas integrais no estado nordestino. É rezar para que ele consigo trazer um pouco da experiência para a realidade nacional.

Redes sociais

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No entanto, o motivo que mais pode incomodar um jovem nesta quinta é o simples momento em que as redes sociais vivem. A era da intolerância está à solta: é fácil encontrar 20 amigos defendendo que a saída de Dilma é golpe, ao mesmo tempo em que outro grupo de 20 pessoas gosta de ser popular na rede publicando “Tchau, querida”.

O afastamento da presidência tornou as redes sociais um local de falta de debate, aceitação e – pior – de divisão. É como se não pudéssemos mais ser amigos de alguém que curte a página do Bolsonaro. É bizarro ver pessoas que viveram histórias lindas de amizades brigando entre si por causa de mudanças políticas. O grande ponto é que precisamos aprender a aceitar diferenças de opinião e não sair de grupos de WhatsApp por não concordar com a visão de um ou de outro.

Por tudo isso é que ser jovem, principalmente em um dia como hoje, não está sendo fácil. A lição é clara neste momento: não podemos sair apagando as pessoas por terem opiniões e, sim, aceitar a visão e tentar entrar em um consenso para se construir uma sociedade mais justa e com uma reorganização do quadro político.

Aos que pensam que a entrada de Temer é a solução dos nossos dias, um aviso: o ajuste fiscal está aí, os investimentos nos mais novos devem ser reduzidos e a politicagem continua no jogo de gato e rato. Virou tudo um jogo de interesses, de oportunismo, e nesse grande tabuleiro, ser jovem não é uma das peças mais vantajosas do game.

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Não há mais como saber se vale a pena se arriscar no exterior com um dólar nas alturas, se vale ingressar em uma universidade pública para sobreviver em um ambiente com falta de investimentos, estudar para um concurso público que talvez nem ocorra, investir na criação de uma empresa que não sabe se irá sobreviver ou ser contratado por uma companhia e não sentir um pingo de segurança por ser o mais novo. É quase como uma loteria.

Enfim, ser jovem não está sendo fácil. Este é o Brasil, o país em que as oportunidades para os mais novos parecem estar indo pelo ralo. E ficamos de mãos atadas, esperando respostas.