Os fãs de Kefera Buchmann que me deem licença, e os que repugnam Mc Melody também. Afinal, estamos falando de uma youtuber consagrada, com livro lançado, milhões de visualizações a mais, e do outro lado, uma criança, de 9 anos, que vem causando polêmica por ser tão nova e insistir em um falsete péssimo.
Na noite desta quarta (5), a pequena Melody completou 24 horas no ar com seu novo videoclipe, uma paródia de “Work”, da cantora Rihanna, e registrou 5,8 milhões de visualizações no Facebook, gerando mais de 80 mil compartilhamentos. Se você ainda não sabe deste clipe, assista abaixo:
Ok, trata-se de uma letra péssima, referenciando o próprio pé e o suposto chulé da garota. Mas não dá para negar: não é qualquer fenômeno aí que registra tantas visualizações em um único dia. Melody já pode, sim, ser enquadrada como uma vlogger de sucesso, mesmo que a proposta seja investir em seu falsete que já virou meme eterno das redes sociais.
Com produção simples, o vídeo tem um garoto com um bigode pintado com canetinha e uma série de detalhes que mostram o que Melody tem de melhor: poucos recursos e muita, mas muita sinceridade, sabendo brincar com uma letra tão grudenta como “Work” é.
Menos de um mês antes, a curitibana Kefera Buchmann também virou assunto nas redes sociais com a paródia da mesma canção da cantora do hit “Diamonds”. Na ocasião, ela virou polêmica por uma série de deslizes que cometeu nos vídeos: o seu auxiliar de cena, que interpretava Drake, tinha blackface; e fora a letra que trazia pontos que poderiam referenciar o machismo e incentivar a rivalidade feminina em frases como “Quem é essa que cê deu like e essa vaca no WhatsApp? Eu vi na sua timeline, curtindo foto de biscate”. O teor da produção gerou tanta polêmica que foi retirado do ar pelo YouTube, menos de um dia depois. Veja o vídeo de Kefera abaixo (republicado por um fã):
São duas paródias com propostas bem diferentes, e que ganharam uma repercussão bem diferente para o público. Mas somente com essa situação podemos ver o quanto uma sai ganhando, enquanto a outra prefere seguir a sua vida de webcelebridade pouco sabendo lidar com críticas.
Melody, mesmo com uma letra totalmente infantil e com um falsete pouco amado, mostra que está na rede com uma proposta bem clara: fazer as pessoas rirem e, sim, alcançar a fama. Já Kéfera, há muito tempo, já revela que não tem outra proposta: lucrar, lucrar, polemizar e pouco se importar com o que as pessoas tem a dizer sobre o seu trabalho.
Devido às críticas, Kéfera se pronunciou somente via Snapchat, dizendo que utilizou uma técnica teatral, sem intenção de estimular o racismo. Ok. Conseguimos entender sim, mas justificar um deslize somente via Snap – ainda em uma questão problemática por trás – mostra que a pessoa não consegue lidar com a fama, da responsabilidade social e do que cada gesto seu pode representar na web, ainda mais de alguém que tem mais de 8 milhões de inscritos no YouTube.
Portanto, de um lado, temos uma paródia infantil, com um falsete hilário no final, mas de uma inocência sem igual de alguém que só quer conquistar seu espaço. Do outro, um clipe que reflete uma falta de reflexão sobre o assunto, atenção aos detalhes e uma letra pouco decente. Nesse caso, até falar do chulé do pé é mais interessante do que instigar e provocar uma avalanche de comentários horríveis sobre racismo, machismo e tantos outros males que o mundo precisa lidar e vencer.
Conteúdo? Nenhuma das duas têm, de fato. Mas caráter e inocência são duas coisas que valem ouro, e que precisam de representatividade, principalmente nas redes sociais.
UPDATE – 06/5 – 22h:
A assessoria da vlogger Kefera Buchmann entrou em contato com Bad, Bad Server nesta sexta (6) para esclarecer as polêmicas de “Work”. Segundo a nota oficial, Gusta Stockler – que interpreta Drake no paródia da curitibana – tem origem indígena e sua pele tem tom moreno escuro. “A caracterização feita por mim foi o uso de uma peruca, barba e base no tom natural de minha pele morena”, diz Gusta, em trecho do documento. E complementa o texto dizendo que os artistas foram “julgados, difamados, ofendidos e acusados de racismo, sem a observação de evidências, nem chance de defesa”.