Com mais de 11 milhões de inscritos, o Porta dos Fundos conseguiu levantar polêmica na web com seu último vídeo, “Delação”, lançado no sábado (2), no YouTube. Em menos de 48 horas, o clipe já possui quase 4 milhões de visualizações e comentários explosivos no site de compartilhamento de vídeos. A proposta da produção – sem dúvidas – é satirizar os esquemas de delação, mas que soou como “esquerdista” para muitos, pelo roteiro apontar os dedos para o PSDB e o PMDB, e criticar o trabalho da Polícia Federal. Assista:
Pode até ser que o canal tenha se apropriado corretamente e descrito exatamente a situação que a Operação Lava Jato enfrenta, mas a piada não foi realizada no local certo. Semanas atrás, um dos integrantes da trupe do Porta, Gregório Duvivier, publicou um texto em sua coluna na Folha de São Paulo em que se relacionou o golpe com o impeachment defendendo que o cidadão precisa aprender a medir melhor as palavras – reveja aqui.
Dada esta situação que Gregório se expôs e o teor do clipe deste fim de semana, os internautas não perdoaram. A verdade é que a internet virou um território de ninguém: mesmo com argumentos, basta a pessoa ignorar e continuar com sua opinião pouco fundamentada. Talvez, por isso, o Porta dos Fundos não tenha escolhido a hora certa para apresentar tal crítica – levantou a polêmica de maneira pouco neutra.
O humor funciona, é importante em tempos nebulosos para o nosso país, mas somente quando lhe é apropriado e consegue ser inteligente. Principalmente quando os mentores dele não tem bandeiras bem definidas e conhecidas pelo público. Não foi dessa vez.
Resposta
Antonio Tabet, um dos criadores do Kibe Loco e que trabalha em parceria com o Porta, ficou decepcionado com a reação dos internautas. Ele chegou a adiantar que, em breve, os humoristas devem lançar um clipe criticando o PT, já aprovado por Duvivier.
Veja a carta na íntegra:
“A Porta dos Fundos tem sido vítima, nas últimas horas, de uma campanha promovida por páginas ou sites de oposição ao governo (aqueles que os petistas gostam de chamar de “direita” e que várias vezes já até compartilhei por aqui) para que as pessoas nos boicotem por conta do vídeo de ontem, “Delação”, que satiriza, com humor, o que as pessoas que defendem Dilma e companhia chamam de “justiçamento seletivo”.
Pessoalmente, lamento tudo neste episódio. Absolutamente tudo.
Quem me conhece sabe qual é a minha posição em relação ao atual governo e corruptos em geral. Minha posição, aliás, é compartilhada pela maioria dos meus colegas. Acho que a Polícia Federal faz um trabalho bastante competente, sou #TeamMoro e, nem por isso, acho que Cunha, Temer, Feliciano e outros políticos são menos piores que os que hoje gostaria de ver derrubados. Sou dos que acha que “justiçamento seletivo” é querer poupar os bandidos de agora propondo uma fila para punir primeiro os bandidos desde a era Pedro Álvares Cabral.
Contudo, não abro mão da democracia e da liberdade. Acredito que todos têm o direito de se expressar. Inclusive aqueles que discordo e principalmente nos locais onde trabalho. Seja no Kibe Loco, seja no Flamengo, seja na Porta dos Fundos. Em todos esses lugares, como em todo o país, há opositores como eu, defensores como o Gregorio, isentões e loucos. Loucos que normalmente (ou não) acham que os loucos somos nós.
Cada um de nós no Porta tem uma posição política e cabe ao outro respeitá-la sem prejuízo da amizade que nos uniu. Isso é civilidade. E nós, como grupo, refletimos essa pluralidade no nosso trabalho quando existe mais de um lado da moeda, o que é saudável num país onde Delaçãopolítica é futebol, futebol é religião e religião é política. Evidente que jamais tacaríamos pedras em minorias oprimidas ou em injustiçados históricos. Sempre atiramos para cima. E em tempos quando cada um vê a parte de cima de um jeito, acabamos atirando em mais de uma direção.
O que mais me entristece nessa história é que vídeos como os dois “Reunião de Emergência” provam que não somos uma empresa com um pensamento singular. Diferente de quem acha coerente promover boicote cultural contra um grupo heterogêneo. Essa hipocrisia que busca nos desprestigiar, além de não ter sucesso no fim das contas, é tão idiota quanto o tal “Dia sem Globo”.
Quer evitar coxinhas? Não saia do seu quarto. Quer evitar petralhas? Idem. Há pessoas dos dois lados aqui na Porta, na Globo, na Band, na sua novela favorita, no supermercado que você faz compras, no salão de beleza, na igreja que frequenta, na mesa do bar, no time pelo qual você torce e, se duvidar, até no quarto do lado.
Esse revanchismo bobo só fomenta o ódio. Incentivar a censura ou a intolerância nada mais é que um recibo de que você pode ser tão fascista quanto os fascistas que critica. Sejam eles imperialistas americanos ou comunistas cubanos. Sem falar na ignorância de quem coloca a Lei Rounet no bolo sem saber que não cobramos cachê que cobraríamos em outros filmes, mas pagamos com justiça uma equipe com centenas de profissionais trabalhando no país da crise.
Enfim, era isso que queria mostrar: meu apreço pela liberdade, pela democracia, pelo trabalho, pela justiça, pelo amor e pelo humor.
Agora deixa eu ir que já são 12h30 e preciso finalizar meu roteiro zoando a deputada petista Maria do Rosário. Aquele que o Gregorio aprovou.
Antonio Tabet.”
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