É muito bom saber que a realização da primeira edição do Mondial de La Bière no Rio de Janeiro foi um sucesso. Cerca de 20 mil pessoas compareceram ao Terreirão do Samba, na Praça Onze, entre 14 e 17 de novembro, para degustar os cerca de 650 rótulos de cerveja disponíveis dos cerca de 30 expositores, entre cervejarias, importadoras, distribuidoras e outros negócios da cerveja. E não sobrou muito não para contar a história. Muitos dos expositores tiveram que repor seus estoques, porque a demanda por boas cervejas superou a expectativa, assim como número de pessoas e o nível cervejeiro do público. Estive lá e vi tudo!
É um momento importante para a cultura cervejeira do Brasil. O país está ganhando visibilidade pelos eventos internacionais que se aproximam, como a Copa do Mundo, e a cerveja brasileira vem conquistando espaço internacional. Tatiana Spogis tirou terceiro lugar no Campeonato Mundial de Sommeliers e agora o sucesso do Mondial de La Bière no Rio de Janeiro confirma para os olhares estrangeiros o que nós já sabemos há algum tempo: o Brasil faz sim muita cerveja boa e tem aí um grande valor para quem quiser conferir. O MBeer Contest Brazil, que premiou 13 cervejas com Gold Medals e 2 com Platinum Medals, prova isso.
Ainda não foram confirmadas novas edições, no entanto é desejo da organização e da presidência internacional do Mondial de La Bière que o evento se torne parte do calendário brasileiro e do Rio de Janeiro. E pelo barulho, sem dúvida o público aprova.
Durante minha estada no Rio, pude provar muito do que o festival teve para oferecer. Muitas novidades foram lançadas, outras cervejas importadas que não chegam regularmente no Brasil puderam ser degustadas além de várias ideias que foram trocadas. Segue aqui minha impressão mais pessoal sobre o assunto. Se você quiser mais informações, confira a cobertura que fiz para a Revista BeerArt, publicação para iPad e iPhone especializada na bebida.
Muitos prêmios
Um dos momentos mais esperados do Mondial de La Bière foi o concurso de cervejas, o MBeer Contest Brazil. Duas medalhas de Platina foram concedidas, um empate de melhor cerveja raro na eleição. As medalhas saíram para a Wäls Petroleum, versão da cervejaria mineira da Imperial Stout da DUM Cervejaria, de Curitiba, e para a Colorado Ithaca Oak Aged, versão envelhecida em carvalho da cervejaria de Ribeirão Preto – que só deve chegar ao mercado no ano que vem. A Wäls e a Bodebrown, de Curitiba, foram as maiores premiadas, com 5 medalhas cada.
O corpo de jurados da edição Rio de Janeiro foi composto por nomes de peso internacional, como Serge Noel, coordenador do concurso, os proprietários das cervejarias italianas Teo Musso (Baladin) e Giovani Campari (Del Ducato) e o inglês Tony Forder, da Ale Street News, uma das maiores publicações norte-americanas sobre cerveja. Isso para não falar dos superqualificados brasileiros, o sommelier Gustavo Miranda e as sommelières de cervejas Katia Jorge e Tatiana Spogis, terceira colocada no Campeonato Mundial de Sommeliers de Cerveja realizado em setembro na Alemanha.
No Concurso Público do Mondial de La Bière, a votação popular que foi divulgada no último dia do festival, a Wäls Petroleum voltou ao pódio, eleita a melhor do evento. Em segundo lugar, a Insana Gold, da Cervejaria Instana, de Palmas, no Sul do Paraná. Em terceiro, a Niña, da nova cervejaria Jeffrey, do Rio. Confira a lista completa de premiado abaixo.
União de Titãs
A banda de rock Titãs se união com a cervejaria que é uma titã, a Colorado, de Ribeirão Preto, para fazer a Colorado Titãs, uma Brown Ale com casca de laranja muito bem equilibrada. No aroma, o cítrico da fruta é nítidos, com fundo de caramelo e toffee típico do estilo. Na boca, cítrica e adocicada, com final seco. Uma belíssima e inusitada ideia e boa cerveja.
Baladin, Colorado e Bodebrown em cerveja colaborativa
Também foi uma descoberta do festival que Teo Musso, proprietário da Baladin, da Itália, convidou as cervejarias brasileiras Colorado e Bodebrown para realizarem uma cerveja colaborativa. Samuel Cavalcanti, da Bodebrown, não adiantou muito sobre o projeto, mas disse que o convite já foi aceito e a cerveja já está sendo planejada. A cerveja deve, inclusive, ser realizada internacionalmente, com a primeira parte na Itália e a segunda parte no Brasil. É o Mondial de La Bière promovendo encontros históricos!
Outra colaborativa que deve dar as caras em breve é entre Mistura Clássica e Bodebrown, a qual ainda está em planos e deve estrear no Festival Brasileiro da Cerveja, que será realizado em março em Blumenau.
Importadas no Mondial de La Bière
Não foram apenas as cervejas brasileiras que conquistaram o público no Mondial de La Bière. As cervejas importadas fizeram a cabeça de muita gente. Algumas das quais nem podem ser encontradas no país, como a americana Dogfish Head e as canadenses Le Trou du Diable e Dieu du Ciel. Não sobrou uma para contar a história. Ficaram apenas as boas lembranças, as fotos e o desejo dos fãs de que um dia elas voltem…
Ainda no ramo das importadas, a Deus fez muito sucesso no estande do Armazém do Nono e a Bier & Wein levou suas novidades inglesas, a Titanic Stout, Timothy Taylor Landlord e Titanic White Star.
Bate-papos e workshops
Houve grande interesse do público pela seleção de conteúdo do festival. Tanto os bate-papos no palco principal, abertos ao público, quando os workshops, a maioria pagos, fizeram sucesso e tiveram sessões lotadas. Pequenas palestras/cursos de harmonização, cerveja e música clássica e muita cerveja atraíram muitos para também aprender mais sobre a cerveja.
Verum Session Rye Pale Ale
Dois dias foram o que bastaram para acabar com os 300 litros de Verum Session Rye Pale Ale que foram levados para o festival pela Bodebrown. A novidade da cervejaria é refrescante, feita com centeio, leve, bem seca e aromática. Com o calor que fez no Rio, a pedida ideal, ainda mais pelo baixo teor alcoólico, de 3,8%.
Nova cervejaria conceito
Jeffrey é uma nova cervejaria do Rio de Janeiro, já com muitos planos e um conceito diferente. Ela traz um estilo de vida, ligado à cultura e a arte. Além da bela e refrescante cerveja, a Niña, uma Witbier com raspas de limão siciliano e coentro, que foi muito bem aceita pelo público – ganhou o terceiro prêmio na votação popular –, a cerveja promoveu live panting de caixas de cerveja durante o evento. Em um bate-papo com Gilson Val, sócio da cervejaria, ela nos contou que já há uma loja conceito da marca na Zona Sul do Rio de Janeiro e em breve terão uma cervejaria própria em Petrópolis, na serra carioca. Esses vão dar o que falar…
Sem marca
A Cervejaria 2cabeças levou sua nova identidade visual para o Mondial de La Bière, ou melhor, a ausência dela. Eles simplesmente jogaram a marca fora, os rótulos das cervejas foram substituídos por um “X” e as cervejas perderam o nome. Também lançaram duas cervejas novas, a X-ImperialLager, edição limitada de uma bela Lager lupulada como IPA e com 8% de teor alcoólico, e a X-SessionIPA, refrescante para o verão. Curioso, perguntei para o sócio da cervejaria, Bernardo Couto, o que havia acontecido com a marca. Ele disse para esperar e conferir. Logo, logo, então, teremos mais novidades.
Wäls Niobium
Outra novidade de primeira mão no festival foi a Imperial IPA que a Wäls deve lançar em breve. O nome deve ser Niobium, inspirado nos 92,9 de IBU, escala internacional de amargor, que a cerveja atingiu. Essa é a massa atômica do Nióbio, elemento químico usado em ligas de aço e cuja produção mundial é quase totalmente de Minas Gerais: 75% é extraído lá. Ela vem para se juntar a Petroleum na linha das cervejas mais extremas da cervejaria. Em breve.
E muito mais…
Várias novidades bacanas ainda fizeram a cabeça dos visitantes no Mondial de La Bière. Casa Nova, lançamento da Burgman, de São Paulo, é uma deliciosa e leve Lager, com boa lupulagem cítrica e refrescante. A Insana levou também a sua nova APA, uma American Pale Ale também leve e refrescante, intensamente marcada pelos lúpulos americanos.
Falando em lúpulo, a cervejaria Paulista Júpiter esteve presente com as sua APA e American IPA, boas opções dessa cervejaria que vem crescendo e aparecendo bem. A Mistura Clássica está trazendo vários novos rótulos para o seu portfólio, se reposicionando para ser uma marca mais interessante para os cervejeiros de plantão. Você já deve ter visto por aí cervejas como a Porter MIB, a Imperial IPA Amnésia ou a APA Bill’s Beer.
Quem também fez barulho foi a Coruja, do Rio Grande do Sul, que além de ganhar medalha com a Labareda, uma Keller Bier com pimenta, fez do estante uma festa. Rolou até filtro de lúpulo na Coruja Viva. Os cervejeiros adoraram.
Percalços
Em um festival tão grande, é inevitável que alguns problemas apareçam. A mudança de local há uma semana do evento foi um transtorno para a organização, mas ao final todos chegaram a conclusão de que o novo local, mais acessível ao público, foi melhor do que o antigo. O calor que fez no Rio também atrapalhou, principalmente no sábado, dia mais quente do festival. Os ventiladores não deram conta de refrescar o pessoal, mas as boas cervejas ajudaram. Algumas filas aconteceram, principalmente para comprar fichas, e a pequena opção de pontos de alimentação também foi um item criticado pelo público.
Da parte dos expositores, muitos reclamaram sobre a taxa de 50% sobre a venda de produtos cobrada pela organização do Mondial de La Bière, além da emissão da nota fiscal. Os custos, dizem eles, ficaram muito altos, pois ainda arcaram com a compra e montagem dos estandes, além do trabalho e até equipe para atender o público nos quatro dias de evento – o que soma custos de hospedagem, transporte a alimentação. A organização do festival explicou que o principal benefício do Mondial de La Bière é a visibilidade o marketing par aos expositores, que devem se converter em vendas de longo prazo. Mesmo assim, Victor Montenegro, diretor do evento no Brasil, diz que ajustes podem ser feitos e as políticas podem ser repensadas para os próximos eventos.
Premiados no MBeer Contest Brazil
Medalhas de Platina
– Colorado Ithaca Oak Aged, Ribeirão Preto
– Wäls Petroleum, Belo Horizonte
Medalhas de Ouro
– Colorado: Colorado Ithaca, Ribeirão Preto
– Coruja: Labareda, Porto Alegre
– Dortmund Ltda.: Nostradamus, Amparo
– Invicta: Invicta Imperial India Pale Ale, Ribeirão Preto
– Noi: Noi Nera, Niterói
– Bodebrown: Bodebrown Black Rye IPA, Curitiba
– Bodebrown: Bodebrown Hop-Weiss, Curitiba
– Bodebrown: Tripel Montfort, Curitiba
– Wäls: Stadt Jever, Belo Horizonte
– Wäls: Wäls Quadruppel, Belo Horizonte
– Wäls: Wäls Trippel, Belo Horizonte
– Wäls: Wäls Witte, Belo Horizonte
– Bodebrown / Stone Brewing Co.: Cacau IPA , Colaboração Brasil e EUA
Concurso Público MBeer
1º – Wäls: Wäls Petroleum, Belo Horizonte
2º – Insana: Insana Gold, Palmas
3º – Jeffrey: Niña, Rio de Janeiro
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