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Paranaense leva prêmio nacional de cerveja artesanal; confira a entrevista
| Foto:
Rafael David
André Junqueira, sua esposa, Fernanda Noemberg Lazzari, e a cerveja campeã do 5º Concurso Nacional de Cervejas Artesanais

Acho que a maior parte ainda não sabe, portanto vou dar a notícia, mesmo que um pouco velha. O Paraná levou mais um prêmio nacional no ramo da cerveja. O administrador curitibano André Luís Junqueira Santos também conhecido como apenas Junqueira ou Junkaboy, 30 anos, é o campeão da categoria oktoberfest/märzen no 5º Concurso Nacional de Cervejas Artesanais, realizado em Porto Alegre entre 3 e 5 de junho. O concurso também premiou em duas outras categorias: brown porter e imperial IPA.

Além da cerveja dele, outras 11 foram consagradas com certificados de prata e bronze – dos cervejeiros André Adelar Hommerding, Pedro Flávio Reis Filho, Alison Scapini, Marco Aurélio Koch, Paulo Cabral, Carlos Almeida, Rafael David e Luiz Walter (me avisem se esqueci alguém!). Agora esse pessoal todo entra para a galeria dos vitoriosos do estado, como Edigyl Pupo, premiado na 3ª edição do mesmo concurso com sua Poderosa Ipa, e do pessoal da cerveja São Sebá, premiados no concurso Mestre-Cervejeiro da Eisenbahn este ano.

Portanto, o Paraná está mostrando para o país em fatos que aqui também tem cerveja boa!

Na impossibilidade de falar com todos por questões de tempo, convidei o Junqueira para um bate-papo por e-mail sobre a premiação e o destaque das cervejas paranaenses – que ele diz não ser acaso e sim uma conjunção de fatores. “Eu me arrisco a dizer que Curitiba é atualmente a melhor cidade do Brasil para se fazer cerveja artesanal”, enfatiza. Porém, trata-se de um concorrência saudável entre os cervejeiros dos estados, completa. Junqueira, que se diz “detalhista, exigente, brincalhão e meio louco”, tem entre seus hobbys a mágica (tem vídeos no YouTube que o denunciam). Qualquer afinidade com os caldeirões e poções não é mera coincidência…

Celso- Como foi ganhar esse prêmio?
Junqueira – Sem dúvida uma surpresa e uma alegria muito grande. Ainda mais se tratando do concurso deste ano que foi, acima de tudo, um exemplo de seriedade e organização, e contou com presenças internacionais renomadas para a banca examinadora. Poucos dias antes de sair o resultado minha esposa e eu abrimos a primeira garrafa da leva do concurso e, ao degustá-la, nos espantamos! Havia ficado muito boa. Naquele momento eu sabia que tinha chances de levar um certificado, mas sinceramente não imaginava que iria ganhar o primeiro lugar. Nós recebemos a notícia da vitória por telefone quando, “coincidentemente”, estávamos na casa do nosso colega cervejeiro Edigyl Pupo, campeão da terceira edição do concurso nacional e um dos “responsáveis” pela nossa decisão de fazer cerveja em casa. Já que foi justamente enquanto degustávamos uma garrafa de sua magistral “Poderosa IPA” que veio a decisão de iniciar nossa produção caseira.

Celso – O Paraná está se destacando no cenário nacional da cerveja. Temos o Edigyl, já premiado no mesmo concurso que você, e o pessoal da São Sebá, este ano pelo concurso Mestre Cervejeiro da Eisenbahn. Como você vê essas premiações? O que está acontecendo no estado para que esses resultados estejam aparecendo?
Junqueira – Essas premiações não são acaso. Elas são fruto de uma grande sinergia que está acontecendo no Paraná. O primeiro fator é sem dúvida a união e generosidade de todos os cervejeiros artesanais. Nós promovemos encontros semanais para degustar nossas produções, discutir receitas, ingredientes, processos, etc. Sempre trocando informações e estudando juntos a arte de produzir cerveja. O segundo fator é que temos em Curitiba a Bodebrown, que é a primeira cervejaria-escola do país 100% focada em cervejas artesanais, que além de ofertar cursos básicos e avançados, de vender matéria prima importada de primeira qualidade, também possui um excelente acervo de mais de 200 títulos à disposição dos alunos e clientes. Em terceiro lugar, existe também uma união entre os micro-cervejeiros locais e os cervejeiros caseiros que está fortalecendo muito o movimento como um todo. Somando-se tudo isso à “sede” dos curitibanos por produtos exclusivos e de qualidade, eu me arrisco a dizer que Curitiba é atualmente a melhor cidade do Brasil para se fazer cerveja artesanal.

Celso – Você foi o primeiro colocado na categoria oktoberfest/märzen. Mas há outros premiados, com certificados. Poderia falar um pouco deles?
Junqueira – O número de cervejas paranaenses que foram certificadas é a prova cabal de que nosso estado está entre os melhores produtores do país. Foram 12 no total, envolvendo tanto produções da capital quanto do interior. Mas eu prefiro ver esse movimento como um todo, não como uma disputa entre estados. A “concorrência” que existe entre nós cervejeiros é 100% saudável, já que somos todos unidos por uma causa única: fazer cervejas de qualidade. Saber que foram certificadas 70 cervejas (44 bronze, 25 prata e 1 ouro) neste concurso é um motivo de orgulho para as produções brasileiras. Ainda estamos engatinhando no ramo de cervejas artesanais, e ter esse número de certificações significa que estamos no caminho certo! Cada receita certificada, irá abrir caminho para inúmeras outras que estão por vir.

Celso – Muitos deles fazem cerveja na Bodebrown também. Qual a importância de ter uma cervejaria assim, estruturada e que dá apoio aos cervejeiros caseiros, por perto?
Junqueira – A Cervejaria-Escola Bodebrown é sem dúvida o pivô central da “Revolução da cerveja artesanal” em nosso estado. O pioneirismo do trabalho realizado por Samuel Cavalcanti e sua “Família Bodebrown” vem gerando frutos e reconhecimento a nível nacional. E tenho certeza que este é apenas o começo, o futuro promete muito!

Celso – E da sua cerveja, como ela é? Poderia fornecer uma pequena descrição?
Junqueira – O estilo oktoberfest/märzen está entre os mais difíceis de se produzir com qualidade. É um estilo de cerveja alemã de baixa fermentação, com sabores e aromas muito equilibrados e suaves tendendo ao maltado. A cerveja campeã trata-se de um blend de duas levas. Cada receita com características distintas como tempo de maturação, fermento e lupulagem diferente. A primeira é mais seca e amarga, já a segunda tem aroma e sabor adocicado com notas de malte que lembram caramelo e baunilha. Acredito que isso foi o que deu maior complexidade ao produto final. Para chamar a atenção da comissão julgadora em um concurso, é necessário ter algo a mais na receita. Essa foi minha aposta, arrisquei usar procedimentos pouco convencionais e lançar a sorte. Pelo visto deu certo.

Celso – Pretende comercializar algum dia?
Junqueira – Tenho intenções de comercializar minhas cervejas sim. Eu acredito que o mercado merece ter acesso a cervejas artesanais locais, feitas aqui, por gente daqui. No momento estou desenvolvendo minha marca e projetando um novo equipamento que possibilite maior controle e qualidade no meu processo, para então poder lançar um produto artesanal, porém 100% apresentável em todos os aspectos.

Celso – Recebi um link via e-mail com alguns truques de magia… Você é mágico? Esse é o segredo da sua cerveja?
Junqueira – É verdade! Sou eu mesmo ali naqueles vídeos. Eles são meio antigos, fiz sem preparo, só para mostrar para amigos que moram no exterior um pouco do que estava estudando. Eu me considero um amante da arte e, sempre que posso, frequento o meio mágico, desde reuniões de mágicos locais até viagens para congressos internacionais, workshops, conferências, etc. Vez por outra pego um baralho e demonstro alguns dos “mistérios” que conheço para meus amigos. Tudo em nome do entretenimento. A Arte Mágica é um estudo fino maravilhoso! Quando tratado com respeito, é capaz de provocar uma explosão de sensações incríveis. Já na cervejaria não tem carta escondida na manga não.

Celso – Para você, o que é uma boa cerveja?
Junqueira – Eu considero “boa” uma cerveja que tenha algo de interessante para oferecer. Cada estilo tem um momento, um prato, uma companhia, ou uma música para harmonizar perfeitamente. Aprecio muito a diversidade de aromas, sabores e cores que podem ser alcançados combinando maltes, lúpulos e fermentos. Nossa missão como cervejeiros artesanais é, além de produzir boas cervejas, disseminar a cultura cervejeira e o consumo responsável. Nosso maior inimigo é a falta de informação, já que no passado foram as corporações multinacionais que “escolheram” um estilo de cerveja que todas as pessoas teriam que beber. Hoje nós, cervejeiros artesanais independentes, queremos mostrar a todos que existe uma cerveja diferente para cada gosto, e que cada pessoa tem direito de escolher qual mais lhe convém.

Celso – Deixo aqui um espaço aberto para você, Junqueira, falar algo que acha importante e que, de repente, não perguntei. Manda ver…
Junqueira – Apenas tenho a agradecer por tudo que me foi proporcionado. Principalmente a Deus pela vida e por minha família, aos amigos pelos bons momentos, e a minha esposa e companheira Fernanda, que sempre aguenta e apoia minhas invenções, por mais malucas que sejam. Ela é o grande segredo do nosso sucesso!

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