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“Fake news” nos investimentos

É preciso ficar de olho para não cair nos mitos das finanças e perder dinheiro. (Foto: Bigstock) (Foto: )

Elas caíram no gosto do povo e, ao que tudo indica, infelizmente vieram para ficar. Com uma avalanche recente talvez importada dos Estados Unidos, onde o próprio presidente levanta sua bandeira, as “fake news” certamente têm origem em tempos mais longínquos.

Apenas como exemplo, podemos lembrar dos piratas, que, embora tenham levado a fama à la “Breaking Bad”, nunca enterraram seus tesouros de verdade.

Da mesma forma, ainda que tenham se consagrado com uma culinária inegavelmente esplêndida, não foram os italianos os verdadeiros descobridores da massa, provavelmente importada dos árabes ou até dos chineses, esses últimos pelas mãos de Marco Polo.

E é claro que as histórias religiosas também são recheadas de mitos e lendas. Podemos começar pela maçã de Adão e Eva, o tal fruto proibido nunca mencionado efetivamente na Gênesis, ou pela data de aniversário de Jesus Cristo, inventada para o dia 25 de dezembro.

As lendas, os mitos ou as “fake news” – chame do que quiser – existem desde sempre e vão continuar a fazer parte de nossa rotina, em menor ou maior escala, à medida que servirem aos interesses de determinados grupos, na esfera religiosa, política, industrial ou financeira.

 Seara onde eu navego, a financeira está repleta de “fake news” criadas por todo tipo de instituição e investidores mal-informados e mal-intencionados.

Cravar, por exemplo, que a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) levaria a Bolsa a disparar 30% e o dólar a se se reaproximar dos R$ 3, ou, o contrário, que a eleição de Fernando Haddad (PT) afundaria de vez o mercado de capitais e nos faria perder de vista a cotação da moeda americana não passa de chutes, “achismos” mesmo.

Não existe ciência exata por trás de uma previsão de queda ou de aumento do Ibovespa e do dólar, ainda que algumas tendências de curto prazo possam, sim, ser esperadas.

E nem preciso dizer que as “fake news” só prejudicam, ainda mais, o pequeno investidor, ou aqueles que ainda sonham em aplicar no mercado financeiro e que, diante do medo, ficam completamente paralisados e desistem de ir além da superestimada caderneta de poupança.

Aliás, aproveito o ganho dessa queridinha dos brasileiros para começar a lista das maiores “fake news” que vejo pipocar no universo financeiro e que só atrasam o desenvolvimento do nosso mercado.

1 – Poupança é o investimento com retorno mais seguro do país

O tempo passa, o tempo voa, e a poupança há muito tempo deixou de estar numa boa. Mais do que isso, a caderneta, um produto bancário, está bem longe de ser o investimento mais seguro do Brasil.

Ainda assim, as instituições continuam a empurrá-la aos investidores mais leigos e a cometer enormes gafes (ou será maldade mesmo?) ao discorrerem sobre o (pífio) retorno da caderneta.

Desde que a taxa básica de juros caiu abaixo dos 8,5% ao ano, a poupança vem rendendo 70% da Selic mais TR (taxa referencial), sendo que essa última tem estado próxima de zero. Mesmo com o benefício de isenção de Imposto de Renda, a caderneta não consegue bater o rendimento do Tesouro Selic, título público mais conservador; ele, sim, o investimento mais seguro do Brasil.

Para deixar o fato bastante claro, veja com seus próprios olhos como a poupança perde para o Tesouro Selic nos últimos dez anos, mesmo considerando a taxa de custódia do Tesouro Direto e a maior alíquota de Imposto de Renda, de 22,5%, que só incide sobre resgates feitos em até seis meses.

* De 1997 até abril de 2012, foi utilizada a regra antiga de remuneração da poupança (0,5% ao mês + TR). A partir de então, o cálculo considerou retorno equivalente a 70% da meta mensalizada da Selic + TR, quando a taxa Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano.

** Até 31/08/2018.

Fontes: Bloomberg, IBGE e Quantum Axis.

Representado pela cor cinza, o Tesouro Selic superaria a poupança em TODOS os anos num período de 20 anos. Ainda que o Tesouro Direto só tenha começado a existir em 2002, você pode usar o raciocínio para qualquer CDB que pague 100% do CDI.

Como exceção, apenas em 2018 o título público tem andado colado à caderneta, porém com risco ainda menor, do governo. Sim, gostando ou não do governo, seu risco segue menor do que o de um banco. De que outro motivo você precisa para se mexer?

2 – Investir pelos bancos é menos arriscado do que investir pelas corretoras

Mais uma vez, é um atraso pensar que banco é mais seguro do que corretora, quando ambos podem atuar como meros intermediários para os seus investimentos. Em vez de perder tempo nessa disputa besta, preste atenção ao risco do emissor, isto é, para quem você está emprestando dinheiro.

Mesmo com os esforços recentes dos grandes bancos (que finalmente zeraram as taxas cobradas sobre o Tesouro Direto e estão, aos poucos, dando fim às odiosas taxas de carregamento das previdências), as corretoras independentes seguem muito mais vantajosas. Retornos melhores, produtos mais acessíveis e plataformas mais eficientes. O que mais você quer?

3 – Ações não são indicadas para investidores mais velhos

Dos três avós que conheci, dois faleceram no fim de seus 80 anos e ainda tenho a sorte de ter uma avó bem ativa com 92 anos. Se perguntassem a ela no passado se gostaria de investir em Bolsa, até então um mercado bastante desconhecido no Brasil, entenderia sua recusa e seu medo de perder dinheiro num ambiente tão nebuloso.

Mas, se hoje minha avó tivesse seus 70 anos, tenho certeza de que ela seria orientada a refletir melhor sobre sua decisão. Por que deixar todo o seu dinheiro rendendo 6,5% ao ano num fundo DI, num CDB ou em qualquer outro ativo bem conservador, em vez de garantir essa segurança com cerca de 70% do patrimônio, e diversificar o restante entre aplicações de risco que poderão garantir maior conforto nessa nova fase de vida?

Sei que o passado condena a Bolsa, mas o futuro que se coloca hoje é bastante diferente daquele do tempo dos nossos avós. Independentemente da idade, não entendo como algum investidor neste país, por mais conservador e apegado à renda fixa que seja, não consiga dedicar pelo menos um pouquinho do seu patrimônio para ativos de maior risco.

Com uma longevidade cada vez maior no Brasil, se não mudar de cabeça, você terá ainda mais tempo para se lamentar de não ter me escutado antes.

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