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Mercado a sangue frio

Painéis da Bolsa, em São Paulo, na segunda-feira (8) pós primeiro turno das eleições. (Foto: Nelson Almeida/AFP) (Foto: )

Você pode ser aquele tipo de pessoa completamente alheia ao que se passa no tal mercado financeiro, daquelas que aproveitam para pegar um copo de água quando o Jornal Nacional mostra o desempenho da Bolsa no dia ou que entram em pânico quando precisam ligar para o gerente do banco para resolver algum problema.

Pode ser daquele grupo para quem só existe a poupança e o “resto”, ou que só se lembra da existência do dólar quando precisa viajar.

Por mais indiferente que você seja a esse universo, contudo, o fato é que, se você acessa a internet, utiliza redes sociais ou assiste televisão, deve ter notado que o principal grupo a comemorar os 46% de votos válidos conquistados por Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno foi o mercado financeiro.

Pense nos grandes investidores, gestores de fundos e de grandes fortunas, em quem dita o rumo do dinheiro nesse país. A preferência do eleitorado brasileiro e a expectativa de vitória acachapante do candidato do PSL no segundo turno serviram de estopim para o nervosismo despencar e o mercado ir às compras de ativos de risco no início da semana.

O Ibovespa, referencial da Bolsa brasileira, subiu nada menos que 4,6%, de 82.321 para 86.087 pontos, com giro recorde de R$ 24,6 bilhões apenas na segunda-feira (8), dia seguinte ao primeiro turno. Já o dólar caiu 3,2% em dois dias, com a cotação passando de R$ 3,84, na sexta-feira, para R$ 3,72 ontem.

Todo mundo feliz com a Bolsa, aproveitando para comprar moeda americana e realizando lucros com a venda de títulos públicos, cujas taxas também caíram.

Goste ou não, concorde ou não, esse tal do mercado não está nesse mundo para demonstrar sentimento.

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Frase atribuída ao megainvestidor George Soros já dizia que ele era um ser humano antes de ter se tornado um homem de negócios. O mercado é pragmático e não admite ideologia que contrarie o capital.

E nunca antes na história desse país tantas figuras ilustres desse meio estiveram tão à vontade para expressar suas opiniões – e para atirar pedras naqueles que discordam delas. Basta dar uma olhada nas postagens do Twitter para se dar conta disso.

Em outros tempos, jornalista penava para arrancar umas poucas declarações sobre a influência da vitória ou da derrota de um candidato sobre os mercados financeiros. Hoje ele nem precisa se dar ao trabalho de ligar para as fontes…

Sobre propósitos e interesses

Convenhamos, o mercado não existe neste mundo para debater direitos humanos ou preconceitos, tão pouco políticas de meio ambiente ou de cotas. O mercado tem como finalidade única e exclusiva fazer dinheiro.

Não me leve a mal, não estou aqui para fazer julgamentos, apenas destacar o que está em jogo. Nunca se prometeu nada diferente disso.

Portanto, se você espera do seu gestor ou do seu banco algum tipo de posicionamento ou ideologia próxima à sua, melhor mudar de ramo.

Melhor abandonar seu CDB, sua LCI ou LCA, porque, ao comprar esses produtos, você está emprestando dinheiro para os grandes banqueiros desse país. Ah, e sabe aquele fundo de ações que está disparando neste ano, cravando em cheio as apostas, dica daquele assessor bacana da corretora?

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O gestor por trás dele pode ser um excelente estrategista e, ao mesmo tempo, ter posições completamente divergentes das suas, inclusive propagando informações infundadas para convencer seguidores a votarem em seu candidato. Até que ponto você se importa de fato com o que ele pensa, se estiver aumentando substancialmente seu patrimônio?

Em tempos de extremismo exacerbado, é preciso ponderar que não se pode ter tudo na vida. E que talvez você tenha que fechar os olhos para o que lhe incomoda para jogar o jogo.

Até onde você está disposto a ir para ganhar dinheiro?

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