Deu na imprensa nessa semana: o número de investidores do Tesouro Direto triplicou depois de os grandes bancos finalmente acompanharem as corretoras independentes e zerarem a detestada taxa de administração cobrada de seus clientes.
O movimento mais do que aguardado levou o volume de novos investidores do programa a saltar da casa dos 11 mil para mais de 30 mil por mês. Em novembro de 2018, período com os dados mais recentes, o Tesouro Direto contava com 752.094 investidores ativos (que efetivamente compram e vendem títulos públicos), 186 mil a mais que ao fim de 2017.
Provavelmente fecharemos o ano de 2018 com mais de 200 mil novos aplicadores do Tesouro Direto, o que é ínfimo para o tamanho da população brasileira, é claro, mas muito representativo para a parcela que efetivamente investe no país.
Grandes bancos, como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, têm uma influência tremenda sobre seus clientes. Embora tenham surgido outras fontes relevantes de consulta, os gerentes dessas instituições financeiras continuam a ser vistos como uma importante base para a tomada de decisões.
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Mas não se engane. Mesmo com a iniciativa desses bancos de deixarem de cobrar a infeliz taxa de administração sobre o Tesouro Direto, não espere que os títulos públicos sejam oferecidos com entusiasmo pelo seu gerente. E não é culpa dele! Nem o banco nem ele recebem nada pelo seu investimento no programa.
Portanto, mais fácil (leia-se, mais rentável) empurrar para o cliente um fundo de renda fixa, como os do tipo DI, que carregam títulos públicos, nos quais há a cobrança de uma taxa pelo serviço de administração e gestão.
Cada um luta pela sua parte e eu, no papel de planejadora financeira, tenho um só lado: o seu.
Portanto, em meio a toda essa discussão sobre mais pessoas investindo em títulos públicos, com o total de aplicadores encostando no número da Bolsa, a grande pergunta que muito iniciante se faz é se ainda vale a pena investir no Tesouro Direto.
E a resposta é SIM.
Título público ainda vale a pena?
O programa continua com títulos públicos atrativos, ainda que as oportunidades não estejam mais tão interessantes para quem só tem olhos para o curto prazo.
Em 2018, teve investidor que conseguiu lucrar 18% apenas com a venda de um título público – o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 -, superando, dessa forma, o excelente retorno de 15% da Bolsa brasileira.
Difícil imaginar que esse movimento se repita, ao menos nessa magnitude, em 2019, afinal, o processo de corte da taxa básica de juros parece já ter chegado ao fim e, neste momento, o mercado se questiona sobre o momento de subida de elevação da Selic.
Mesmo que o otimismo do mercado financeiro se consolide e o Brasil não volte aos patamares elevados de juros de um passado nada longínquo, é de se imaginar que serão necessárias algumas elevações da Selic para controlar a inflação no futuro.
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Na prática, quem tiver uma parcela do dinheiro investido em papéis pós-fixados, como o Tesouro Selic, poderá ver os rendimentos aumentarem, porém mantendo-se conservador.
Por outro lado, mesmo com a queda das taxas pagas pelos papéis do tipo Tesouro IPCA+, eles continuam atrativos para quem estiver de olho no longo prazo, numa aposentadoria.
Títulos desse tipo com vencimentos em cerca de 15 ou 25 anos estão pagando um retorno da ordem de 4,6% ao ano, mais a inflação. Se você conseguir criar o hábito de investir todo mês um pouquinho nesses papéis, terá condições de fazer uma boa reserva para o futuro.
Façamos um cálculo hipotético.
Considerando um investimento da ordem de R$ 1 mil ao mês no Tesouro IPCA+ por 15 anos, com uma taxa de juros perto de 4,6% (lembre-se que esse retorno é estimado, já que ele muda todos os dias) e uma inflação média de 4% ao ano, seria possível resgatar ao fim do período mais de R$ 360 mil.
O cálculo é absolutamente aproximado, até porque cada aporte feito no Tesouro Direto é contabilizado de maneira independente e as taxas estão sempre sujeitas a mudanças, mas ajuda a entender o efeito dos juros no longo prazo.
Uma preocupação no radar
A única ressalva que faria hoje sobre os títulos vendidos no Tesouro Direto recai sobre os papéis com rentabilidade prefixada. Os retornos já diminuíram bastante e, se a atividade brasileira voltar a crescer e puxar a inflação, o risco sobre esses títulos públicos ficará muito alto. O investidor continuará com a mesma taxa de retorno, porém com uma inflação potencialmente maior, o que vai prejudicar sua rentabilidade final. Pelo menos por ora, não vejo razão para se correr esse risco pensando no longo prazo.
O Tesouro Direto parece, mas não é um bicho de sete cabeças. Dá um pouco de trabalhar começar, é verdade, mas não existe melhor maneira de aprender do que investindo. Mãos à obra!
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