Um milhão pela resposta à pergunta que vale ouro neste momento: para onde vai o dólar?
Sejamos sinceros. Mesmo ciente de que estamos em um ano eleitoral, tradicionalmente um ímã de nervosismo para os mercados financeiros, você não botou fé na forte valorização da moeda americana.
O dólar começou o ano próximo de R$ 3,30, perdeu fôlego em janeiro, mas, entre fevereiro e junho, não deu trégua e só avançou em relação à divisa brasileira (com queda apenas em julho), chegando à cotação de R$ 4,14 nessa terça-feira (28).
Estamos falando do maior valor desde janeiro de 2016 e de uma alta de 10% só em agosto. No ano, o dólar acumula apreciação de nada menos que 27% em relação ao real.
VINTE E SETE POR CENTO.
Teve ameaça de guerra entre Estados Unidos e Coreia do Norte, tensões comerciais com a China, em meio a novas discussões envolvendo medidas protecionistas; houve preocupação com o ritmo de subida dos juros americanos, o que poderia incentivar um movimento mais rápido do que o esperado de realocação global em dólar; e teve aceno da Europa no sentido de diminuir gradualmente os estímulos econômicos, também com impacto sobre o fluxo de recursos vindo para os emergentes.
E o noticiário não parou ali. A crise turca se deflagrou e já teve reflexos sobre outros mercados, enquanto, no Brasil, a paralisação dos caminhoneiros tomou proporções muito maiores do que se imaginava e as eleições presidenciais começam a pegar fogo.
Ainda assim, você segue confiante na sua bola de cristal.
Continua à espera do “momento ideal” para comprar (ou vender) dólar.
Veja, não se trata do clichê do “bye, bye” à Disney. Nem de adiar os planos de fazer um curso no exterior ou de montar um sonhado enxoval em Miami.
A relevância do dólar não deveria se limitar a esse tipo de situação. Se você pretende investir minimamente bem, precisa ter em mente que uma exposição mais diversificada do seu patrimônio deve obrigatoriamente passar pela alocação cambial.
Da mesma forma como, independentemente do patamar dos juros brasileiros, vale a pena dedicar uma parcela do seu dinheiro a ativos de maior risco, como ações de empresas brasileiras, é fundamental evitar a concentração dos recursos em uma só moeda.
Veja, a ideia não é ficar rico com o dólar, mas, sim, olhar para a moeda como um seguro para a sua carteira. Se suas principais posições de investimento tiverem desempenhos negativos em determinado momento, é esperado que o dólar tenha uma trajetória oposta, compensando parte das perdas.
É como um seguro de carro ou de casa. Você torce para não acionar a seguradora em nenhuma circunstância, mas dorme tranquilo ao saber que tem a proteção. Just in case…
Só sei que nada sei
A imprevisibilidade cambial só reforça nossa fragilidade como investidores, até mesmo daqueles no grupo dos mais experientes.
“A taxa de câmbio foi inventada por Deus para humilhar os economistas”, afirmou uma vez Edmar Bacha, economista e um dos formuladores do Plano Real.
É fácil presumir que o dólar está caro ao concentrar a “análise” na mera observação da alta de 27% acumulada neste ano.
Mas caro ou barato são conceitos relativos. E nem precisa ir muito longe para lembrar disso.
Em 2002, na eleição que levou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência, a moeda americana subiu nada menos que 53% e o Ibovespa caiu 17% (ou 45,5% em dólar). Já no ano seguinte, o movimento foi o oposto. Enquanto o dólar caiu 18,3%, a Bolsa cravou uma valorização de 97,3%.
Quem poderia imaginar?
N-I-N-G-U-É-M.
Mas qualquer um poderia se aproveitar dos movimentos, mesmo que em menor escala.
Mais importante do que tentar adivinhar o rumo dos ativos financeiros é ter humildade para reconhecer que não nascemos com este “superpoder”.
E é justamente essa nossa incapacidade que nos ajudará a encarar de maneira mais pragmática o incerto e escolher o caminho da diversificação, dedicando pelo menos uma pequena parte do nosso dinheiro a ativos mais arriscados como o dólar.
Que tal?
Foto do topo: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo.
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