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Tem que manter o ceticismo aí, viu?

O caminho para conquistar a confiança de fora sobre o país é longo. É preciso esperar as ações do novo presidente, Jair Bolsonaro. (Foto: Mauro Pimentel/Gazeta do Povo) (Foto: )

Dias de comemoração para alguns, de lamento para outros, de reflexão para todos. Você pode até não querer admitir, mas convenhamos que há um certo tom de ressaca no ar. Feliz ou frustrado com a vitória de Jair Bolsonaro para a Presidência, o brasileiro encerra essa temporada eleitoral com um sentimento amargo diante de tantas brigas, acusações, das polarizações assumidas e da dificuldade de diálogo, para manter o discurso polite, entre aqueles que defendem posições diferentes.

Foi uma eleição singular, para dizer o mínimo, e a reação do mercado financeiro no day after não poderia ter sido mais sintomática, com a queda de 2,2% do Ibovespa, principal referencial da Bolsa brasileira, e a alta de 2,1% do dólar. Realização de lucros, ajuste de posições, cenário externo. Justifique como você quiser, mas a verdade é que grande parte do mercado estava alavancada e à espera de um baita pregão na segunda-feira (29). Não deu.

O movimento oposto significa que o humor azedou? É evidente que não. Ele só reforça a imprevisibilidade do comportamento dos mercados. Há sempre uma pitada de irracionalidade que não pode ser descartada, mesmo quando todos os sinais apontam para uma só direção. Os bons investidores estão sempre preparados para os chamados “cisnes negros”.

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“Estou otimista em relação às perspectivas para o Brasil, considerando o estado da economia e do mercado, mas teremos que esperar e ver se as promessas de campanha de Bolsonaro realmente se tornarão políticas. Ele não votou historicamente em medidas econômicas conservadoras durante seus mandatos no Congresso e ainda não foi testado, então ainda há alguma incerteza. Mas, na nossa opinião, o Brasil tem muito potencial de crescimento.”

A declaração, em nota, de Frederico Sampaio, da gestora Franklin Templeton, reforça o discurso repetido por grandes investidores desde o resultado das eleições. Mesmo com uma provável lua de mel do mercado financeiro com Bolsonaro, há muito a se acompanhar. E o que você, investidor, precisa levar em consideração para se posicionar daqui para a frente?

O ceticismo. Independentemente de sua torcida.

Nem a reforma da Previdência, nem um maior controle sobre o câmbio, tampouco as possíveis privatizações serão responsáveis, sozinhas, por aumentar seu patrimônio. Ainda que as regras previdenciárias mudem, a necessidade de construir por sua conta e risco uma renda a ser desfrutada na aposentadoria segue latente. Já passou da hora de avaliar o custo e o desempenho de sua previdência. Isso se você já tiver compreendido a necessidade de ter um plano.

Você sabia que, neste ano, nem metade (só 46,4%, para ser exata) dos fundos de previdência aberta – aquela cujos planos você contrata em seguradoras, não os fundos de pensão oferecidos pelas empresas ­– ganha do CDI, o principal referencial da renda fixa no Brasil? Em dez anos, uma bela base histórica, a fatia dos fundos vencedores cai para míseros 15,4%.

Também não deveria precisar dizer que não dá mais para concentrar todo o seu patrimônio na renda fixa. Mas você vai ter que escolher bem na mão de quem quer colocar o seu dinheiro.

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Mesmo com a alta de 3,5% do Ibovespa neste ano até setembro, os fundos de ações livre (aqueles que não têm compromisso de se concentrar em uma estratégia específica, com maior liberdade para atuar) tinham retorno médio de apenas 0,47%.

Investir em Bolsa dá trabalho, exige seletividade. Cada fundo tem uma estratégia e cabe a você estudá-la antes de colocar o seu dinheiro. A equipe de Bolsonaro poderá até dar aquele empurrão na economia, mas não vai te dizer onde investir.

Por fim, peço encarecidamente para não se esquecer daquela fatia de câmbio no seu portfólio. Eu sei que você acha que não vai ter mais que protegê-lo, afinal, o dólar caía 8% em outubro, até o dia 30. Mas quem fez seguro deve estar pra lá de satisfeito em ter destinado alguma parte do patrimônio a um fundo cambial, diante da alta de mais de 11% da moeda americana no ano, que certamente compensou o desempenho ruim de outros ativos.

Construir um bom patrimônio dá trabalho. E nenhum presidente vai assumir essa tarefa na sua vida.

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