Num clima eleitoral que beira o insuportável, bem do tipo “Fla x Flu”, preciso admitir uma surpresa positiva: nunca vi tanta gente discutir e compartilhar ideias e propostas sobre economia e finanças.
Embora ainda acredite (na base do “achismo” mesmo) que a maior parte das pessoas vote mais com a emoção do que com a razão e que uma parcela irrisória se debruce a fundo no programa de governo de seu candidato, me animo ao ver esse burburinho que a pauta econômica tem provocado na disputa atual.
Não sei se de fato as pessoas compreendem as diferenças de propostas, mas me entusiasmo (ingenuidade minha?) ao ver gente leiga ou distante da economia no dia a dia se questionar sobre o quão viável é a promessa de zerar a dívida pública com a privatização de estatais; o que significaria alterar o mandato e mexer na independência do Banco Central; o que efetivamente pode ser feito para se manter os juros num patamar tão baixo; e como ter um estado menos intervencionista, mas mantendo-se subsídios relevantes à população mais carente.
Essas são só algumas das tantas questões para as quais os interessados no debate estão buscando respostas.
Sinto dizer, contudo, que você não sairá satisfeito e esclarecido ao ler os superficiais programas de governo, ou ao assistir aos tantos programas de televisão com participação de assessores econômicos, mais úteis para embalar um soninho…
Por ora, e tendo a acreditar que até a eleição também, pouco se aprofundará em qualquer tema estrutural e certamente muitas promessas poderão ser revistas depois da consolidação de uma vitória. Basta observar as desavenças em plena campanha entre o principal candidato nas pesquisas e seu futuro ministro da Fazenda.
Chutes e palpites de lado, o fato é que alguns tópicos estão ganhando corpo entre as discussões de diferentes partidos. E é importante que você entenda o que elas podem representar (e até já estão representando) para o seu bolso.
Previdência
Pode-se até contestar a proposta atual de reforma, aquela que o presidente Michel Temer prometeu colocar em votação logo após as eleições. Mas é de se esperar que alguma mudança mais significativa venha pela frente, neste ou no próximo governo.
Independentemente dos termos votados e da duração do processo no Congresso, a verdade é que você precisa se mexer, leia-se, formar sua própria poupança de longo prazo, ainda que o governo possa contribuir em alguma medida no futuro.
Seja num bom plano de previdência, com taxa de administração baixa (não muito além dos 2% ao ano) e sem taxa de carregamento, seja formando uma carteira de ações e/ou de títulos públicos. Ontem mesmo o Tesouro IPCA+ estava com um prêmio de 6% ao ano, a maior taxa desde maio de 2017, após o “Joesley Day”. Excelente oportunidade para reforçar sua reserva para a aposentadoria!
Juros/Inflação
Em seu menor patamar histórico, sinto dizer, é esperado que a taxa Selic suba em algum momento, possivelmente quando a economia acentuar o ritmo de retomada, se houver maior desvalorização da moeda brasileira e/ou piora no cenário de risco, com impacto relevante sobre a trajetória da inflação.
A expectativa do mercado financeiro já aponta hoje para os juros básicos em 8% ao ano ao fim de 2019, acima dos 6,5% atuais.
Na prática, o que isso quer dizer? Que embora papéis com retornos prefixados (aqueles conhecidos já no momento da aplicação) possam estar com prêmios atrativos hoje, é importante que pelo menos uma parte do seu investimento esteja alocada em ativos com rendimento pós-fixado, atrelados ao CDI ou à inflação, como uma proteção. Está lembrado dos 6% ao ano que o Tesouro IPCA+ está pagando?
Colchão reforçado
Independentemente de se identificar mais com um candidato liberal ou intervencionista, o investidor brasileiro deve estar minimamente preocupado com os rumos que o país poderá tomar a partir de janeiro de 2019.
A incerteza que ronda as plataformas de governo, o desconhecimento econômico de alguns candidatos e a insegurança com relação à adoção de medidas populistas sem respaldo econômico unem os eleitores e deveriam ter um só efeito no bolso: um reforço à reserva de emergência.
Sabe aquele dinheiro que você deixa aplicado em um investimento de alta liquidez e sem prazo de carência, reservado para emergências?
Em meio a tanta desconfiança, esta é uma hora oportuna para aumentar esse caixa, preferencialmente em Tesouro Selic, fundos DI com taxas de administração abaixo de 0,3% ao ano (procure em corretoras independentes) ou em bons CDBs que paguem ao menos 100% do CDI e tenham liquidez diária (normalmente disponíveis em bancos médios).
Não só você vai garantir um sono mais tranquilo, como poderá aproveitar algumas oportunidades de curto prazo que têm surgido neste cenário mais incerto. Devo lembra-lo mais uma vez do Tesouro IPCA+ pagando 6% ao ano?
Não deixe que as discussões com amigos e familiares em torno do “melhor” candidato impeçam você de ser racional com seu dinheiro. Enquanto as pessoas se digladiam e perdem o foco, o futuro vai ficando cada vez mais nebuloso. Ainda que o seu escolhido vença essas eleições, esperar milagres financeiros de um novo governo só trará frustrações.