Ouça este conteúdo
Em 2018, o diretor Gustavo Vinagre participou da mostra Fórum da Berlinale com seu filme “A Rosa Azul de Novalis”, que foi indicado ao Teddy de melhor documentário.
Nesta 70ª edição do Festival, ele está de volta com “Vil má”, na mesma Fórum da vez passada.
Em entrevista à Gazeta do Povo Vinagre falou da emoção de retornar à Berlinale com seu novo filme.
“Estou muito feliz, é a segunda vez consecutiva na mostra Fórum, e sinto que meus filmes são muito bem acolhidos em Berlim. Num período tão conservador mundial e do Brasil, acho importante não fazer concessões artísticas e a Fórum acredita e abraça esse tipo de arte”.
Sobre a motivação para ter feito “Vil’má” – que foi gravado em 2013 e só finalizado este ano – o diretor contou que ela veio de sua completa admiração pela escritora Wilma Azevedo.
“Ela é uma mulher que se orgulha de sua sexualidade e, aos 80 anos de idade, deu a cara a tapa escrevendo contos eróticos sadomasoquistas nos anos 1970 e 1980. O filme é uma continuação direta do meu primeiro curta-metragem, “Filme para poeta cego” (2012, Rotterdam), que já é uma investigação sobre sadomasoquismo, e as forças de poder entre diretor e personagem, entre real e ficção. São dois filmes sobre fantasia e trabalho literário”, contou Vinagre que conheceu Wilma justamente numa sessão do seu curta anterior no festival Mix Brasil.
“Ela vestia veludo azul e saltos altos, me pegou pelo braço e disse: preciso lhe contar minha vida, sou amiga do Glauco Mattoso (o personagem do “Filme para poeta cego).
Ela então me contou sua vida e eu fiquei hipnotizado. E, como se não bastasse, me mostrou um dos sonetos de Glauco dedicado a ela “A Wilma Azevedo” e um dos versos me fez ter a certeza da clarividência do poeta cego, bem como como a certeza de que eu faria “Vil, má”.
A estrofe do soneto, que é muito anterior ao meu curta sobre Glauco, dizia:
“A tia da Tiazinha é dona Wilma,
Que é vil e má no tipo que criou,
Mas boa, quase casta, como sou
No olhar do Cineasta que nos filma.”
Vinagre está bastante otimista quanto aos resultados que o filme terá não só aqui em Berlim, mas também com os espectadores mundo afora. “Os alemães são muito carinhosos e abertos à diversidade. Gente que já passou pelo fascismo que estamos vivendo no Brasil atual, e sabe que é necessário ouvir o outro. A Wilma fala bastante durante o filme e tenho certeza que cada uma de suas palavras será escutada”, desejou o talentoso cineasta carioca de 35 anos.